Isabela Valadeiro. 23 anos. Alentejana de raiz. Eis as principais características da nossa entrevistada de hoje, que dá vida à animada Telma na série da SIC 'Golpe de Sorte'. Participou igualmente noutros projetos como 'A Herdeira' e 'Terra Brava'. De sorriso fácil e uma empatia calorosa, a artista falou-nos da sua história, que começou numa aldeia no Alentejo e que agora chega a todos os portugueses através do pequeno ecrã.

Sempre disposta a ver o lado bom da vida - e das pessoas - Isabela revela uma genuinidade à qual poucos ficam indiferentes.

O que podemos esperar desta Telma da quarta temporada do ‘Golpe de Sorte’?

O que posso dizer é que ela vai continuar a surpreender. Tornou-se milionária e a partir daí não há limites para a criatividade dela. Nunca a considerei uma rapariga menos esperta ou inteligente, pelo contrário, consegue conquistar o mundo, ou pelo menos o mundo onde ela vive.

A Telma é um bom exemplo de como as aparências podem iludir…

Exatamente. É destrambelhada, meia maluquinha, não tem muitos filtros, mas acho que tem uma grande inteligência emocional. No fundo tem uma essência muito simples e bonita.

Essa essência foi o que a agradou mais na personagem, quando a conheceu?

A Telma poderia ter ido por muitos caminhos. Nós, atores, temos a oportunidade de desbravar o nosso próprio caminho. Outra atriz a fazer este papel provavelmente não teria ido para isto. Fez-me sentido que ela não fosse só uma miúda sem cérebro, até porque as pessoas têm muitas cores e camadas.

Às vezes até tenho uma certa vergonha e acho que me resguardo demais

Podemos considerar a Telma como o alter-ego da Isabela?

Não acho que seja. Sou muito animada também, mas não tão expansiva como a Telma, pelo contrário, às vezes até tenho uma certa vergonha e acho que me resguardo demais. Não sou o centro das atenções como ela é. Nós atores temos sempre um pouco de cada coisa, acrescentamos sempre um pouco de nós e acho que isso é que é mágico.

Uma das características da Telma, assim que ganhou o Euromilhões, era o seu desejo de ser famosa. Esta é mais uma característica que em nada se identifica com a Isabela…

Não… desde que me lembro que quero ser atriz, obviamente que isso em Portugal representa uma série de coisas e que um dos ossos do ofício pode ser o reconhecimento público, não diria a fama. Não era essa a minha prioridade. A Telma quer ser famosa, só não sabe porquê [afirma enquanto se ri].

Mas ainda existe muito essa mentalidade no meio artístico?

Quem quer ser ator, tem de querer ser ator, de facto. Não é uma coisa de ser ator para ser famoso. Reality shows, por exemplo, eventualmente trazem a fama rápida, claro que também há outros propósitos, como por exemplo, o desafio, isso também é válido. Mas, pessoalmente não conheço ninguém, assim.

Nas redes sociais não lhe pedem conselhos?

Sim, pedem-me alguns e o melhor conselho que eu posso dar é que primeiro estudem. Eu tirei um curso de representação na escola de atores durante três anos e mesmo assim ainda me falta muita coisa para aprender. Investirem num trabalho pessoal e individual. Tudo vem com o trabalho e a dedicação que metemos em cada coisa.

É um trabalho como todos os outros, não tenho razão para me deslumbrar

E no meio de todo o sucesso não há a tentação de haver uma certa ilusão?

Há muita gente no meio artístico com muito valor e há muitos papéis para fazer. Por isso, há uns que correm bem e há outros que não. Isto é um trabalho como todos os outros, não tenho razão para me deslumbrar e ainda não fiz muita coisa. Sinto que tenho de melhorar muitas coisas, se calhar uma maior confiança e mais bases de trabalho.

Complete a frase: sou alentejana com orgulho, porque…

Por um milhão de coisas. Foi lá que eu cresci, evoluí, me tornei gente e tenho muito orgulho das pessoas que me rodeiam. É um sítio de gente generosa, honesta, que ajuda, que é companheira, que não cria nem espalha maldade, que respeita os outros.

Quando veio para Lisboa sentiu falta dessa genuinidade?

Não, pessoas genuínas e bondosas há em todo o lado, acho mesmo que é possível encontrá-las em muitos sítios. Na escola, por acaso, conheci lá uns quatro ou cinco alentejanos, fiquei muito contente. Por natureza somos todos bons, depois as circunstâncias é que nos mudam. Não senti falta, porque encontrei muita gente boa aqui.

Nessa altura veio viver sozinha?

Não, arrendei um quarto e dividia a casa com quatro desconhecidos, basicamente. Foi uma mudança radical na minha vida, porque saí de uma aldeia e fui para uma cidade que eu desconhecia.

Se pudesse dar algum conselho a essa Isabela que com 18 anos veio para Portugal, o que é que lhe diria?

Aquele que os meus pais me deram, no fundo: ser fiel a mim mesma e aos meus valores/princípios.

Na altura sentiu a necessidade de obter resultados rapidamente?

De todo, obviamente que eu queria ser atriz, mas primeiro o objetivo era estudar.

E a moda como é que surgiu?

Já havia pessoas a dizerem que eu podia tentar e que uma coisa poderia levar à outra. Mas sempre foi uma coisa na desportiva. Há um dia em que me escrevo numa agência, faço uma publicidade, mudo de agência e depois participo no concurso Face Model of The Year e ganho o concurso. Fiquei bastante surpreendida, porque não contava com isso. Fui passar um mês a Milão, depois fui a Paris fazer uns desfiles para a Fátima Lopes.

Não senti grande competitividade e vi miúdas lindas de todo o mundo

Gostou do ambiente? Há a perceção de que existe uma grande competitividade entre as modelos...

A minha experiência foi muito tranquila no sentido em que éramos muitas, mas as oportunidades também eram muitas. Não senti grande competitividade e vi miúdas lindas de todo o mundo. Para mim, a grande lição foi que não tem a ver com sermos melhores ou piores, mais feias ou mais bonitas, isso para mim não existe, cada cliente quer uma coisa em particular. O que pode ser bonito para mim, pode ser feio para ti, ou seja, há essa diversidade. Eu, por exemplo, fui escolhida para alguns trabalhos, nenhum muito grande. Dentro da minha casa éramos 12 miúdas, fui das que mais trabalhou, mas havia outras que faziam dois ou três trabalhos muito grandes. Fiquei muito contente com a experiência.

Há pessoas que acham que a beleza pode ser o único requisito para a escolha de uma atriz e não é

Chegou a sofrer com o preconceito de ‘ela é bonita e mais nada…’?

Há pessoas que acham que a beleza pode ser o único requisito para a escolha de uma atriz e não é. O trabalho vai falando por si. Já recebi muitos comentários. E tudo é subjetivo, há pessoas que gostam e outras não, a vida é assim. Já recebi um comentário de uma rapariga a dizer: ‘Isabela, peço imensa desculpa. Quando te vi pela primeira vez achei que eras uma pessoa apenas com uma cara bonita, mas depois mudei a minha opinião radicalmente’. Fiquei muito contente.

A violência não deveria gerar mais violência, estas manifestações não se deveriam tornar protestos com grandes confrontos, isso seria o ideal

Durante a pandemia, as pessoas surpreenderam-na pelo lado positivo ou negativo?

O mundo está a arder. As pessoas estão mais reativas, impulsivas... por um lado é bom, como no caso do George Floyd para que não haja mais racismo, que acho que é uma coisa obsoleta, já nem faz sentido, mas obviamente que devia haver um equilíbrio. A violência não deveria gerar mais violência, estas manifestações não se deveriam tornar protestos com grandes confrontos, isso seria o ideal. O mundo já está violento que chegue. Precisamos de manifestar os nossos ideais e aquilo que o mundo precisa de ouvir.

Já deu o abraço que queria à sua avó?

Não, tenho muito medo ainda, já dei negativo num teste, mas não… só se estivesse no Alentejo a tempo inteiro e não contactasse com mais ninguém é que teria essa coragem. Dei o abraço através de um vidro… foi o possível. Acho que é a maior prova de amor que podemos dar neste momento.

Falando de amor… o que leva alguém a apaixonar-se pela Isabela?

Tenho bem presente os meus valores, acho que sou bastante honesta, justa, e acho que sou uma miúda simpática. Gosto de uma boa conversa e da empatia. Tenho algum sentido de humor e gosto de fazer os outros rir.

O que é que faria com 100 milhões de euros?

Primeiro investia no Alentejo num turismo rural, depois comprava uma casa em Lisboa, fazia uma grande viagem pelo mundo, dava um dinheirinho aos meus amigos que precisassem, dava a instituições... já tinha muitos planos.

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