Tenho dois, somos uma família de 4, e estamos felizes.
Todos me perguntam quando vem a menina, que não há duas sem três, e que com dois rapazes terei mesmo que ter um terceiro, uma menina.
Na verdade, estou bem com a minha família de 4. Estou bem em ser a única menina numa casa de meninos. Há algo de bom em ser a rainha do palácio, em ter miminhos e beijinhos, em receber elogios constantes e em certos privilégios que só uma mãe de meninos sabe quais são.
Temos a nossa vida já bem definida e estabilizada, os processos e rotinas já mecanizados, os horários já alargados e os miúdos já independentes (dentro da independência que um de 5 e outro de 2 são aptos de ter).
Já conseguimos ir jantar fora, dormir até (mais) tarde, saltar (algumas) sestas, (alguns) jantares prolongados e gozar de umas escapadinhas de fim?de?semana.
Já conseguimos abdicar de parafernália aparatosa necessária para a mobilidade dos mais pequenos, já conseguimos perceber qual a doença que atacou sorrateiramente durante a noite, já conseguimos decifrar vontades e quereres, e abdicar de comidas especiais desenxabidas. Só nos falta as fraldas, mas já temos uma meta em vista.
Já somos portáteis e semi autónomos e isso sabe bem.
Somos completos, mas lá no fundo sinto que ainda há lugar para mais um (ou uma). Somos completos e felizes, mas inconscientemente, muito inconscientemente mesmo, não sinto que estamos fechados. Tenho dois irmãos, mais novos, e a casa estava sempre cheia. Gosto disso. Gosto do entrar e sair de pessoas, de ter a sala com desenhados animados e música pop na aparelhagem.
Ter conversas de papa e cereais ao pequeno-almoço e um jantar mais tardio de adulto, com problemas típicos dos (quase) jovens de hoje. Gosto de entrar no mundo do faz de conta e dar um passo e tropeçar no mundo teen. Gosto da ideia de ter o médio, o pequeno e o mini agarrados à minha perna.
Somos 4, mas talvez, e a se a vida deixar, se a família quiser, quem sabe, podemos ser 5.
Marta Andrade Maia
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