"O meu pai morreu há pouco mais de quatro meses. Ainda custa dizer, ainda nem tive tempo para ouvir, para ler, para sentir, estas palavras na minha cabeça". Foi com estas palavras que Pedro Chagas Freitas começou a publicação que fez na sua página de Instagram, onde fala da partida do progenitor, em março.
Com o filho ainda internada no hospital, tendo deixado recentemente os cuidados intensivos, o escritor desabafou: "Mais de quatro meses sem a tua pele, sem a tua voz. Nunca precisei tanto de ti como agora. Falo como posso contigo, todos os dias, no meio dos corredores do hospital, no quarto, à noite, quando o Benjamim adormece. Imagino o que me dirias, tento seguir os conselhos que penso que me poderias dar".
"Mais de quatro meses sem ti. Nem tive tempo de fazer o luto. Não tive tempo de me ocupar da tua falta, e sinto tanto, tanto a tua falta, meu amigo, meu companheiro de tudo. Preciso de ti. Preciso de te explicar o que sinto, a m**** toda que tem acontecido por aqui. Às vezes, quando estavas mais pensativo, dizias a frase que precisava ouvir, fazias-me pensar mais fundo no que não estava a ver bem", acrescentou.
"Preciso de um abraço, de sentir as tuas costas no meio dos meus braços. Preciso que me digas 'vai correr bem, filhote', porque vai, porque tem de correr, porque o teu neto merece", continuou.
"Morreste há pouco mais de quatro meses, pai. Dei hoje conta disso. Parei de repente no meio das escadas do internamento, a tua imagem apareceu inteira, como se caminhasses ao meu lado, como se subisses as escadas ao meu lado. É isso que fazes, foi sempre isso o que fizeste: subiste escadas, algumas íngremes, ao meu lado. Não vais deixar nunca de subir, de me empurrar se for preciso, de me puxar se for preciso", partilhou.
"Desde que te perdi que muita coisa se foi perdendo, que os dias foram caindo como se fossem bombas, num campo minado que parece não ter fim. Aqui continuamos, em Coimbra, na luta, algures no espaço vazio, e perigoso, que se situa entre a coragem e o pânico, entre a fé e o desespero", disse.
"O Benjamim saiu dos cuidados intensivos, aguenta tudo com estoicismo, como o herói que tu sabias que ele era, mas tem um caminho tão grande ainda para fazer. Morreste há pouco mais de quatro meses, meu pai. Foram os piores da minha vida, cada dia é uma maratona e uma montanha russa, mas isto vai passar. Vai passar", rematou.
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