A travessia de “balsa” desde o continente até Ilhabela demora o tempo que o tempo demora, nem mais nem menos. A viagem pachorrenta faz com que os nossos sentidos, chegados ao litoral ainda condicionados pelo ritmo caótico de São Paulo, de onde partimos há pouco mais de uma hora atrás, se acalmem e entrem no balanço deste pequeno paraíso situado a poucos quilómetros ao largo da costa.

A partida faz-se de outro santo, São Sebastião, pequeno vilarejo de pescadores que merece realmente o nome beato, tal é a paz que se vive nas suas ruelas. É como que um portão sagrado de acesso a um mundo ainda mais tranquilo que se guarda além do canal de água que separa as duas terras, a firme e a do ilhéu.

Ilhabela é um nome recente e popular, porque na verdade a ilha chama-se Ilha de São Sebastião, tendo sido baptizada em 20 de janeiro de 1502 (dia de São Sebastião) por uma expedição portuguesa liderada por Gonçalo Coelho, e que tinha na tripulação empregado como cosmógrafo o famoso Américo Vespúcio. Passados uns séculos, o povoado da Ilha recebeu o nome de Villa Bella da Princesa, mais tarde Villa Bella (popularmente), depois Formosa (por decreto de 1940), e finalmente em 1944 foi re-baptizado de Ilhabela, nome que a própria ilha também adoptou, e que lhe assenta tão bem.

Até à década de 50 a população da ilha era quase exclusivamente uma colónia que vivia da agricultura e da pesca. A partir daí começam a chegar os primeiros migrantes e turistas, estes vindos principalmente da capital paulista. O turismo desenvolveu-se com mais intensidade a partir dos anos 60, e Ilhabela começou a criar a sua aura de magia nunca perdendo o charme e o carácter de seclusão e intimismo que faz dela ainda hoje um paraíso na costa Brasileira.

Uma estadia em Ilhabela permite descobrir praias e enseadas encantadoras, floresta, aldeias tradicionais, e um estilo de vida descontraído e tranquilo. Alguns dos pontos obrigatórios incluem as Cachoeira da Toca e do Gato, as praias de Japaquara, da baía de Castelhanos, do Bonete, de Indaíauba, do Julião e da Feiticeira, a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda e do Bom Sucesso, para além das ruas da sua principal povoação, com as suas recheadas de lojas de artesanato e de bares e restaurantes. Algumas das praias só são acessíveis em veículo 4x4 ou a pé, mas os visitantes são premiados com locais desertos e de uma beleza estonteante. As mais remotas são rodeadas de alguns dos mais bem preservados trechos de Mata Atlântica de toda a costa do Brasil, redutos da beleza primitiva que recebeu os primeiros Portugueses que a alcançaram. É possível alugar um barco para visitar estas praias escondidas vindo do mar, o que é uma experiência ainda mais inesquecível.

Os amantes de desporto podem usufruir das condições naturais da ilha e fazer mergulho, vela, windsurf , passeios de bicicleta de montanha e caminhadas a pé, a mais interessante das quais é a subida ao Pico do Baepi, que oferece uma vista sobre toda a ilha. Mas a principal atração de Ilhabela é mesmo não fazer nada na praia e viver a vida ao ritmo brasileiro. Há melhor?

Miguel Júdice

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