Uma íntima coleção de cartas de amor, em que um adolescente Bob Dylan diz à sua namorada do tempo de escola que pretende mudar o seu nome e vender um milhão de discos, está à venda em Boston.

O jovem de Hibbing, Minnesota, na altura ainda conhecido como Bob Zimmerman, escreveu as 42 cartas, num total de 150 páginas, para Barbara Ann Hewitt, entre 1957 e 1959.

As cartas, que estão a ser leiloadas pela RR Auction, nunca tinham sido divulgadas e esclarecem um período na vida desta figura incontornável da história da música popular norte-americana, sobre o qual não se conhece muita informação divulgada pelo próprio.

"Este arquivo é um dos mais importantes do século XX, culturalmente, que já disponibilizámos", destacou o vice-presidente executivo da RR Auction, Bobby Livingston, um grande fã de Dylan.

A coleção, que inclui um luxuoso cartão de Dia dos Namorados, é um "relato em primeira pessoa dos anos de formação de Dylan", salientou.

A filha de Barbara Ann Hewitt encontrou as cartas depois da morte da sua mãe em 2020.

Os documentos, juntamente com os envelopes originais com a caligrafia de Dylan, estão a ser leiloados como um único lote, com um valor inicial de 250.000 dólares, sendo que a licitação encerra em 17 de novembro.

A RR Auction não divulgou o conteúdo exato das cartas com antecedência, mas estas contêm preocupações de adolescentes atemporais e universais: roupas, carros e gostos musicais, explicou a casa de leilões.

Dylan, agora com 81 anos, também incluiu pequenos poemas e declarou o seu amor a Hewitt.

O mais impressionante será, talvez, o facto de o músico ter imaginado o seu sucesso futuro.

Numa das cartas, pede feedback a Hewitt sobre a mudança do seu nome, mencionando Little Willie e Elston, e escreve sobre a venda de um milhão de discos, quando, na verdade, acabou por vender cerca de 125 milhões.

"[As cartas] Realmente dão uma ideia sobre como ele se vai apresentar. Isso mostra que Dylan sonhou com tudo isto e tudo se tornou realidade - ele previu", realçou Livingston.

Como a maioria dos romances de adolescentes, este também chegou ao fim.

Numa das últimas cartas, o futuro vencedor do Nobel da Literatura pede a Hewitt que devolva as fotografias que lhe enviou.

No entanto, parece que Dylan nunca esqueceu a namorada. A filha de Hewitt contou à RR Auction que Dylan ligou para a sua mãe num determinado momento, no final dos anos 1960, depois do músico ter atingido a fama, e pediu para que esta fosse para a Califórnia. Mas Barbara rejeitou.

Hewitt era ruiva e Livingston especulou ainda que as referências de Dylan a mulheres ruivas em algumas músicas foram inspiradas pela ex-namorada, incluindo 'Tangled Up in Blue' - onde se questiona "se o cabelo dela ainda é vermelho".

Bob Dylan é uma figura incontornável da história da música popular norte-americana, soma quase 40 álbuns discográficos - o último dos quais editado em 2020 - e mais de 125 milhões de discos vendidos em todo o mundo.

Em 2016, foi distinguido com o Nobel da Literatura por, segundo a Academia Sueca, "ter criado novas expressões poéticas no âmbito da música norte-americana".

Em Portugal, a obra literária do autor tem sido publicada pela Relógio D'Água, designadamente o primeiro (e até agora único) volume da autobiografia, 'Crónicas', o livro de ficção experimental 'Tarântula' (de 1966), e os dois volumes de 'Canções' (1962-1973 e 1974-2001).

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