Tinha 26 anos quando a minha filha mais velha nasceu. E, por mais que tivesse frequentado aulas de preparação para o parto e lido quase todo o espólio de livros de puericultura, a verdade é que, naquele quente 13 de junho, me pareceu ter um ET no colo. A bebé era linda, perfeita e tudo o que eu mais desejava, mas eu sentia-me a um passo de Golias de saber lidar com ela.

Assumi desde o primeiro segundo as tarefas maternas e quis que o banho, a muda de fraldas e a troca de roupas se fizessem pelas minhas mãos. Mas não me senti confortável, crente de que, ao menor movimento, lhe partiria um membro.

Hoje, quando uma amiga me disse que não sabe cuidar da filha recém-nascida, recuei 15 anos. Por isso, para esta minha amiga que conheço desde o tempo das peúgas pelos joelhos, deixo algumas palavras que não consolam. Apenas generalizam.

• Na verdade, não sabes nada. Mas depressa vais ficar a saber (quase) tudo. O que ela quer quando mais ninguém descodificar o seu choro. O que ela precisa quando um esgar invadir o seu rosto.

• As noites são caóticas. É lindo – maravilhoso, mesmo! – acordar com os gemidos discretos de um recém-nascido. Mas chegará o momento em que as noites vão parecer o mais psicopata assassino a espreitar no vão da escada. Em que só queres dormir três horas seguidas. Em que o pai pode ser acordado com um grito de súplica em tom de ordem. A boa notícia? Isto passa. E depressa vais começar a descansar e (qual heresia!) a ter saudades das noites em que acordavas com um corpo pequenino que apenas precisava do teu peito.

• Há dias em que simplesmente não apetece. Ter filhos é muito giro, mas também pode ser (muito!) esgotante. E não interessa se tens um ou 20. Vai haver alturas em que apenas te apetece meia hora de sossego. Ou, vá, que ela fique um dia inteiro em casa dos avós.

• Os outros podem ser uns paspalhos. Toda a gente acha que sabe tudo. Por isso, não te surpreendas quando as avós insistirem que as fraldas modernas provocam irritação cutânea, quando a vizinha te disser que os soluços se vencem com uma colherzinha de whisky ou quando eu te “vender” que ela ganha imunidade se a deixares andar pelo chão. Ignora-nos e faz, com bom senso, aquilo que sentes – e sabes! – ser melhor.

• Nem tudo é fofinho. Os cocós, as diarreias e os bolçados têm de tudo menos de romântico. Tal como as noites em claro, os choros compulsivos e as malfadadas cólicas. Mas não te esqueças que não é por mero acaso que os votos matrimoniais ditam partilha nos bons e nos maus momentos, sim?

• Pois, não és a super mulher. Por mais que sejas fantástica e consigas fazer tudo sozinha, tens limites. E mereces descansar. Partilha, responsabiliza, divide. Goza uma noite de paz e deixa a menina aos cuidados dos avós. Tira uma hora para ir ao café e deixa-a em minha casa (aberta 24 horas por dia para ti e para a tua filha!).

• Deita fora (não a miúda, claro!). Se for preciso, grita, chora, esperneia e telefona aos amigos de madrugada (já te disse que me deito sempre tarde?). Não guardes, não acumules, não te obrigues a ser a mãe do Ruca (ainda acho que, no final do programa, ela saca do chicote para pôr o miúdo na linha).

• Prepara-te para o pior. Porque, mesmo que nem sempre seja fácil, vais acabar por te surpreender. Com um amor único, desmedido e sem limites que te vai fazer sentir a pessoa mais abençoada do universo.

Prende-te, sobretudo, ao último ponto. Porque depressa vais perceber que tudo o resto são cascas. Daquelas que incomodam, mas que vão saindo com o tempo, dando lugar a uma ‘pele’ em que parece que sempre tocámos. Sem dúvidas, sem hesitações, sem (tantas) incertezas.

Bem-vinda a este maravilhoso (e terrível) mundo novo, minha querida amiga. Podes não te sentir a melhor mãe do mundo. Mas serás, com toda a certeza, a melhor mãe que a tua filha poderia ter.

Alda Benamor