Farmácias Portuguesas
Revista Saúda - A sua revista online chama-se “Júlia, de bem com a vida”. O que significa?
É estar em equilíbrio entre as nossas expectativas, a possibilidade de as concretizar e de nos sentirmos realizados no que conseguimos e no que achamos que iremos conseguir.
RS - Celebra 55 anos em outubro. É uma conquista de maturidade?
Dos 50 para a frente, as mulheres têm um período que eu acho que é de ouro. Aprendemos o valor da palavra não e começamos a dizê-la as vezes que nos apetece. Dizemos sim só quando queremos e quando vale mesmo a pena. E isso é ótimo, alivia imenso.
RS - Está em harmonia...
Tive alguns anos difíceis, filhos doentes, essas coisas todas... Agora tudo está mais tranquilo, estou a viver um momento de harmonia. Estou feliz, serena, bem-disposta. E tenho saúde, que é muito importante.
RS - É a melhor fase da sua vida?
Sem dúvida. Estou num momento profissional profundamente diversificado. Além de fazer televisão, comecei há um ano e meio uma outra fase da minha vida enquanto executiva da Impresa, como directora de lifestyle e entretenimento na área do publishing [edição] das revistas, e com a área digital… É uma fase mais rica, em que estou a aplicar aquilo que 30 e muitos anos de carreira me dão, mas a aprender imensas coisas novas.
RS - Quando percebeu que queria ser jornalista?
No momento em que a minha mãe me deu dois gritos e me disse que eu jamais poderia ser arqueóloga. Era o que eu queria: arqueóloga, investigadora… professora universitária, se desse. Como tenho alguma capacidade para línguas, inscrevi-me em Línguas e Literatura. Mas não estava resolvido na minha cabeça. Até que um belo dia vejo a caravana do Papa, com os jornalistas todos atrás. E aquilo fascinou-me.
RS - Porquê?
Era uma maneira de estar perto de pessoas que, de outra forma, nunca conheceria na vida. E havia aquele lado meio justiceiro do jornalismo. Houve ali uma espécie de combinação romântica. O entretenimento acabou por acontecer e sou muito feliz.
RS - A televisão foi uma paixão imediata?
A televisão tinha de ser. Não tenho grandes atributos de beleza, mas eu sabia que tinha uma capacidade de comunicação marcada e que isso era muito vincado em mim. Era quase uma intuição.
RS - Que programa gostou mais de fazer?
O amor mais profundo da minha existência chama-se “A Noite da Má Língua”. Foi um programa daqueles que não se repetem porque é a disrupção das disrupções, a liberdade mais enlouquecida que eu vivi na minha vida.
RS - Está casada há 32 anos. Há algum segredo?
O meu marido (gargalhadas)! Tenho muita sorte porque casei com uma pessoa que me entende e que é meu pai. O que digo a toda a gente é: «Divirtam-se juntos. Se se divertirem juntos a coisa vai correr bem». Tivemos momentos muito difíceis, mas conseguimos ultrapassar porque existe cumplicidade, proximidade a todos os níveis.
RS - Vai ser avó pela segunda vez. Como está a viver a experiência?
Tive a sorte de ter três filhos e, ainda por cima, o meu marido já trazia uma na bagagem, mais crescida, que tem a vida mais organizada. E terei, se tudo nos correr bem, no final do ano, duas netas – achamos que é menina. É muito gratificante. Acredito muito nesta dinâmica de cuidarmos uns dos outros. Somos uma família muito sólida, estruturada, que já foi testada em muitas circunstâncias difíceis, e vir mais um “ratinho” deixa-nos muito felizes.
RS - Como concilia uma vida profissional tão intensa com a familiar?
Tenho uma vida profissional e tenho uma vida familiar, não tenho mais nada (risos). Há pessoas que privilegiam, nos seus tempos livres, sair, festas… enfim, um determinado tipo de circuito que me entedia profundamente e, portanto, não vou. A minha vida é muito estruturada nisto: trabalho ou vou para casa. Cozinho, que é uma coisa que me dá um grande prazer. Sou muito feliz nesta dimensão doméstica.
RS - Está há muitos anos sob o olhar do público. É fácil lidar com a exposição?
Para mim, é. Não posso entrar na casa das pessoas todos os dias, estabelecer uma relação de cumplicidade e proximidade, e depois encontram-me na rua e ser antipática e não estar disponível… Estar exposta não me custa nada.
RS - Mas houve momentos difíceis…
Quando as minhas filhas ficaram doentes, com anorexia. Quando a primeira ficou doente, há 13 anos, esta era uma doença de que não se falava. E ela sofria muito com a possibilidade de isso ser exposto. Nessa altura, foi difícil gerir a legítima curiosidade dos meus colegas da especialidade e este lado que era preciso resguardar até ela se restabelecer. Por mim, tinha falado do assunto logo, até porque acho que temos de dar esse testemunho junto do público: toda a gente é igual na saúde e na doença.
RS - Que cuidados tem para manter a vitalidade?
Durante muito tempo, fui completamente descuidada nessa matéria. Tenho uma boa genética e nunca me preocupei muito com a minha imagem. Há uns anos, engordei um bocadinho e fui admoestada pelo meu director de programas, que me disse que tinha de emagrecer. Tinha 48 anos. Fiz a minha primeira reeducação alimentar. Fui muito bem-sucedida, senti uma melhoria acentuada na minha vitalidade. A partir daí, tenho seguido o manual que o nutricionista me ensinou.
RS - Faz desporto?
Aos 50, percebi que as articulações me doíam e que isso não era bom. Contratei uma personal trainer, coisa que nunca tinha tido na minha vida. Ela ia ter comigo, fazia exercício no estúdio. Durante um ano, disse-me: «Júlia, devíamos correr». Um dia, só para a calar: «Está bem, vamos correr» A determinada altura, o meu empenhamento era tal que me levantava às cinco e meia da manhã, quase todos os dias, para ir correr. Já não consigo correr, mas continuo a fazer exercício e faço muitas caminhadas.
RS - Projetos para o futuro?
A arqueologia, os livros [tem dois romances publicados], dormir muito. Tenho tido uma vida absolutamente fantástica em termos de realização profissional, tenho conhecido pessoas espantosas. Não tenho nada por resolver. A única coisa que eu queria era ter anos de saúde.
Texto de Sónia Balasteiro
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