Não era fã de relógios, apesar de, no final do ano passado, a relojoeira suíça ter lançado uma versão feminina e uma versão masculina do Tissot Amália. Mas de joias não se pode dizer o mesmo. Um século após o nascimento de Amália Rodrigues, os requintados adornos da fadista que fez sucesso além-fronteiras continuam a ser (muito) elogiados. "Ela tinha joias lindíssimas", recorda a fadista Alexandra. Em 2012, a Ouronor e a Fundação Amália Rodrigues recriaram algumas delas numa luxuosa coleção de joalharia.

Para assinalar o centenário do nascimento da fadista, a empresa de Póvoa de Lanhoso, que produz réplicas de jóias originais da artista e peças contemporâneas inspiradas no fado e no folclore português, criou uma medalha comemorativa em prata de edição limitada e lançou a coleção Centenário e a coleção Amalianos. As novas propostas inspiram-se nalguns dos luxuosos adornos que a intérprete de "Estranha forma de vida", "Barco negro" e "Povo que lavas no rio" usava em palco e em ocasiões especiais.

A pregadeira Estrela, recriada na coleção Amália, em 2012, é uma das joias que a fadista imortalizou. Amália Rodrigues referia-se ao broche de prata em forma de estrela cravada de brilhantes que a acompanhava para praticamente todo o lado como "a minha estrelinha". Raramente a largava. Uma vez, perdeu-a em Paris e fez toda a sua equipa andar na rua, à noite, até a encontrarem, algumas horas depois. Descobriram-na suspensa na grelha de uma sarjeta. "Brilhava imenso", recorda uma das testemunhas.

"A minha preferida também é a Estrela", assumiu Ana Moura, uma das várias fadistas convidadas para o lançamento da coleção, em Lisboa. "Essa é a minha paixão", desabafa também Alexandra. "A Amália usava-a ao peito, na cintura e até no braço", recorda a cantora e atriz, que já interpretou a intérprete de "Foi Deus" e "Gaivota" num musical encanado por Filipe La Féria. "Nós usámo-la na peça", relembra Vanessa, cantora e atriz, que também gostou muito de um coração de filigrama que integra a linha de joalharia.

Pelas pesquisas sobre a fadista que tiveram de fazer, por questões profissionais, ao longo das suas carreiras, tanto Alexandra como Vanessa e Ana Moura admitem que a diva do fado seria uma mulher vaidosa. "Era uma mulher que tinha imenso cuidado com a imagem. Aliás, foi uma vanguardista nesse sentido, porque vestia sempre trajes glamorosos", elogia Ana Moura. "Era uma mulher simples que veio do povo e que o assumia mas adorava joias e tinha muita bijutaria", recorda Alexandra, 70 anos.

"Não era alta, mas podia pôr qualquer coisa, porque aguentava tudo. Era uma mulher fantástica, muito inteligente e de muito bom gosto", refere Alexandra. E quem seria mais vaidosa? Amália Rodrigues, Alexandra, Ana Moura ou Vanessa? "Eu também me preocupo com a imagem mas deve andar ela por ela", admite Ana Moura, entre risos. "A Amália, provavelmente, não sei", responde Vanessa. "Também não gosto de sair à rua se não estiver arranjada, nem que seja para ir comprar pão", revela a cantora e atriz.

Alexandra também não sabe responder. "Não sei quem seria mais vaidosa, se ela, se eu, porque privei com ela mas não posso dizer que a conheci bem. Mas eu também tenho a minha vaidade", assume a fadista. "Também gosto de pôr coisas em cima de mim. Anéis, pulseiras... Não sou demasiado vaidosa mas gosto de me arranjar e de estar bem. Sou equilibrada nesse aspeto", afiança, no entanto, a intérprete de "Zé brasileiro português de Braga", lançado em 1979, um dos êxitos populares do início da década de 1980.

Outra das imagens de marca de Amália Rodrigues eram os óculos de sol vistosos que a fadista gostava de usar. Para assinalar o centenário do nascimento da artista, a Prooptica, fabricante de óculos, lentes oftálmicas, armações e acessórios, desenvolveu, com o aval da fundação que gere o património que a diva do fado deixou, a coleção Amália Eyewear, lançada nas últimas semanas. A atriz Marta Andrino foi a artista escolhida para promover a linha inspirada naquela que foi a maior fadista portuguesa.