Lembro-me, embora remotamente, que antes de termos filhos tínhamos conversas variadas e interessantes, sobre locais giros que fomos, restaurantes novos que abriram, viagens que aspiramos fazer e um mundo de sonhos ainda por concretizar. Também me lembro que íamos jantar fora assiduamente, e no fim ainda tinha coragem para dar um saltinho ao novo bar ou a discoteca mais recente. Lembro-me que conseguia ficar acordada até às quinhentas, a dançar a noite toda, e a conversar ao telefone horas a fio. Ainda conseguimos fazer programas improvisados, à ultima hora, que eram normalmente os mais divertidos. Nas redes-sociais colocávamos fotos dos sítios incríveis que estivemos ou das aventuras que tivemos. Não me cansava, não tinha sono, e quanto mais programas ao fim?de?semana melhor!
Depois casei. Não mudou muito, tirando o óbvio facto que vivia com o meu marido e não com os meus pais. Alguns jantares foram substituídos por jantares em casa de amigos, e até íamos ao cinema a meio da semana. Continuámos a sair, a ir ao cinema, a jantar fora e a dançar até o sol nascer. E ainda era melhor, pois não tinha o problema de chegar e acordar os meus pais já às tantas horas da madrugada.
Depois veio a gravidez, e rapidamente abrandou o passo. Jantávamos ou em casa com amigos ou fora, mas era raro ir dançar . Cinema ia, até deixar de ter posição na cadeira, e as conversas ao telefone mantinham-se. Mesmo quando estávamos com amigos, conversávamos imenso, sobre os mais variados temas e assuntos, viagens que já conseguiram fazer, outras que ainda estavam guardadas para o futuro, quem ia casar, quem ia ser pai, onde jantaram, onde compraram isto e aquilo. Conversas grandes, mas que já se deixavam deslizar para o tema "bebé" e todo o mundo associado a ele.
Passados nove meses, veio o bebé. E passados 3 anos veio outro.
As noites de sexta-feira já são passadas em casa, a jantar, a família completa. As noitadas deixaram de existir, a não ser que um esteja doente. O cinema foi substituído pelo canal panda e depois das 21h pelo FOX e AXN. Por vezes, quando ainda não tenho sono, aluga-se um filme pela MEO, e contamos aos nossos amigos o enredo como se de uma estreia de cinema se tratasse. Os jantares são mistos, entre adultos,crianças, e bebés. E acabam cedo, não por culpa das crianças (pois esses têm pilhas duracel), mas pelos pais que têm sono. As conversas passaram a ser na sua grande parte sobre os filhos, habilidades que fazem, asneiras que se lembraram, doenças que já tiveram, como comem ou dormem, ou como é o cocó e quantas vezes o fazem.
Agora nas redes-sociais colocamos a aventura do primeiro passo, a magia da primeira palavra, ou simplesmente uma fotografia para mostrar o quão babados estamos.
Os programas noturnos foram substituídos por programas matinais, e matinés que geralmente envolvem relva, parques, praia, triciclos e depois uma sesta. Os programas de adulto são pré-agendados com muita antecedência e mesmo assim nunca se sabe quem ou quantos é que realmente se vão sentar à mesa. E quando conseguimos ir mesmo jantar fora, jantar de adultos, com a noite livre até de madrugada, começa a chegar o João Pestana, e regra geral, preferem todos ter uma noite bem dormida do que bem dançada.
Passamos mais tempo com os nossos amigos durante o dia, e menos à noite. Acompanhamos o crescimento dos seus filhos, que de uma certa forma forma são também um pouco nossos, estamos lá nos momentos mais marcantes da vida de qualquer adulto, o nascimento, o batizado, os aniversários... Tornámos-nos mais carinhosas, mais meigas, mais maternais, quer com os nossos filhos quer com os dos outros, percebemos melhor a nossa mãe, somos mais seguros e mais conscientes. Sentimos a nossa casa, como o nosso palácio, nosso reino.
Se a minha vida mudou? Mudou! Mudou muito.....mas para muito melhor!
Marta Andrade Maia
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