O movimento O MAIOR SORRISO DO MUNDO nasce em 2013 para reforçar esta mensagem e representa alegria, amor, saúde e bem-estar.

Figuras públicas e empreendedores aderiram à causa e partilharam os seus testemunhos. Conheça a história de Mafalda Ribeiro.

O que é que a faz sorrir?

Eu mesma. É tão natural como ter os olhos, o nariz ou o queixo no rosto. Para mim, ter uma boca é ter automaticamente um sorriso. A maioria diz que o sorriso é a minha imagem de marca e eu concordo. Olho para as minhas fotografias e são muito raras as excepções em que não tenho o sorriso estampado. Por exemplo, os gestos que a comunidade surda associa ao meu nome e que me identificam são “sorriso” e “pequena”, porque eu estou sempre a rir e sou pequenina, já o meu sorriso é enorme e “rasga” a boca toda! (risos)

Aquilo que a faz sorrir é o mesmo que a faz feliz?

Acredito que sorrir é um cartão de visita para o caminho da felicidade. Não vejo o acto de sorrir como uma consequência do que me faz feliz apenas, mas se calhar como uma causa para me sentir feliz, até quando há ventos contrários. Não entendo a felicidade como algo estático ou redutor. Encontro-a para mim enquanto processo inacabado e é essa lógica que me faz assumir que sou uma pessoa feliz. Posso nem sempre estar, mas quando não estou, ponho-me! (risos) Aí o sorriso ajuda-me. Ajuda-me o simples acto de eu sorrir para os outros. Faz-me feliz quando os outros sorriem para mim.

As pessoas de sucesso são optimistas? Foi isso que lhe permitiu a si ser bem-sucedida?

Não me revejo na definição do dicionário de “bem-sucedida” porque se o fosse não tinha mudado profissionalmente e se calhar nem teria feito metade das escolhas que fiz. O que quero dizer é que se o dinheiro for uma consequência do sucesso, não sou uma pessoa rica, sou uma rica pessoa por causa do meu optimismo. Vejo o copo meio cheio e digo que o antónimo de dias bons são dias menos bons. Ser uma pessoa de sucesso pode ser algo muito subjectivo e até hoje por culpa do meu sorriso optimista acho que acertei nos “passos” que dei, mas as minhas rodas continuam no caminho para o sucesso de muitas coisas e ainda bem!

Qual a maior adversidade pela qual já passou?

Ironicamente não tem nada a ver com a minha deficiência. Aliás, eu não “fiquei” numa cadeira de rodas. Isto é, eu não deixei de andar. A verdade é que eu nunca soube o que é andar, portanto nunca o considerei uma adversidade. Nem mesmo com todas as dores físicas causadas pela minha doença - Osteogénese Imperfeita ou a chamada “doença dos ossos de vidro” - que é uma deficiência permanente e congénita, eu posso considerar uma adversidade. São condição nisto que é ser a Mafalda. Se adversidade é sinónimo de tragédia, acho que o meu maior “tsunami” foi ter perdido a minha mãe, há 3 anos, num acidente de viação, quando me ia buscar ao trabalho.

Como é que conseguiu ultrapassar esse “tsunami”?

Uma coisa destas não se “ultrapassa”, “passa-se”. “Como é que eu consegui viver com isto?” será a pergunta ideal. Com uma fé inabalável de que a minha mãe cumpriu o seu propósito aqui e teve a melhor profissão do mundo: ser a minha mãe. Aceitar os factos que eu não podia mudar foi viver tudo com a maior serenidade possível. O escritor João Melo escreveu o livro “Gente Feliz com Lágrimas”, eu aprendi naquela altura que é possível ser “Gente Triste com Sorrisos” e que a pouco e pouco foram esses sorrisos que me ajudaram a fazer o luto. Transformar o “porquê eu?” ou o “porquê a mim?” em “para quê é que isto aconteceu”? é meio caminho andado para levar à prática a frase tão repetida aquando de uma morte: “a vida continua”. E como canta o Jorge Palma: “A gente vai continuar”…

Saiu um estudo que revela que os portugueses estão a sorrir cada vez menos. Que conselhos pode dar aos portugueses que perderam o sorriso?

Façam a vossa lista de “obrigadas”, escrevam-na e coloquem-na num lugar onde vos seja visível diariamente. Sempre que a lerem vão com certeza sorrir! Este ano fui convidada da TEDx Penafiel e chamei à minha “talk”: Ser Como um Grão de Mostarda. Associando a minha vida à parábola de Jesus (citada na Bíblia em Marcos 4:30-32), revejo-me nela na medida em que até o meu minúsculo começo (1,950 kg e 36 cm num prognóstico de morte iminente, há 31 anos) eu agradeço. Fazer com que o pequeno seja o novo grande está ao alcance de cada um de nós, se semearmos continuamente a gratidão que é a própria a vida, em todas as circunstâncias. Esse é o meu crescimento pelo qual eu luto, não em tamanho, mas em propósito. E numa ode às improbabilidades, contagiar o grande que é o mundo inteiro com o meu testemunho. Todos podemos querer ser como um grão de mostarda. Não interessa o tamanho do nosso começo, mas o alcance extraordinário dos frutos que podemos dar. Se acreditarmos que as nossas limitações não determinam os nossos limites: superamo-nos. Se perguntarmos “para quê” em vez de “porquê”, mudamos. Ser como um grão de mostarda é semear "obrigadas" na terra e aquilo que parecia pouco/pequeno transforma-se em muito/grande.

Disparam as vendas de antidepressivos no país. O que é que nos falta?

Agradecermos mais, queixarmo-nos menos e sorrirmos! Somos todos únicos, todos temos desafios diários a ultrapassar, e se calhar muitos de nós vivem depressões silenciosas e não diagnosticadas porque andamos sempre mais preocupados com os “nãos” da nossa existência. É fabuloso ter objectivos, querer ser e fazer mais e melhor, olhar para o futuro com esperança e alguma ambição; mas isso deve dar-nos motivação para o conseguirmos ao invés de passarmos o tempo, sem sair da nossa zona de conforto, a apontar o dedo ao que está mal, ao que ainda não temos, ao tempo que não passa, etc. Creio que a maior deficiência do ser humano é a atitude negativa. Eu não quero ser igual a ninguém, gosto muito de ser diferente, na minha individualidade, mas sei que aquilo que todos temos em comum e que nos foi dado na mesma medida, é a nossa capacidade de sorrir. O espirito “Calimero” fecha-nos e escurece-nos o semblante. A gratidão ilumina e abre sorrisos. E o melhor de tudo isto é que é grátis. Vamos bater o recorde de consumo de positivismo?

Se pudesse deixar uma história para os portugueses lerem daqui a algumas décadas, qual seria? Uma história que os fizesse sorrir e que os inspirasse.

Sem falsa modéstia, a minha própria história. E todas as histórias reais de pessoas que transformaram as suas fraquezas em forças, quando se calhar tinham todos os motivos do mundo para serem vítimas da sociedade.

Qual o momento na sua carreira que lhe provocou mais sorrisos?

Como não tenho filhos e dificilmente poderei ter, ainda que ame como meus muitos filhos dos outros. E como plantaram uma árvore por mim porque as minhas rodas ainda não são todo o terreno. Mas já escrevi um livro! E o dia do seu lançamento oficial - a 15 de Maio de 2008 - foi sem dúvida o momento da minha carreira que toda eu fui sorrisos! Acho que nesse dia é que acreditei que até tinha jeito para as palavras que me saltam da ponta dos dedos e que elas têm um poder e uma força incríveis. Se a minha condição física é de fragilidade, então eu quero que aquilo que eu faço através da escrita possa trazer sempre uma mensagem de força, inspiração, vida e motivação às pessoas. Eu é que quero continuar a provocar sorrisos!

O que é que lhe falta fazer?

Estar ainda mais ao serviço dos outros através da comunicação. Quero continuar a fazer palestras motivacionais em empresas, escolas e conferências, cá e no estrangeiro. Sei que não posso mudar o mundo, mas se puder com o meu testemunho contribuir para mudar o mundo de alguém, então já valeu a pena! Quero lançar o meu próximo livro em breve e aventurar-me noutros géneros literários, trabalhando para, quiçá um dia conseguir viver da “palavra”, a falada e a escrita. Sobre rodas já ando, mas ainda não coloquei de parte a ideia de andar de rodas sobre rodas e tirar a carta de condução, mas não é um sonho prioritário, pois se a vida me sorrir mais depressa arranjo um Ambrósio (motorista), com direito a Ferrero Rocher e tudo! (risos)

Entrevista: Mafalda Agante

Mafalda Agante

Associação Sorrir

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