As declarações de Joana Latino num dos últimos programas do 'Passadeira Vermelha', da SIC Caras, estão a gerar uma enorme polémica entre os artistas. Conforme se pode ouvir num vídeo partilhado no Facebook pelo ator Manuel Moreira, a comentadora elogia o trabalho que foi feito por Bruno Nogueira ao longo da quarentena, com os diretos que fazia através da sua conta de Instagram.

"Aqui há uns tempos eu disse (...) que os artistas em vez de fazerem tantos discursos miserabilistas, catastrofistas, de auto-comiseração deviam mexer-se. E uma série desses artistas que vivem em auto-comiseração com silícios na perna continua a não se mexer, se calhar deviam olhar para este exemplo", afirmou.

"Se a Joana Latino dissesse estas mesmas barbaridades sobre os agricultores, sobre os lojistas, sobre os produtores de queijo, sobre os tatuadores, etc, também não tinha contraditório? Os seus colegas continuariam a não ficar chocados?", questiona Manuel.

"Eu adorava que o Bruno Nogueira ou a Inês ou o Nuno Markl ou a Jessica Athayde ou o João Manzarra explicassem à Joana Latino que não curtem ser glorificados neste contexto de oposição a toda uma classe que esta jornalista ofende recorrentemente. E que, ao contrário do que ela diz, se tem 'mexido' muito", defende.

"Alguns foram trabalhar para caixas de supermercado, para restaurantes take away, para a uber, porque as contas não se pagam sozinhas e os 290 euros que alguns (não todos) tiveram o privilégio de receber não chegam para viver e nem todos têm 500 mil followers no Instagram para seguir os seus lives e mesmo que tivessem, os lives não pagam a renda da casa. Adorava que, por uma vez, os disparates que são ditos no mainstream por alguns alarves ignorantes não passassem pelos pingos da chuva e que os meus colegas da SIC, casa que muito estimo, dessem um contraditório a esta parvalhona", sublinha.

Não ficando indiferente ao sucedido, Nuno Markl acabou por responder através de uma publicação na sua conta de Instagram.

"Não é bonito ver o #comoéqueobichomexe ser usado como arma de arremesso contra a classe artística, como se os diretos do Bruno se revelassem, afinal, a solução mágica para os graves problemas de uma quantidade tremenda de profissionais da cultura, em extraordinárias dificuldades nestes tempos.

É grosseiro e demagógico, quase num nível Bolsonárico, que se levante a questão 'De que se queixam, se está provado que é só ligar o Instagram e criar uma oportunidade de trabalho?'. O Bicho nunca foi, nem pretendeu ser um modelo de negócio ou um ganha-pão para os seus intervenientes. Diria até que todos os que entrámos nesta aventura do Bruno somos bastante privilegiados: a nenhum de nós falta trabalho, nenhum de nós está a passar fome.

Mas há muita gente que está, e não são só 'os artistas', são todos os profissionais cuja vida depende das mais diversas atividades culturais. Achar que é só improvisar uns diretos, lembra os gurus empreendedores que, no auge da crise - e eles devem estar a reaparecer - diziam que cabia ao povo não se queixar e ter motivação e criatividade, o que é a falácia mais manhosa e insultuosa de sempre.

Além disso, atacar os agentes da cultura é retórica facha: a ideia de que a arte é coisa supérflua, que há 'coisas mais importantes' e que a vida de artista se resolve com um estalar de dedos é pantanosa, triste e injusta. A classe artística nãoqueixinhas - é feita de muita gente com vidas, com famílias, e que há meses que tem a sua vida suspensa, com tanto trabalho adiado sine die, ou mesmo definitivamente cancelado", afirmou.

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