Os advogados de Virginia Giuffre, a americana que o acusou de abuso sexual quando tinha apenas 17 anos, anunciaram na terça-feira que as duas partes alcançaram um acordo financeiro confidencial que permite a André, de 61, escapar da vergonha de um processo.

E agora aparece a questão de quem irá pagar a conta elevada.

De acordo com a imprensa britânica, André poderia vender o seu luxuoso chalé suíço por 18 milhões de libras (21,4 milhões de euros), mas ainda teria que pagar uma dívida significativa por esta aquisição, feita em 2014.

O jornal conservador Daily Telegraph afirma que a rainha Isabel II deve contribuir para o pagamento com uma parte dos seus recursos.

Virginia Giuffre, de 38 anos, é uma das vítimas do bilionário americano Jeffrey Epstein. Declarado culpado de pedofilia por um tribunal da Flórida, este cometeu suicídio numa prisão de Nova Iorque em 2019, quando aguardava um novo julgamento por tráfico e abuso de menores.

A amizade de André com o empresário, que defendeu numa controversa entrevista em 2019, provocou um escândalo que já havia obrigado o filho de Isabel II a abandonar a vida pública.

O filho da rainha sempre negou as acusações e disse que se defenderia. Provavelmente por este motivo, a imprensa sensacionalista britânica mostrou-se extremamente irritada com o acordo extrajudicial.

"Um homem verdadeiramente decidido a limpar o seu nome de acusações tão atrozes teria lutado com unhas e dentes", afirma um editorial do jornal The Sun. "André está acabado", completa o meio de informação, ao afirmar que este "deve abandonar por completo a vida pública e viver a sua reforma em ignomínia".

Investigação na fundação de Carlos

Para o advogado britânico Mark Stephens, especialista em questões de reputação do escritório londrino Howard Kennedy LLP, "a maioria das pessoas vai observar com espanto o pagamento por danos e prejuízos a alguém que o príncipe André diz nunca ter conhecido".

O filho da rainha "preservou, em certa medida, a dignidade da família real (...) mas acredito que nunca voltará à vida pública", afirmou à Agência France-Presse (AFP).

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Isabel II desejava encerrar um escândalo especialmente embaraçoso para a família real no ano em que celebra o seu Jubileu de Platina - 70 anos de reinado -, com uma campanha que pretende reavivar o amor dos britânicos pela monarquia.

Para proteger a instituição, André perdeu as suas honras e títulos militares em janeiro e não pode mais usar o título de Alteza Real.

Mas os escândalos não param na família real: esta quarta-feira, a polícia britânica anunciou a abertura de uma investigação sobre a fundação do príncipe Carlos, o filho mais velho da monarca.

Embora o caso não envolva diretamente o herdeiro ao trono, de 73 anos, suspeita-se de que o seu ex-ajudante de ordem Michael Fawcett tenha usado as suas influências para ajudar o empresário saudita Mahfouz Marei Mubarak bin Mahfouz a ser agraciado com uma condecoração real. O título foi depois usado para obter o seu pedido de cidadania britânica, em troca de generosas doações.

"Debaixo do tapete"

"No caso de André, parece-me horrível que tudo tenha sido escondido debaixo do tapete", declarou à AFP Yasmine Ollive, uma executiva do setor de contabilidade de 34 anos.

Nas proximidades do Palácio de Buckingham, Collin Gilbert, um turista americano de 53 anos, afirmou que "percebemos há muito tempo que a monarquia tem esqueletos no armário".

Os termos financeiros do acordo confidencial não foram revelados, mas o tablóide Daily Mirror afirma que o príncipe irá pagar 12 milhões de libras (14,3 milhões de euros): 10 milhões de libras (11,9 milhões de euros) a Virginia Giuffre e 2 milhões de libras (2,3 milhões de euros) à instituição de caridade que criou no ano passado para ajudar vítimas de tráfico sexual.

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Outros jornais afirmam que o valor do acordo seria inferior. The Guardian cita mais de 7 milhões de libras (8,3 milhões de euros), sem incluir os "milionários" honorários dos advogados, e o Daily Mail menciona uma "humilhação de 10 milhões de libras" (11,9 milhões de euros).

Procurada pela AFP, uma porta-voz de André recusou-se a fazer comentários.