O último episódio de 'Morangos com Açúcar' foi para o ar em setembro de 2012 mas quem pensa que o sucesso da série ficou por aí não podia estar mais enganado. A emissão da trama juvenil, desde então, tem sido repetida em canais como TVI Ficção e Panda Biggs, o que ajuda a justificar que continue a ser comentada e admirada - até por crianças que, na altura da estreia, ainda nem tinham nascido.
Dos 'Morangos' saiu uma boa parte dos grandes atores que atualmente brilham na televisão nacional. Por outro lado, também é impossível esquecer três bandas criadas no seio da série: D'ZRT, Just Girls e 4Taste.
Quando o grupo composto por Cifrão, Edmundo e Paulo Vintém anunciou, em julho do ano passado, o regresso aos palcos, muitos foram os fãs que pediram nas redes sociais que as restantes bandas da série também voltassem a juntar-se.
No que aos 4Taste diz respeito, não é impossível que voltemos a vê-los de novo em palco. No entanto, dos quatro membros, apenas Luke d'Eça, o vocalista, seguiu carreira na música. Recentemente, aceitou o convite da produção do evento 'Revenge Of the 2000's' para voltar a tocar os temas da banda, embora sozinho. Ao Fama ao Minuto, o cantor falou sobre este 'regresso ao passado' e contou, em exclusivo, uma conversa recente que teve com os antigos colegas de palco.
Luke, tocou os temas dos 4Taste no evento Revenge Of the 2000's, que aconteceu na primeira madrugada de 2023. Pode contar-nos como surgiu esse convite e como se sentiu?
Foi diferente e foi muito giro. Tudo aconteceu de uma forma natural. Um mês e pouco antes do espetáculo decidi tocar a 'Diz-me Que Sim', talvez a música mais popular dos 4Taste, só com voz e guitarra para o Instagram. Já não a tocava do início ao fim desde a última vez que toquei com os 4Taste em palco, em 2009, em Cascais. Tive imensos gostos e comentários, uns atrás dos outros, de pessoas que diziam que tinham saudades. No dia seguinte contactou-me o Paulo Silva, da organização do 'Revenge', a falar comigo para participar no evento.
Foi fantástico, estavam lá nove mil pessoas. As pessoas cantaram as músicas do início ao fim e isso é muito especial. Há muitas coisas boas na vida, pessoas que amamos, viagens que fazemos, mas não há nada exatamente igual à sensação de cantar uma coisa que milhares de pessoas estão a cantar.
Umas horas antes esteve também a cantar na gala final do 'Big Brother'. Gostou da experiência?
Dois ou três dias antes do 'Revenge' ligaram-me e disseram: 'Queres ir ao 'Big Brother? Queremos que vás lá cantar uma música'. Foi um bocadinho estranho, para ser sincero. Tinha estado a jantar uns dias antes com dois dos elementos dos 4Taste e falei-lhes do convite, disse-lhes que ia ser estranho tocar rock sem o resto da banda. Mas fui lá e não foi assim tão estranho, afinal. Foi surreal porque já não ia a este tipo de programas há muito tempo. Quando estava nos 4Taste era muito comum, e antes de entrar no estúdio houve um momento em que pensei: 'Será que ainda sei fazer isto? Não o faço desde sei lá de quando, vou cair do palco' [entre risos].
Ao subir ao palco, sentiu alguma nostalgia e vontade de voltar a tocar com a banda?
Está tudo em aberto, sinceramente. Nós somos amigos, encontrámo-nos no outro dia... Porque não?
Foi uma banda grande, com muitos fãs, e esses fãs merecem que a coisa seja feita da melhor forma possível
Mas há uma possibilidade concreta?
Para ser sincero, nunca falámos sobre isso, mas não quer dizer que não possa acontecer. O Francisco é advogado, o David é engenheiro, o Nélson tem a empresa dele de ar condicionado... Têm filhos e voltar com um projeto como os 4Taste é uma coisa que requere um certo esforço e tempo. Foi uma banda grande, com muitos fãs, e esses fãs merecem que a coisa seja feita da melhor forma possível. Não tem havido tempo por parte da maior parte das pessoas e basta que um não tenha tempo para que as coisas fiquem em 'águas de bacalhau'.
A vida dá muitas voltas, é muito engraçado. Na altura, pelo facto de termos saído de uma série televisiva, havia muito preconceito por parte dos media. A ideia que as pessoas tinham, antes de irem aos concertos, era que a banda era uma coisa fictícia, totalmente falsa. Era um bocado a ideia que o público português tinha. Tivemos situações de uma editora nos dizer: 'Levei esta música à rádio e gostaram imenso, depois perguntaram de quem é e disseram então, afinal, acho que é melhor não'. Na altura havia também muito aquela coisa de, aparecendo na TVI, a SIC já não te queria, a não ser que rompesses com o canal. Hoje em dia já não há essa rivalidade e os canais não têm medo de falar de um ator que esteve mais associado a outra estação.
Fez o clique e percebi 'é por isto que tantas rockstars caem nas drogas'. Quando acabam os concertos, queres substituir aquela sensação de euforia
A banda continua a ser muito falada ainda hoje, principalmente nas redes sociais. Têm noção do sucesso que continuam a fazer, mesmo depois se terem separado há tantos anos?
Só recentemente temos vindo a perceber que os adultos de hoje, que eram os jovens da altura, têm estas músicas nas suas vidas. Na altura, esforçámo-nos imenso para que tudo tivesse o máximo de qualidade possível, valeu a pena. É muito bom poder ouvir as músicas hoje e, não só não me envergonhar, como sentir orgulho.
Estive para aí uns três anos sem ouvir nada dos 4Taste e um dia peguei no segundo álbum, pus no computador e ouvi-o. Cheguei ao fim e disse 'fogo, isto está muito fixe'. Durante anos não sabia se era fixe ou não, quando meti o CD a dar não sabia o que ia acontecer, se ia gostar ou não. É bom que, passados tantos anos, os temas ainda deem prazer ouvir.
Lembro-me do verão em que tivemos mais concertos. Tivemos 50 concertos em menos de três meses, foram espetáculos quase todos os dias. Depois desse verão incrível e intenso, estive a bater mal durante, no mínimo, três meses. Não conseguia focar-me, não conseguia estar sentado durante cinco minutos. Foi aí que fez o clique e percebi 'é por isto que tantas rockstars caem nas drogas'. Porque quando acabam os concertos, queres substituir aquela sensação de euforia e não sabes para onde te podes virar. Parece que a vida, de repente, é uma seca. Nem toda a gente quer uma vida assim.
Os 4Taste ainda são populares, se calhar ainda são mais populares hoje em dia do que eram na altura
E com tanto sucesso que a banda tinha, por que motivo decidiram ainda assim terminar?
Foram muitos fatores. As artes em Portugal não dão grande estabilidade. Alguns dos membros começaram a ter filhos e a pensar que talvez não quisessem este estilo de vida. Quando fui jantar com os colegas dos 4Taste disse-lhes que a banda tem 40 mil ouvintes mensais no Spotify. Eles estão tão a leste do paraíso que disseram: 'Mas isso pode ser sempre o mesmo gajo a ouvir repetidamente' [entre risos]. E eu disse-lhes que não, que são pessoas diferentes e eles ficaram surpreendidos. Eles têm estado nas suas vidas e não têm pensado nisso. Disse-lhes que os 4Taste ainda são populares, que se calhar ainda são mais populares hoje em dia do que eram na altura. Há muita gente que cresceu e que ainda ouve as músicas.
Então o regresso não está descartado?
Não está descartado mas não há planos. Podemos voltar como podemos não voltar. Claro que gostava que um dia voltássemos, nem que fosse para dar um só concerto, mas não sei.
Os 4Taste duraram quatro anos e podíamos ter continuado, mas na altura estávamos todos numa de seguir caminhos diferentes
Em relação à sua carreira a solo, vêm aí novos temas. Vão ser lançados de forma isolada ou integrados num álbum?
Podemos chamar-lhe um álbum. Tenho estado a lançar música a música porque acho que é mais interessante assim. A mais recente, 'Beach', é um bocadinho mais diferente das outras porque tem um videoclipe.
De que forma nos consegue descrever o seu percurso profissional?
Comecei a tocar aos 15 anos, por volta de 2002. Depois fiz algumas bandas de bares mas sempre tive a teimosia de querer cantar originais. Ao mesmo tempo que comecei a aprender a tocar guitarra, comecei a escrever canções, foi uma coisa muito natural. Aprendi a tocar guitarra precisamente para me poder expressar criativamente.
Passado algum tempo fui convidado para um casting dos 'Morangos com Açúcar', disseram que queriam criar a segunda banda da série, o que se tornaria nos 4Taste. Passei nos castings, conheci os outros membros e formámos a banda, com um conceito mais rock. Os 4Taste duraram quatro anos e podíamos ter continuado, mas na altura estávamos todos numa de seguir caminhos diferentes. Foi tudo muito intenso, vendemos mais de 100 mil álbuns, hoje em dia isso é impossível, quase ninguém compra CD's [risos]. Tínhamos ideias diferentes de para onde a banda deveria ir e não nos entendemos, então ficámos por ali. Depois lancei um álbum a solo na Internet e não tive interesse em passar por editoras porque queria manter a minha criatividade artística intacta.
Em 2011, o país entrou numa crise brutal e não havia dinheiro para a cultura. Eu tinha metido na cabeça que queria apresentar aquele disco todo ao vivo. Para isso ia precisar de sete músicos e isso não era comportável financeiramente. Então, acabei por fazer um volte-face porque tinha muitas músicas na gaveta que não eram tão festivas e achava que se davam bem num ambiente só de guitarra e voz. Dediquei-me a um projeto chamado 'Mask Of' e toquei com ele de Norte a Sul do país durante vários anos em salas pequenas, uma coisa muito intimista. Este novo projeto, o 'Velvet Syn', é de certa forma uma continuação do 'Mask Of'. Estou super entusiasmado porque também faz parte da minha evolução pessoal e artística estar a explorar novos sons.
Não sou eu que persigo a música, é a música que me persegue a mim
O tema mais recente, 'Beach', tem uma história muito engaçada...
Sim, é como costumo dizer: não sou eu que persigo a música, é a música que me persegue a mim, e com esta música foi assim, ela recusava-se a morrer. Escrevi-a quando tinha 17 anos. Fui dar um passeio à praia, à noite, e um sonho que tinha tido transformou-se numa letra e veio-me tudo à cabeça, uma coisa que nunca mais me aconteceu na vida. Quando cheguei a casa ainda me lembrava da letra toda e gravei-a. Toquei essa música com várias bandas que fui tendo. Passados uns anos comecei a sentir-me farto dela e esqueci-me dela.
No meio do 'Velvet Syn', com a pandemia e eu sozinho em casa, encomendei um sintetizador novo e comecei a experimentar os sons predefinidos e houve um que me chamou à atenção. Pensei, 'isto faz-me lembrar a ‘Beach'' e passados uns 20 minutos tinha feito a música toda. Disse 'uau, ela reinventou-se completamente', esta música que eu achava muito foleira já há uns anos. Adoro-a.
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