Em Portugal, são muitos os que as fazem. As viagens a pé podem, todavia, provocar vários problemas, sobretudo associados aos aparelhos locomotor e cardiorrespiratório. Os principais alvos do desgaste são os membros inferiores e os pés, pelo contacto repetido com o solo. O sistema cardiorrespiratório será mais suscetível aos esforços relacionados com a velocidade da marcha, as subidas e o aporte de líquidos, de sais minerais e de energia, sobretudo à custa dos alimentos.
Quanto maior for a idade, mais necessária uma avaliação médica antes de iniciar o treino para a caminhada. O médico assistente deverá fazer a avaliação clínica e analítica e, existindo dúvidas, enviar o viajante para as especialidades médicas respetivas. O planeamento adequado deste tipo de peregrinações permite-lhe antecipar e prevenir eventuais problemas que possam surgir. Veja, de seguida, alguns dos cuidados a ter.
A distância máxima que deve percorrer diariamente
Quanto maior for a distância, maior será o desgaste. O número de quilómetros recomendado varia entre 20 e 30 por dia, tendo sempre em conta o acidentado do terreno. Aconselho a estudar bem cada etapa, de forma a não exagerar na programação para cada dia. Neste tipo de peregrinação os caminhos podem ser mais acidentados. São também mais interessantes, convidando a paragens e contemplação. Considere estes fatores na preparação da viagem.
O que deve verificar antes de partir
O treino é, como em tudo na vida, fundamental. Está recomendado fazer marcha diária de, pelo menos, cinco quilómetros, cerca de dois meses antes da peregrinação. Deve andar com um passo largo, ritmado e inclinando o corpo ligeiramente para a frente. É durante este período que o viajante avalia o seu estado físico, problemas e dificuldades, prevenindo situações mais graves que possam surgir na peregrinação.
O treino pressupõe, também, a experimentação e adaptação aos materiais a utilizar durante a caminhada, passando pelo calçado, pelas meias e por outra roupa, que deve ser confortável, para além dos bastões de marcha, recomendados. Muitos dos peregrinos que se dirigem anualmente a Fátima ou a Santiago de Compostela já os utilizam. Tenha também em conta o peso e as correias da mochila e não esqueça o chapéu.
O que deve levar a bagagem
Encontram-se bem difundidas por associações religiosas e organizações várias listas de material a ser utilizado pelos peregrinos e recomendações sobre comportamentos. Se tiver carro de apoio, divida a bagagem. No carro leve uma muda de roupa para cada dia, um estojo médico, com medicamentos que toma habitualmente, anti-inflamatório em creme ou gel e em comprimidos, antipiréticos, hidratante, ligaduras elásticas, antissético e compressas.
Na mochila, leve bastões de marcha, chapéu, óculos de sol, protetor solar, capa de chuva, meias de reserva e uma garrafa de água. Hidratar-se ao longo da caminhada é uma regra essencial. Não deixe também de incluir bolachas energéticas e frutos secos e/ou açúcar. Deve munir-se ainda de um saco-cama, de produtos de higiene pessoal, de uma toalha de banho, de um guarda-chuva e de uma lanterna.
8 cuidados a ter na estrada
Estas são as principais recomendações que deve ter durante o trajeto:
1. Caminhe em segurança.
2. Use sapatos confortáveis, já experimentados por si no treino.
3. Use sempre meias de algodão, sem elásticos nem costuras.
4. Evite caminhar durante as horas de maior exposição solar.
5. Beba muita água. Coma, de três em três horas, alimentos leves e de fácil digestão.
6. Faça pausas de uma hora de manhã e de duas horas depois do almoço.
7. Quando descansar, eleve os pés, mantendo os joelhos apoiados.
8. À noite caminhe com sinalização luminosa e refletora e nunca sozinho.
Texto: Jorge Atouguia (médico infecciologista especialista em medicina do viajante)
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