Até ao dia 17 de janeiro de 2011, o preço da sua viagem ao Brasil poderia ser agravado em 15 cêntimos, valor até aí pago pela vacina contra a febre amarela, aconselhada em alguns casos. Agora esse agravamento pode custar-lhe mais 100 euros por pessoa.

A razão? O aumento do preço de algumas vacinas internacionais. Para além da vacina contra a febre amarela, também as vacinas contra a febre tifoide, a raiva, a meningite meningocócica e a encefalite japonesa, até então gratuitas, passaram a ser pagas pelo viajante.

Recusar a imunização, contudo, não é uma opção. Por isso, conheça os riscos associados a estas doenças e o (novo) preço de uma viagem segura, para que não tenha más surpresas no regresso de uma viagem de sonho.

Febre amarela

O vírus é transmitido pela picada de um mosquito presente em algumas zonas tropicais de África, América Central e América do Sul. Caracteriza-se pelo aparecimento de febre alta, arrepios, dores de cabeça, articulares e musculares, náuseas e vómitos. Em fases mais avançadas, surge icterícia e quadros hemorrágicos graves, podendo ser fatal.

A vacina é a principal forma de prevenção. Garante uma proteção de cerca de 100 por cento e é obrigatória para a entrada em alguns países africanos, sendo desaconselhada a grávidas, crianças com idade inferior a nove meses e pessoas com mais de 65 anos. É  aplicada numa dose única. Esta vacina custa 100 €.

Febre tifoide

Trata-se de uma infeção causada pela bactéria salmonella typhi, sendo mais frequente
nos países em vias de desenvolvimento com condições sanitárias precárias. A  transmissão ocorre através da ingestão de água ou de alimentos contaminados com fezes de indivíduos infetados, apresentando sintomas semelhantes a uma gripe, como  febre, dores de cabeça e abdominais, obstipação e, em alguns casos, diarreia.

Se não for tratada, pode trazer complicações gastrointestinais e ser fatal. Cerca de dois a cinco por cento das pessoas que contraem febre tifoide tornam-se doentes crónicos. A vacina é aplicada numa única dose e oferece uma proteção de cerca de 70 por cento. Está  desaconselhada a grávidas e crianças com idade inferior a dois anos. Esta vacina custa 50 €.

Encefalite japonesa

Esta doença inflamatória do sistema
nervoso central é causada por um vírus transmitido por mosquitos.

Os
países mais afetados são Índia, Nepal, Paquistão, Vietname, norte da
Tailândia, Indonésia e Timor.

O risco de infeção é baixo para a maioria
dos viajantes, sendo mais comum em zonas rurais e agrícolas, de clima
tropical, nas épocas de chuva.

Os sintomas podem ir desde
febre e dores de cabeça até casos mais graves, com febre alta e sinais
de meningite, podendo resultar em coma, lesões neurológicas permanentes e
morte. A vacina oferece uma proteção entre 80 e 90 por cento e é dada
em duas ou em três doses. Está contraindicada a grávidas e crianças com
menos de 12 meses. Esta vacina custa 100 € (por dose).

Meningite meningocócica

É causada pela bactéria meningococo e os principais sintomas incluem
cefaleia, febre alta, náuseas, vómitos, confusão mental, rigidez da
nuca, podendo evoluir para coma, infeção generalizada e morte. Afeta
sobretudo
recém-nascidos e crianças com menos de cinco anos, na região a sul do Sahara, desde o Senegal à Etiópia.

O risco de contrair a doença é considerável nas áreas endémicas, em espaços fechados ou sobrelotados. Recomenda-se a
toma da vacina tetravalente, que confere imunização contra quatro
serogrupos da bactéria. Na Arábia Saudita, a vacina é exigida a todos os peregrinos que visitam Meca. É administrada numa única dose e está
contraindicada a grávidas e crianças com menos de 12 meses. Esta vacina custa 50 €.

Raiva

O vírus da raiva infeta animais domésticos e selvagens (cães, gatos, raposas, morcegos, macacos, entre outros animais), sendo transmitido através do contato com a saliva, após mordedura. A  maioria dos casos é fatal e ocorre em África e na Ásia.

Os viajantes que permanecem em estâncias turísticas têm um baixo risco de contrair o vírus. No caso do vírus da raiva, a vacina é o principal método de prevenção, pelo que a deve forçosamente tomar para prevenir esta doença.

A vacina que protege contra este vírus é recomendada a pessoas que viajam para áreas endémicas, especialmente médicos veterinários e turistas de aventura que tenham contato direto com animais potencialmente raivosos. É contraindicada a crianças com menos de 12 meses. Consoante a indicação médica é administrada até três doses e até sete doses em pós-exposição, mas neste caso é gratuita. Esta vacina custa 50 € (por dose).

Vale a pena arriscar?

Viajar sem vacinação pode ser uma tentação para quem pretende poupar alguns euros na viagem. «O risco de transmissão para a maioria dos viajantes é baixo e nenhuma  vacina é 100 por cento eficaz, no entanto, a maioria destas doenças pode ser grave e  potencialmente fatal. Além disso, se não forem tomadas as vacinas obrigatórias, as autoridades do país de destino podem impedir a entrada do visitante», alerta Jorge Atouguia, infeciologista.

Levar a vacina no destino, onde é gratuita ou mais barata, poderá ser uma forma de poupar. «O problema são os riscos de assepsia numa vacinação injetável feita no  aeroporto», explica. Além disso, a imunização não é imediata. Em geral, são necessários no mínimo dez dias para a vacina fazer efeito.

Texto: Vanda Oliveira com Etelvina Calé (médica de saúde pública) e Jorge Atouguia (médico especialista em infeciologia e medicina tropical)