É verdade que costumas dizer que só tens bom aspeto depois da meia-noite?

É verdade. Estou sempre com má cara antes da meia-noite. Quando subo ao palco até tenho bom ar e tal, mas durante o dia estou sempre com olheiras, pálido…

A meia-noite é a hora de acordar?

No verão, sim, mas no inverno, quando começa a escola das miúdas (duas meninas), chego a casa e vou levá-las à escola… Faz parte da minha rotina matinal e é uma coisa que adoro fazer.

Há três anos, vocês só eram praticamente conhecidos na vossa região (Ribatejo), mas agora toda a gente vos conhece. Como é que isso aconteceu?

Tem a ver com a televisão, com o “5 Para a Meia-Noite”. Todo este “boom” da “Midnight Band” temos de agradecê-lo ao apresentador Pedro Fernandes. Nós tocamos desde pequeninos, mas só conseguimos ter visibilidade a partir do momento em que começámos a aparecer na TV. 

Entraste no mundo da música como? Houve aí alguma influência familiar?

Sim, dos meus pais, do meu avô. Nasci numa família tipo circo, toda a gente toca, toda a gente canta. O meu avô tinha uma banda com o meu pai e com o meu tio. Cresci no meio da música. Não brincava com Legos quando era miúdo, brincava com pianos, desmontava teclas, montava teclas… Em vez de partir brinquedos, partia os pianos do meu pai.

Começaste a cantar em Londres, no metro…

Não. Estudei em Londres, mas omecei a cantar cá. Fui viver para Inglaterra com 9 anos, porque o meu pai queria que eu e os meus irmãos crescêssemos e aprendêssemos música lá. Naquela altura ainda havia aquela ideia de “ele estudou em Londres, vai voltar e ser alguém”. 

Ainda é um bocadinho assim…

Agora já é diferente, já ninguém liga muito a isso. Crescer em Inglaterra pode ser uma mais-valia, porque é um país com uma cultura musical muito forte e cantores do caraças, mesmo os de rua, mas acho que, no meu caso, se tivesse estudado em Portugal a minha vida agora seria a mesma. O essencial para seguir uma carreira na música é o coração, não é mais nada. A técnica vai-se desenvolvendo em casa. Tenho o exemplo do meu irmão mais novo, o André, o único de nós que já não estudou em Londres e que mete a um canto qualquer um a tocar. Conheço todos os guitarristas em Portugal, já toquei com os melhores, mas para mim o André é mesmo o melhor.  

Muito orgulho no teu irmão?

Ele é um caso único. O meu irmão é grande. O sucesso da “Midnight Band” deve-se ao André, o nosso “Zé Manel”. Ele influencia o resto da banda, nós ficamos todos deliciados de estar ali a tocar ao lado dele. Eu só tenho que dizer “Olá, boa noite” e ser simpático, ele faz o resto. Não imaginas a quantidade de pessoas que se deslocam para o ver e que deliram completamente com ele em palco. 

Atribuis o sucesso ao teu irmão, mas o rosto da banda és tu…

Sim, sou uma espécie de relações públicas. Gosto de beber copos com a malta e de pôr toda a gente bem disposta… Os momentos do romantismo são comigo, as baladas, o José Cid. O mais popular é a minha praia… O André é o rock e o meu irmão Valter é um grande baixista.

Vocês ensaiam muito? Quando vos escutamos temos a ideia de que há ali bastante improviso…

É tudo improviso. Nós nunca ensaiamos. Vamos para o palco sem rede e depois logo se vê… É um improviso saudável, nós não andamos à pesca das notas. Encaixamos muito bem uns nos outros e ficamos à espera dos sms do público, com os seus pedidos e sugestões. E corre sempre bem, o público diverte-se, nós divertimo-nos e a coisa acontece. Não sai igual ao original, não sai perfeito, mas sai sempre qualquer coisa e a pessoa que está a ouvir sente que foi feita para ela e sente-se especial. E essa interatividade é que faz com que sejamos aplaudidos no fim do espetáculo. Não temos aquela coisa do artista “quero ver essas mãos no ar…”. Nada disso. E no fim vamos todos para os copos, nós e o público. 

Já pararam para pensar em tudo o que vos aconteceu nos últimos anos?

Não penso muito nas coisas que fiz. Penso mais naquilo que ainda quero fazer. 

E o que é que está planeado para o amanhã?

Meter-me dentro de um estúdio e gravar o tema que vai ficar quando eu morrer.

Qual é esse tema?

Ainda não sei, mas tenho que deixar um. O Rui Veloso deixa, entre muitos “A Paixão (Segundo Nicolau da Viola)” e eu também quero deixar um. É o legado que quero deixar às minhas filhas e aos meus netos. Esse é o meu sonho de vida. Quero que um dia as minhas filhas estejam com os amigos e ouçam uma canção e digam “Isto é do meu pai”. Isso é o que eu quero. É o que me move. 

Quando eras miúdo e partias as teclas dos pianos, alguma vez achaste que chegarias onde estás hoje?

Tinha idealizado mais. Tenho 33 anos e sempre disse que aos 35 ia ter um Lamborghini… 

Estás perto?

Já não penso nisso, as minhas prioridades mudaram. Agora tenho duas filhas, mulher, casa, e o Lamborghini já não me faz falta nenhuma. 

Voltando aos sonhos…

Sempre tive o sonho de ser um Rui Veloso em Portugal, de ser o cantor que toda a gente sabe quem é. Não só eu, mas a família Antunes, eu e os meus irmãos. O meu avô não conseguiu fazê-lo e o meu pai também não, por isso eu quero mesmo deixar a marca da família Antunes na música portuguesa.