Tem feito televisão praticamente sem interrupção. Não se sente cansada com tanta exposição?
O cansaço sente-se por fases. Há meses muito intensos, em que as minhas aparições são constantes. Fico estoirada. Noutros meses mais calmos, dá para respirar e recuperar. Tento intercalar o meu trabalho na televisão com teatro. Só assim é possível um bom equilíbrio.
Nunca fez cinema. Faltam convites?
Pois, é a única área que falta. Adorava fazer uma longa-metragem, mas ainda não surgiram convites.
Há agora uma moda entre os actores que é irem estudar fora de Portugal. Também gostava de ir para o estrangeiro?
Queria muito estudar em Londres, mas agora que já estou casada e tenho uma vida familiar estável é mais difícil tomar uma decisão dessas. Não que não sejamos malucos o suficiente para o fazer. Mas é muito difícil em termos financeiros. Precisamos de arranjar sustento.
Tem contrato de exclusividade com a TVI. Isso não lhe dá o suporte financeiro que precisa?
Não, tenho contrato para trabalhar, não para estar ausente. É claro que há meses mais calmos, mas tenho de estar sempre disponível para trabalhar. Não posso mergulhar num curso no estrangeiro de repente.
Na série Casos de Vida, deu vida à Alice, uma vítima de violência doméstica. A própria Paula já sentiu na pele o mesmo problema?
É verdade. Vivemos numa sociedade machista, em que se tem vergonha de falar sobre violência doméstica. É importante acabar com os tabus à volta deste tema e é por isso que eu não tenho problema em contar o que me aconteceu. Tinha 14 anos e um namorado com quem discutia muito. Começou com um estalo aqui e outro ali. Durante seis meses, fui agredida, atacada e maltratada. Foi tudo muito rápido, mas as marcas ficam para sempre.
É um trauma?
Aguentei algum tempo sozinha, mas depois tive de contar o que se passava aos meus pais. Eles intervieram e foi então que o problema acabou. Durante os cinco anos seguintes, tinha pesadelos de que apanhava pancada e não conseguia defender-me. Isso tudo mexeu comigo. Demorei muito tempo para entender como tudo aconteceu e então decidi que jamais quereria isso para a minha vida. Passados estes anos, já assimilei. Já falo sem problema.
Depois de se tornar actriz de televisão, tornou a ver esse namorado?
Vivíamos relativamente perto e cruzámo-nos algumas vezes.
Houve um pedido de desculpas?
Nunca. Até pode ter havido uma tentativa, mas eu não tenho interesse nenhum em voltar a falar com essa pessoa.
Na novela "Tu e Eu", fez uma personagem que ficou marcada pelos stripteases. Na rua, as pessoas ainda se lembram disso?
Já se esqueceram (risos). Foi uma personagem muito intensa, de quem todos falavam. Até então, só tinha feito papéis mais resguardados e as pessoas ficaram muito surpresas. As críticas foram óptimas, mas já passou. Sinto que as pessoas, neste momento, estão muito envolvidas com a Constança, de Fascínios.
Está satisfeita com a Constança?
Estou muito satisfeita. Adoro esta novela. Logo que li o guião pela primeira vez, apaixonei-me. Tive muita sorte com o meu núcleo de actores. O trabalho é muito facilitado pelo bom ambiente.
A Constança tem uma vida difícil. Engravidou, perdeu o bebé e agora volta a engravidar...
Ela está feliz da vida por esta segunda oportunidade. Mas vai apanhar o marido na cama com outra. Isso vai chocá-la de tal forma, que a vai fazer perder o bebé. Mas vai manter tudo em segredo e vai lidar sozinha com duas perdas.
Sofre com a sua personagem?
Tenho imensa pena dela! Custa-me horrores ler o que se vai passar com ela. Só de pensar no futuro dela, dá-me arrepios.
Há anos que diz que quer ser mãe. É este ano?
É verdade. Já tenho vergonha de falar nesse assunto (risos). Estou sempre a falar que é para o ano e nunca é! Vontade não me falta, mas os anos passam e muitas coisas surgem pelo caminho. É o nosso projecto de vida em comum, mas neste momento não temos pressa. Antes de um filho, temos muito para fazer nas nossas áreas profissionais. O meu marido, Ricardo, é informático, mas começou agora a tirar psicologia...