Durante esta semana decorreu a emissão anual do 'Natal nos Hospitais', da RTP1, mas este ano sem a presença de Júlio Isidro. A razão? Motivos de saúde, como o próprio indicou numa publicação que fez no Facebook.

"Falhei o 'Natal dos Hospitais'", começou por escrever, explicando que iria "apresentar um breve momento" desta emissão especial.

"Ao fim da tarde ali estaria a abraçar os que sofrem, a minha participação desde há 59 anos… sim 59 anos! Gosto de contas certas e a emissão de ontem [dia 14 de dezembro] seria a 65.ª desta iniciativa que põe muitos milhares de portugueses à volta da árvore solidária que é o Diário de Notícias e a RTP", disse.

"Fiz 58 vezes e ontem faltei. Uma crise de síndrome vertiginoso que nunca tinha sentido, tirou-me o chão debaixo dos pés e fiquei em casa. Estou triste, mas na esperança/certeza que se Deus quiser, farei 60 vezes o 'Natal dos Hospitais' antes de me retirar das lides", destacou.

"Já fiz esta maratona na companhia de vários apresentadores ao longo das longas horas do programa mais antigo e de maior audiência da televisão em Portugal. Agora piso o palco da RTP1 durante três minutos para palavras de carinho e apoio a todos aqueles que não terão Natal junto das famílias. Já sou tão antigo que ainda fiz o Natal numa cadeia sem televisão, nem rádio, nem fotógrafos a flashar o evento. As redes sociais ainda não existiam para serviço de promoções pessoais", recordou.

"Um telefonema do diretor da cadeia de Sintra... 'Senhor Júlio Isidro, gostava de o convidar para a festa de Natal do nosso estabelecimento prisional...'. Engulo em seco e lembro-me dos concertos nas prisões de Johnny Cash... 'Tenho muito..... gosto... mas qual é a minha participação?'. 'Era para animar a festa dos nossos reclusos apresentando os UHF e o D. Vicente da Câmara... vamos buscá-lo onde quiser'", contou.

"No dia 15 daquele dezembro estava a entrar num Mercedes conduzido por um guarda, já vinha o D. Vicente com a caixa da sua preciosa guitarra segura entre as pernas. Chovia, chovia muito, e lá chegámos ao território onde gente condenada a um Natal entre muros, nos aguardava. O refeitório com um palco montado ao fundo, estava à cunha, a humidade, o calor dos corpos e o fumo dos cigarros, fazia do ar um nevoeiro de ruelas londrinas. Subi ao palco entre aplausos e vivas que quase me emudeceram. Falei do Natal e segui em terrenos de humor com umas piadas brejeiras q.b. até apresentar os UHF", lembrou.

"Grande concerto do António Manuel Ribeiro e seus pares, onde fui metendo umas larachas para animar, ainda mais, a malta. Agora a minha função era sair do rock para o fado. Tudo fácil porque o público estava aberto a tudo. D. Vicente cantou, falou com a sua voz tranquila e eu vi, com estes dois, muitos olhos vividos na margem da vida, molhados de água. Acabou o espetáculo, gritei 'boas festas' para todos, sem saber bem o que são estas quadras limitadas no espaço e no tempo", relatou.

"Saí por entre os espectadores que me saudavam, muitos com palmadas nas costas, algumas fortes.... Ganda Júlio, és o maior... Dás na televisão e na rádio... Até um que me pediu a brincar... 'tira-me daqui'! À porta da prisão esperava-nos o Mercedes tipo 'fogareiro'. Apertos de mão, D. Vicente e eu seguimos viagem para Lisboa. Foi a meio do percurso que o meu estômago não resistiu às emoções vividas. Pedi ao condutor para parar e ali mesmo na berma da estrada... foi tudo fora! Saía de mim a angústia do que será a liberdade quando a perdemos", partilhou.

Na altura recebeu um "cartão" que guarda até aos dias de hoje e que mostrou na mesma publicação.

"Esse Natal numa prisão, como tantas dezenas de outros vividos em hospitais, onde estive em frente de gente a sofrer, a dor é comum... A vida está lá fora e nós aqui. Sonho a utopia de que um dia exista uma sociedade de portas abertas à felicidade. Foi isso que senti hoje, sem o meu tempo de antena… pedir saúde, física e espiritual para o maior auditório do ano", disse.

Além da imagem do referido cartão, Júlio Isidro mostrou ainda uma fotografia que tirou com Catarina Furtado no ano passado.

Veja a publicação na íntegra:

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