Fotografar às claras é melhor do que às escondidas?
Sem dúvida. Sempre gostei de fotografia com produção. Tenho a mania dos acessórios e de dar um cunho muito especial às fotografias. Por isso nunca teria jeito para ser paparazzi. Está muito em voga, dá muito dinheiro mas também muita chatice!
É um fenómeno do nosso tempo?
Já ninguém é importante por aquilo que é mas por aquilo que parece ser... Ou por aquilo que foi a avó ou o pai. Se um colunável tiver uma vida muito certinha, mas se a avó teve uma casa de meninas, está tramado. É isso que faz as capas das revistas.
Não é a sua linha?
De forma nenhuma. Não digo desta água não beberei, com os meus 56 anos ainda posso ser um "tio" paparazzi, mas não é de todo a minha linha. Gosto de fazer as coisas bonitinhas e mais divertidas. Mas realmente a imprensa habituou o público a espreitar pelo buraco da fechadura.
A imprensa cor-de-rosa transformou-se numa espécie de advogado do diabo?
Infelizmente, hoje em dia, estamos a ir por aí e as audiências confirmam que é isso que as pessoas querem. E não são só as revistas: a televisão também tem as tertúlias que falam a propósito e a despropósito da vida dos famosos...
Isso diverte-o?
Claro que diverte, até porque muitas dessas "celebridades", curiosamente, fui eu que as fiz. E disso não me vanglorio absolutamente nada e hoje faço mea culpa por ter posto na ribalta quem não tem classe, nem charme, nem coisa nenhuma.
Os famosos fabricam-se?
Quando apareceu a "Caras" era preciso criar figuras. Lembro-me da Bibá Pitta, por exemplo, que começou por mostrar às pessoas que ter uma filha diferente das outras não é um drama. Assim como a Maria Manuela Cirne que partilhou com o País inteiro o prazer de ser mãe aos 50 anos! Estes são os casos da vida real... que eu transportei para a vida social.
Mas também há casos sem história?
O mais emblemático é a Lili Caneças que eu conheci há 30 anos num concurso de sopas do restaurante da Tia Ló, e a Luísa Bravo, uma decoradora famosa, queria fazer a decoração da casa dela e pediu-me para eu a fotografar para a Nova Gente. Foi assim que a Lili apareceu pela primeira vez, ainda lado do marido, o senhor Caneças, pelo braço do Jorge Botelho Moniz, namorado da Luísa Bravo na altura.
A Luísa Bravo chegou a decorar a casa da Lili Caneças?
Afinal não se concretizou. Mas como ela era uma giraça, começámos a falar e passei a convidá-la para as minhas festas. Na altura não havia muita coisa, só a" Nova Gente", pelo que um pequeno grupo era suficiente para formar a turma dos colunáveis. Conhecíamo-nos todos, era uma família.
A família cresceu muito...
Já é uma enorme família de gente que vai aparecendo e que forma o "jet-set" da nossa terra. Se é bom ou mau? É o "jet-set" que merecemos...
Lembra-se das suas primeiras fotografias?
Comecei a fazer fotografia aos 14 anos porque o meu pai achava que não era civilizado ter três meses de férias, e, se eu queria gastar dinheiro no mês de férias, tinha de trabalhar no estúdio durante os outros dois.
Trabalhou no estúdio do seu pai durante muito tempo?
Não, porque nunca achei muita graça ficar muito tempo a fazer bilhetes de identidade, fotografias de bebés, casamentos e baptizados. Pensava sempre nas viagens, acima de tudo.
Como foi que tudo começou?
A minha mãe tinha um cabeleireiro e conhecia o Vítor Hugo, que, por sinal, era amigo da Maria Elvira Bento, da "Nova Gente". Foi através deles que entrei para a revista como fotógrafo.
Em que ano?
Em 1976. Fiquei lá 17 anos. Comecei a fazer fotografia e, pouco depois, a escrever os meus textos, acabando por ser cronista social. Dei voz à "Daniela", uma das colunas sociais mais conhecidas daquele tempo, feita por várias pessoas e eu fui uma delas.
Depois passou por muitas publicações...
Trabalhei oito anos na "Caras" e hoje em dia trabalho como "freelancer". Distribuo o meu trabalho entre a fotografia, os textos, as novidades, os acontecimentos e as produções.
Realizou o seu sonho de viajar?
Dei várias voltas ao mundo. Da Austrália aos Estados Unidos, do Japão às Ilhas Trindade. E o mais engraçado é que, embora nunca tenha assinado contrato com ninguém, porque sempre gostei de ser livre com tudo o que isso tem de bom e de mau, consegui patrocínios para todas as minhas viagens. Ou seja, era eu que arranjava as viagens e as propunha às revistas...
Ainda consegue lembrar-se de quantas vezes foi ao Brasil?
Mais de 20 vezes. Como gosto muito de festas e sou um festeiro profissional, assisti vezes sem conta ao maior espectáculo do mundo: o Carnaval do Rio! E durante sete anos convidei muitas figuras mediáticas para me acompanharem nesta aventura. E foi assim que desfilaram no Sambódromo, como figuras de destaque, a Cinha Jardim, a Alexandra, a Teresa Guilherme, a Helena Isabel, entre muitas outras.
Ele “fabricou” Lili Caneças
Este artigo tem mais de 16 anos
Ele "fabricou" Lili Caneças Abel Dias é um dos fotógrafos e cronistas sociais mais famosos de Portugal. Trabalhou na " Nova Gente", na "Caras", passou por muitos outros órgãos de comunicação social, mas o seu maior prazer é viajar! Ao Brasil foi mais de 20 vezes, desfilou no Sambódromo, e deu inúmeras voltas ao mundo. Há poucos dias, em Paris, Abel Dias deu uma entrevista exclusiva a SapoFama e contou alguns segredos do nosso "jet-set".
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