O seu rosto é-nos familiar há várias décadas, mas a sua presença espelhou-se com mais força, nos últimos anos, através das redes sociais. Helena Coelho ficou conhecida pela apresentação de vários programas na RTP, mas foi no meio digital que encontrou a sua vocação.

Atualmente dedicada às plataformas online e à sua loja de roupa vintage (Smoky Olive), a antiga apresentadora conversou com o Fama Ao Minuto sobre o que é, afinal, isto de ser uma 'digital influencer'.

Conhecemo-la da televisão, mas com o ‘boom’ das redes sociais migrou para a esfera digital. O que mais a atraiu nesse universo?

A independência, a liberdade. No digital construímos a nossa página, a nossa linha estética, o que queremos dizer ou como comunicamos. Não exige a fidelidade a um alinhamento ou um propósito como tem a televisão.

A televisão, de alguma forma, não se revelou aquilo que esperava?

Não tinha grandes expectativas e neste momento não a faço porque estou noutra fase. Não aparecem grandes propostas e as que aparecem não me aliciam. A partir de uma certa idade temos um filtro maior do tempo que queremos dedicar a alguma coisa.

Se cada um mantiver a sua singularidade há mercado

O que é que seria aliciante em televisão neste momento?

Tudo o que fosse de encontro às minhas paixões.

Comecei a trabalhar com marcas aos 15 anos. Sempre as abracei muito. Quem me acompanha sabe que quando agarro uma marca tenho uma preocupação em que ela seja bem sucedida, senão sinto-me fracassada. No digital, consigo que as marcas confiem em mim, dentro da minha estética e daquilo que faço.

Tem seguido uma linha bastante singular. Manter essa coerência é um processo naturalmente instintivo?

Sou muito ligada à estética e à estética conceptual. Gosto muito de teatro, de decoração, de moda. A linha que tenho no meu Instagram não me preocupa, no sentido em que as coisas estejam pensadas. Às vezes coloco duas fotos a preto e branco de seguida, se calhar não fica tão bem no enquadramento, mas coloco de forma natural.

Numa fase em que muitas pessoas, tal como a Helena, migram da televisão para o digital, qual a sua visão sobre esta tendência?

Acho que se cada um mantiver a sua singularidade há mercado.

Ser influencer só no panorama estético e de moda não me satisfaz

Ao nascerem novas profissões, desperta-se também uma ambição, sobretudo nos jovens, de se ser bem sucedido nas redes sociais. Tendo uma filha adolescente, tem perceção dessa realidade?

A minha filha não tem de todo esse objetivo. Nem as amigas. Obviamente que o conceito da estética visual - e não estou a falar do corpo - tem transformado um bocadinho a geração da minha filha. Vejo que quando ela tira uma fotografia põe uns filtros giros. Ou seja, é um cuidado que antigamente só os fotógrafos tinham. É engraçado.

Numa altura em que se debate muito o conceito influencer, o que representa para si o termo?

É passar uma consciência civil. Gostava que as pessoas tivessem mais interesse pelo nosso panorama político por exemplo. Às vezes faço alguns stories sobre isso: Como ter um voto consciente, como ser um cidadão por inteiro. Espero de alguma forma influenciar isso, mas gosto de o fazer de uma forma natural. Ser influencer só no panorama estético e de moda não me satisfaz.

No literal sentido da palavra, o que é que mais inspira nos outros?

Quando cozinho. Pedem as receitas e enviam-me foto das que fizeram.

Tenciona transformar essa paixão num projeto?

Sim, ando a pensar nisso e quero amadurecer a ideia.

Recebo imensas mensagens e ou pessoas que me abordam na rua e perguntam: 'Quando regressas? O que é que aconteceu?'

Por outro lado, quais são as suas maiores inspirações?

Vou muito ao Pinterest, a páginas de anos 70 e 80. Gosto muito revistas físicas - a Architectural Digest, The Face, Numéro, Vogue. Sou da velha guarda, compro revistas.

Na televisão apresentou vários projetos. Sente que o público tem saudades de a ver no pequeno ecrã?

Sim, recebo imensas mensagens e ou pessoas que me abordam na rua e perguntam: ‘Quando regressas? O que é que aconteceu?’

Em que formatos mais gostou de trabalhar?

Gosto muito de música e acho que tenho uma boa cultura musical, mas gosto sobretudo de talk shows em direto. Gosto de programas em que há mais improviso e naturalidade, a aproximação com o público também é maior.

Está nos planos voltar à apresentação?

Não. Tenho outras coisas: Tenho a Smoky Olive (loja de roupa vintage), que me dá muito trabalho, tenho outros projetos…

No outro dia [a minha filha] disse-me que qualquer dia deixa de viver comigo, já não falta muito. Fiquei perplexa a olhar para ela

E é também mãe de uma adolescente, certamente que é outro grande desafio. Como é que a Mariana lida com a exposição da mãe?

Não liga nada. É a mãe e pronto. Tem uma personalidade forte e tem a individualidade dela. No outro dia estava-me a dizer que qualquer dia deixa de viver comigo, já não falta muito. Fiquei perplexa a olhar para ela e ela disse-me: ‘Criaste-me para eu ser independente e ser individual no sentido de seguir o meu caminho, por isso não te admires com isso’. Custa um bocadinho.

Esse está a ser o maior desafio da maternidade?

Fui mãe sozinha, fui mãe e pai. Por um lado foi muito bom porque fiz as coisas à minha maneira. Não tive de estar a discutir opções de vida dela. Tive sorte de ter uma miúda com cabeça e com uma personalidade interessante. Não foi difícil.