Retratos Contados (R.C.) – Fala-nos dos teus avós paternos e maternos.
Pedro Lucas (P.L.) – Não tive oportunidade de conhecer o meu avô paterno – natural de Alcanena, conhecera a minha avó na Nazaré, para onde foi trabalhar -, mas a minha avó paterna assumia o papel dos dois. Um ser humano gigante, muito crente e que me acalmava com as suas sábias palavras. Faleceu era eu adolescente.
Os meus avós maternos eram ambos da Nazaré. E claro, com profissões ligadas ao mar. O meu avô, que também já partiu, foi pescador de bacalhau e posteriormente vigilante no Porto de Pesca da Nazaré. A minha avó desde sempre peixeira. A minha avó materna continua viva, já só por casa, mas felizmente lúcida.
R.C. – Que importância tiveram os teus avós na sua vida?
P.L. – A minha avó paterna tinha a capacidade de transformar tudo o que via ou assistia em positivo. Fazia-me ver o mundo de outra de forma. Partiu quando eu ainda era pequeno com cerca de 13 anos, mas há frases e “imagens” que guardo dela que ainda hoje são decisivas em determinadas posições que assumo.
Já com os meus avós maternos mantinha um maior contacto, pois viviam na casa à frente da minha mãe. Almoçava diariamente com eles. O meu avô materno era um homem muito decidido, inteligente e… forreta. Diria antes poupado a pensar no futuro. Tenho muito do meu avô. Já a minha avó sempre foi uma lutadora, capaz de virar o mundo só para ver os seus felizes. Uma mulher rija por fora, mas um coração mole por dentro. Uns avós de luta incrível, de trabalho e de honestidade. Uma enorme inspiração no meu crescimento. Marcante mesmo.
R.C.-Que características sentes ter herdado dos teus avós?
P.L. – Capacidade de trabalho e de nunca virar a cara às adversidades, humildade, o facto de ser destemido e de tratar com respeito todas as pessoas.
R.C. – Quais as memórias mais antigas que tens com os teus avós?
P.L.- A minha avó materna morava a cerca de um quilómetro da minha escola secundária. Nos intervalos corria frequentemente até lá e ela tinha sempre as suas maçãs pequenas e vermelhas à minha espera. Dizia que tinha de reabastecer as forças. Um dia rebentei o cinto das calças enquanto jogava à bola no recreio. Fui literalmente com as calças na mão até sua casa e ela lá arranjou uma corda para me apertar as calças. E lá regressei todo de feliz para a escola.
Do meu avô paterno, lembro-me de ser altamente protetor e, como referi, forreta. Só me deu dinheiro duas vezes na sua vida: num dia de aniversário e comprou-me um gelado numa tarde de verão com muito sol. (risos)
A minha avó materna sempre foi a mais presente na minha vida. Desde sempre vestida de negro, muito ativa e cuidadosa, à sua maneira, com todos os seus netos. Hoje, sempre que posso estar com ela, revejo todos esses tempos na sua pele cansada. Traços de uma vida de luta.
R.C. – O papel dos teus avós na tua vida, foi determinante para te tornares no homem que és hoje?
P.L – Sem qualquer dúvida!
R.C. – O que aprendeste com os teus avós? Influenciou-te de algum modo seres o que és hoje?
P.L – Sim! Sem me aperceber, absorvi traços de ambos que hoje fazem partem da minha maneira de ser e de estar.
R.C. – Quais têm sido os teus maiores desafios como neto?
P.L. – Ver a minha avó o maior número de vezes possível – ela viva na Nazaré e eu em Lisboa – e tentar acalmá-la, relativamente à sua doença e cansaço.
R.C. – Há 7 anos nasceu a tua filha Lara. O que mudou na vida dos avós da Lara?
P.L.- Muito. Para os avós paternos a Lara é a terceira neta e para a avó materna é a primeira. Ambos vivem na Nazaré, mas lá ou em Lisboa, sei que a Lara é uma prioridade de vida para eles.
R.C. – A famosa frase: “Que os pais educam os avós deseducam” aplica-se no caso da Lara? Os avós da Lara são muito presentes? Uma ajuda fundamental no dia a dia?
P.L. – Em algumas coisas, sobretudo porque eles não vêem a Lara diariamente. Ou seja, há regras que colocamos diariamente à Lara às quais os avós, como estão pouco tempo com ela – normalmente um fim de semana a cada 15 dias – acabam por contornar. É compreensível. Eles querem que ela se sinta uma princesa e não estão para lhe negar muita coisa.
Infelizmente, vivemos longe de ambos. É muito difícil, mas sempre que precisamos largam tudo para vir ter connosco a Lisboa.
R.C. – O que te enternece mais quando vês a ligação da Lara com os avós?
P.L. – O facto de saber que ela tem os melhores avós do mundo e que eles também merecem ter uma neta tão especial quanto ela.
R.C. – Quais são as melhores recordações dos teus avós, que um dia vais quer recordar com a Lara?
P.L. – As frases mais marcantes e os melhores conselhos que me deram.
R.C. – Que valores sentes ter herdado dos seus avós e que hoje tentas transmitir à Lara?
P.L. – O cuidar de nós e o ajudar sempre os outros. A humildade tem de nos definir enquanto seres humanos.
R.C. – Apesar de seres muito novo, imaginaste um dia no papel de avô?
P.L. – Nunca pensei nisso. Quero viver cada minuto do crescimento da Lara.
R.C. – Para quem não conhece a Revista Men´s Health faz-nos um pequeno resumo desta publicação.
P.L.- É uma revista cem por cento útil e muito positiva. Transmite ideias e conselhos práticos e incentiva a um estilo de vida saudável. Queremos que o nosso leitor cuide de si para que possa aproveitar a vida com mais qualidade.
R.C. – A Men´s Health destina-se a um publico de que faixa etária?
P-L. – A revista está pensada para abranger uma larga faixa etária, diria dos 18 aos 50 anos. Ao longo das páginas temos artigos que ensinam um jovem de 20 anos como temos outros que surpreendem uns de 50. A este nível, a MH é muito equilibrada.
R.C. – A Men´s Health tem 14 anos. Nestes 14 anos da revista em Portugal, qual o feedback que tens dos vossos leitores?
P.L. – Uma fidelidade incrível. O homem português já percebeu que se olhar mais para si – em termos de cuidados de saúde, de treino, de alimentação equilibrada, etc. – conseguirá sentir-se mais confiante. E aí a vida é muito mais colorida. Tenho a certeza que o nosso leitor já procura viver melhor todos os dias e já não deixa para amanhã o que pode e deve fazer hoje.
R.C. – Os Retratos Contados e a Men´s Health têm alguns objetivos em comum, tais como: contribuir para o envelhecimento ativo, lutar contra o sedentarismo, dar informação para que os nossos seguidores tenham uma vida mais saudável e que passem essa informação aos outros… A Men´s Health já passou uma geração. Muitos leitores já se tornaram pais, outros já se tornaram avós e continuam mensalmente a ser fiéis à revista. Existem histórias curiosas dos leitores da revista, que espelhem a influência que a revista tem tido na vida deles ao longo dos anos?
P.L. – Existem muitas e algumas que vamos querer explorar. Mas lembro-me de um finalista do concurso de capa para leitores que me disse que começou a ler a MH com 12 anos porque o seu pai era assinante. De repente, ali estava ele com 22 a ser finalista. É incrível esta passagem de valores.
R.C. – Recentemente lançaste o blog “About Men”. Fala-nos deste projeto.
P.L. – Basicamente, tento dar o exemplo aos portugueses que teimam em desculpar-se com tudo e mais alguma coisa para não treinar, não cuidar de si. Tento ser a prova de que é possível termos cargos exigentes e continuar a treinar, a comer bem, a sermos melhores pais, amigos e maridos.
R.C. – Que outros projetos gostarias de vir a fazer? Que sonhos gostarias de vir a realizar? Qual o teu “projeto de vida”?
P.L. – A Men’s Health é claramente o meu projeto de vida. Não penso em mais nada no futuro próximo. A longo prazo, tenho o sonho de voltar a viver na minha Nazaré e usar o know-how de todos estes anos profissionais a seu favor.
R.C. – Os Retratos Contados apresentam-se como um projeto único e diferenciador, uma vez que nos focamos numa área diferente do habitual. O nosso objetivo é falar das ligações entre avós e netos. A importância dos avós na vida dos netos e vice versa. O que achas deste projeto?
P.L. – É perfeito para aproximar as gerações e, por vezes, relembrar de onde vimos. Ao responder a esta entrevista, revivi momentos incríveis. Desafio as pessoas a responderem às perguntas acima, pois regressarão aos tempos fantásticos da infância e adolescência. Muitos parabéns.
R.C. – Através da nossa página queremos ainda falar de envelhecimento ativo, do abandono dos idosos, dar a conhecer atividades para serem feitas pelos mais velhos, ou para os netos fazerem com os avós… Quando olhas para o nosso país, como vês a população mais velha?
P.L. – É um dos temas que mais me preocupa, sobretudo o da violência para com os mais velhos. Vamos fazer qualquer coisa juntos sobre esta temática?
R.C. – Desafio aceite Pedro! Obrigado.
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