A semana de sensibilização para o Rastreio do Cancro do Colo do Útero é um evento anual, que em 2024 decorre de 17 a 23 junho, que pretende alertar para a importância deste rastreio para a saúde da mulher. Trata-se de uma oportunidade para partilhar informação, promover a literacia em saúde e desmistificar alguns preconceitos relacionados com o método de rastreio e os procedimentos associados.

Cancro do colo do útero

O cancro do colo do útero continua a ser a principal forma de cancro ginecológico em mulheres jovens. Segundo o Registo Oncológico Nacional, em 2020 foram diagnosticados em Portugal 484 novos casos.

O papel do HPV no cancro do colo do útero

Mais de 95% dos cancros do colo do útero são causados pela infeção persistente por papilomavírus humano (HPV) de alto risco, sendo os HPV 16 e 18 responsáveis por 75% destes casos.

Apesar de ser um vírus extremamente prevalente e facilmente transmissível, na maioria das vezes causa uma infeção transitória e é eliminado pelo organismo. No entanto, em 10% dos casos, a infeção persiste, podendo levar, anos depois, ao desenvolvimento de lesões pré-malignas, cuja evolução resulta em cancro.

Rastreio do cancro do colo do útero

O rastreio do cancro do colo do útero é um tipo de prevenção secundária que pretende identificar mulheres com lesões pré-malignas (ou de alto grau), passíveis de serem tratadas, interrompendo assim a evolução para cancro.

O Despacho n.º 8254/2017 do Diário da República, 2ª série – N.º 183 – 21 de Setembro de 2017 veio uniformizar os critérios nacionais de inclusão e metodologia do rastreio organizado de base populacional, definindo que têm indicação para rastreio do cancro do colo do útero “a  população do sexo feminino com idade igual ou superior a 25 anos e igual ou inferior a 60 anos ”, através da pesquisa de HPV de alto risco, cuja colheita se faz durante um exame ginecológico.

O exame ginecológico continua a ser percecionado como algo constrangedor ou doloroso, o que faz com que muitas mulheres evitem o rastreio do cancro do colo do útero, sobretudo quando não têm queixas.

No entanto, uma importante mensagem a reter é que a infeção pelo HPV, as lesões pré-malignas, assim como as fases mais precoces do cancro do colo do útero não dão sintomas, e o rastreio é a única maneira de as identificar. É necessário encarar o exame ginecológico como uma avaliação essencial e necessária, como medir a tensão arterial, avaliar a glicémia ou ir ao dentista.

É importante esclarecer que um rastreio positivo não significa cancro. Um rastreio é considerado positivo quando é identificado um HPV 16 ou 18, ou quando são diagnosticados outros HPV de alto risco associados a alterações da citologia (por muitos conhecida como Papanicolau). Nesses casos as mulheres são convocadas para a realização de uma colposcopia, que não é mais do que uma avaliação mais pormenorizada do colo (vagina e vulva), idealmente realizada por ginecologistas com experiência neste procedimento, de modo a perceber se existem, ou não, lesões pré-malignas e orientar o seu tratamento.

Prevenção primária

Vacina contra o HPV

Em Portugal a vacina contra o HPV está incluída no plano nacional de vacinação (PNV), de modo gratuito, para crianças com 10 anos.  A inclusão no PNV resultou do facto de estudos demonstrarem que se trata de uma vacina segura que reduziu significativamente o risco de cancro associado ao HPV.

Apesar do cancro do colo do útero ser a doença mais associada ao HPV, estes vírus não escolhem género nem idade (não sendo exclusivo das mulheres jovens) e estão envolvidos noutros cancros como o da vagina e vulva, pénis, canal anal, orofaringe, entre outros. Como tal, o papel da vacina estende-se muito além do PNV, sendo, à semelhança do próprio vírus, isenta de género e de idade. Isto significa que, de modo não gratuito, qualquer outro indivíduo que o pretenda, pode ser vacinado.

Outros comportamentos preventivos

Foram identificadas outras condições que aumentam a probabilidade da infeção HPV persistir e o risco de cancro do colo do útero, nomeadamente o tabaco, a existência de doenças autoimunes ou imunossupressão, assim como o início precoce das relações sexuais e múltiplos parceiros em relações sexuais desprotegidas. Assim, reduzir cofatores de risco evitáveis é importante para diminuir o risco de cancro.

Um artigo da médica Lúcia Correia, Ginecologista no IPO de Lisboa.