O programa 'Alta Definição' transmitiu, este sábado, 30 de julho, a entrevista de Daniel Oliveira com Quim Barreiro. Uma conversa que levou o cantor a viajar no tempo, recordando a infância e vários momentos da carreira.

Aos 75 anos, o artista conta com uma vida cheia de muitos palcos e histórias, como a tarde que passou a leiloar uma vaca e que rendeu mais de 100 mil dólares.

Da infância, conta, recorda bons momentos e muita felicidade, especialmente os mais simples. Quando a mãe fazia papas, lembra, "rapava o fundo do tacho. Ficava branquinho". Ou quando jogava à bola com latas de tinta… "Passei uma infância feliz".

Começou a trabalhar aos nove anos, com a quarta classe. Aos 15, quando a mãe morreu, voltou a estudar. Faltou pouco para ficar com o sétimo ano de escolaridade completo. "Depois, chegou a força aérea e os estudos pararam porque comecei a ganhar dinheiro". Foi nessa altura que enveredou na música e nunca mais parou.

Ainda ao recordar a falecida mãe, com quem tinha uma forte ligação, diz que ficaram os "conselhos, o amor e a religião". "A minha mãe era muito religiosa. Ensinou-me o caminho de Deus, que eu sigo à minha maneira. Eu era um menino da mãe, era ela que me defendia. Estava muito ligada a mim, e eu a ela. Penso nela todos os dias, sozinho", acrescenta, mas não pensa só na mãe. Também recorda, muitas vezes, o sogro, o sobrinho que faleceu com 28 anos, e outros familiares e amigos.

Sobre o sogro, com quem também tinha uma forte ligação, confessou que se sente arrependido de não ter realizado o seu último desejo. Quim Barreiros conta que o pai da mulher estava internado no hospital e que pediu, como último desejo, ir a casa e ver os netos. Mas, como estava no hospital, "todo cheio de tubos", acabou por não conseguir concretizar.

"Arrependo-me de não ter falado com os médicos, de não ter pegado numa ambulância e não o ter levado a casa. Tenho pena. Gostava muito do meu sogro. Ele viveu mais tempo comigo do que o meu pai. A minha mulher é filha única, e ele sempre viveu comigo, e a minha sogra. E cria-se sempre um laço. Há um choque forte, falta-nos alguém ali, na mesa ao jantar, no petisco, nas brincadeiras… Tudo acaba", partilha.

O cantor contou também que continua a ir ao cemitério visitar os que já partiram. "De vez em quando, vou lá sozinho. Falo com eles, é bom. Sinto-me bem, saio de lá e sou outro homem, até respiro melhor. E a alguns, digo até já, também vou para lá, para à beira pé deles", disse.

Durante a entrevista, Quim Barreiro falou da família e do importante apoio que lhe dão. "Felizmente, encontrei uma mulher que me entendeu. A maior parte dos músicos têm dificuldades quando são casados, porque a vida de um músico é nómada - hoje tocam aqui, amanhã ali… O músico tem fr gostar da estrada e da música, e tem de ter família que o entenda, porque senão, não dá", destaca.

Quim Barreiros é um dos músicos populares mais acarinhados em Portugal e as suas músicas dificilmente são desconhecidas, especialmente pelos trocadilhos. "Não faço as músicas com maldade, para ofender A, B ou C", defende, realçando que apenas escreve os temas para deixar as pessoas a rir.

E são muitos os concertos que realiza todos os anos, mas não é extravagante quando se fala em "exigências". O cantor garante que só pede água no palco para si e para os músicos que o acompanham.

"A comissão de festas já nos dão o jantar, depois vai-se para o palco... por que é que vamos ter um camarim carregado de garrafas e de comida? Não vou para uma terra para complicar quando sou contratado, vou para ajudar a comissão de festas", salienta.

E será que pensa no dia em que vai deixar os palcos? Quim Barreiros confessa que, quando sentir que tem de terminar com os espetáculos, vai fazê-lo. "Penso que vai chegar a uma altura em que não me vou andar a arrastar. Isto, muitas vezes, é mais depressa do que nós pensamos. Enquanto eu puder, tudo bem, mas, às vezes, basta uma coisinha qualquer para a gente parar. Não penso nisso, mas temos de contar com isso", explica.

Ainda durante a entrevista, enalteceu o apoio e trabalho dos músicos que o acompanham há vários anos. "Devo muito aos meus músicos", afirma.

Mas também não esqueceu o dia em que foi "difamado". "Há uns 40 anos, quando comecei, saiu nos jornais que eu era um capo da droga no norte do país", recorda, referindo que tais palavras foram publicadas numa revista espanhola e depois citadas pelos jornais portugueses.

"Ou seja, um jornalista qualquer andou lá pela minha terra e alguém que não gostava de mim lá lhe disse que eu andava na droga, por andar lá a construir - porque na altura comecei a ganhar dinheiro e comecei a construir na minha terra. Então, fui difamada e foi uma deceção muito grande para mim e para a minha família. Depois, meti em tribunal", lembra. O cantor ganhou o processo e recebeu uma "indemnização de 28 mil contos".

No entanto, lamenta, "isto não veio nos jornais". "Difamam e depois, quando é para limpar o nome de um homem, ninguém limpa", acrescenta.

Questionado por Daniel Oliveira se alguém lhe deve um pedido de desculpa, o artista aproveitou para dizer: "Acho que o Estado me deve um pedido de desculpas. Se ganhar dez mil euros, 5.300 euros eu tenho de dar ao ministro das finanças e só fico com 4.700. Eles não cantam, não dançam, mas limpam o dinheiro todo".

Quim Barreiro é, no fundo, um "homem envergonhado" e "não gosta que o elogiem", pois "fica sem jeito". E, diz, preferia celebrar os 50 anos de carreira em cima de um trator na sua aldeia do que num Coliseu. "É aí que me sinto bem", partilha, sem esquecer dos estudantes.

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