Um podcast sobre crimes portugueses que são impossíveis de esquecer. É esta a premissa de 'Dominó', o projeto de Rita Camarneiro em parceria com a AMC cuja primeira temporada já se encontra inteiramente disponível nas plataformas digitais.
Nos seis episódios desta produção, a comunicadora, de 35 anos, conta os detalhes principais de crimes como o assassinato de Carlos Burnay em 1952, encoberto pelo Estado Novo, o homicídio brutal de Jorge Machado e Maria Fernanda levado a cabo pelo filho em 1990, e ainda do caso Casa Pia, que é discutido há mais de 20 anos em Portugal.
Ao Fama ao Minuto, Rita Camarneiro explicou o surgimento deste podcast e contou-nos ainda o que tem sentido nesta nova fase profissional, na qual se tem dedicado à rádio.
Na receção da Polícia Judiciária já me disseram: 'Costuma vir cá tantas vezes porque é que não concorre?'
No 'Dominó', a Rita lembra os portugueses de alguns dos crimes mais emblemáticos do país...
É um podcast sobre crimes portugueses reais, alguns mais recentes, outros mais antigos. Existe uma grande investigação, o máximo que consigo fazer. Quando são crimes mais recentes é mais difícil chegar ao processo, porque nem sempre é público. Há uma grande pesquisa do meu lado e do Guilherme Michelini, o meu produtor, que é jornalista.
E como surgiu esta ideia?
Já há muito tempo que queria fazer um podcast sobre crime. Estar agora na Rádio Observador fez também com que eu ganhasse algumas aptidões para fazer um podcast. Surgiu esta oportunidade com o Guilherme Michelini, que me ajudou a contactar a AMC, que se mostrou disponível e aberta para tudo o que fui propondo. Deram-me liberdade criativa total. Já há algum tempo que tinha isto bem estruturado e à medida que fui escrevendo o guião para contar a história fui chegando ao formato que eu gostava.
Mas o que a levou a interessar-se por fazer um conteúdo relacionado com criminalidade?
Sempre tive este lado de detetive de investigação, de que sempre gostei. Durante muito tempo quis ser detetive - e ainda quero. Ao mesmo tempo, não sei se seria capaz de seguir toda aquela formalidade que é ser polícia ou detetive.
Na receção da Polícia Judiciária já me disseram: 'Costuma vir cá tantas vezes porque é que não concorre?'. Em tempos já tinha pensado nisso. É uma forma de aliar o meu gosto pela minha investigação e por histórias.
No 'Dominó' eu conto as histórias de uma forma muito imparcial. Tento ser rigorosa com as informações que dou mas vou fazendo os meus apartes.
Ao pensar nos diálogos entre o criminoso e a vítima, às vezes, há humor nisso.
A Rita tem mostrado, em todos os episódios, alguma ousadia na procura de fazer humor com assuntos sérios. Fazer este podcast só lhe fazia sentido se fosse desta forma?
Quando propusemos a ideia, nunca escondi este lado mais humorístico, porque sempre estive muito ligada à comédia e é uma forma de comunicação de que gosto muito e que me é natural. Ao início havia esse receio e disseram: 'Não temos a certeza, preferíamos que te mantivesses mais séria'. O que aconteceu foi que não dei ouvidos, porque sabia que estavam a pensar em algo que eu não iria fazer. Nunca vou gozar com a dor dos outros. Ao pensar nos diálogos entre o criminoso e a vítima, às vezes, há humor nisso, há sempre partes que têm graça e não é preciso excluí-las da história, até porque acho que a enriquece e torna algo difícil de se dizer um bocadinho mais fácil de se ouvir. Eu excluo as descrições muito gráficas, poupo um bocado o ouvinte ao que eu li. Tenho esse filtro, que é automático.
Houve alguma coisa que a tenha surpreendido ao longo das investigações para o podcast?
O que mais me surpreendeu foi a simpatia por parte da Polícia Judiciária e de todos os serviços a que tivemos de aceder. Deram-me acesso a todo o material, embora tivessem ocultado os nomes. Estamos a falar sempre de centenas e centenas de páginas, algumas delas antigas e escritas à mão. A Polícia Judiciária tapou os nomes todos de todos os documentos, tiveram de ler tudo. Há aqui muito trabalho. Gostei muito de ter lá ido, fui algumas vezes e quero ir mais.
Sinto-me muito feliz na rádio, tenho tido muito trabalho. É difícil às vezes pensar noutra coisa.
Alguma das histórias lhe motivou particular interesse?
Acho que a do Carlos Burnay, porque foi o primeiro caso e porque fui mesmo aos locais, consegui entrar na casa onde ele foi encontrado morto. Cheguei ao contacto com um historiador que é perito na história de Cascais e que conhecia bem a família e ele mostrou-nos a casa. O dono da casa estava a deitar fora o lixo, eu vi-o, expliquei-lhe o que estava ali a fazer e ele deixou-me entrar. Eu vi mesmo o quarto. Acho isso fascinante.
A primeira temporada já terminou, o que há agora pensado para o futuro?
Penso que existe interesse das duas partes para continuar, eu quero continuar a fazer isto. Faço este projeto com muito amor e sinto-me orgulhosa com o resultado.
Também é responsabilidade da Rita a sonoplastia e edição do podcast...
Sim, não sei o que demora mais. Fazer o guião demora muito, porque tenho de reunir toda a informação e estruturá-la. Contar uma história significa também escolher aquilo que tem interesse público. Faço o guião, a sonoplastia, a edição... é tudo da minha autoria.
E para além do 'Dominó', a Rita está agora focada na rádio?
Sim, estou na rádio agora e gosto muito da Rádio Observador. O ambiente de trabalho é incrível e sim, foi uma paixão que descobri depois dos 30 e adoro. Aprendi muita coisa. Existe essa liberdade para inovar e eu gosto muito disso numa empresa.
Tem interesse em voltar a trabalhar em televisão?
Sinto-me muito feliz na rádio, tenho tido muito trabalho. É difícil às vezes pensar noutra coisa. Gosto de documentários, sempre gostei de fazer histórias e de criar coisas, qualquer plataforma é boa para isso. Sempre quis fazer uma série, é algo que tenciono fazer ainda. É bom ir deixando as coisas maturar. Chega a uma altura em que as coisas fazem sentido e o tempo ajuda também ajuda a escolher as coisas.
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