Grande parte da colecção de arte de Joe Berardo encontrou neste jardim, marcado por traços das culturas portuguesa, oriental e africana, o local natural e privilegiado de comunhão com o público. Escultura, azulejaria, estatuária e minerais, entre outras expressões artísticas, ganham destaque entre milhares de espécies oriundas de todo o mundo.
O espaço abriga uma das maiores colecções de cicas do mundo, que é também uma das mais notáveis pela sua raridade. São cerca de um milhar de exemplares de 68 espécies diferentes, oriundas sobretudo da África do Sul, mas também do Vietname e Japão. Vivem no Monte, na arriba sobranceira ao centro do Funchal, a 600 metros de altitude, no Jardim Tropical Monte Palace.
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As cicas, muitas vezes confundidas com palmeiras graças à forma comum da cabeça de folhas, chegaram ao arquipélago graças à devoção de Joe Berardo. O comendador adquiriu um gosto especial por estas plantas e concedeu-lhes um lugar privilegiado no jardim.
O espaço dedicado a África, onde o comendador assentou arrais quando era jovem, "constitui por si só motivo de visita", assegurou à Jardins com uma visível ponta de orgulho.
No património de cicas, a espécie Encephalartos, da família Zamiaceae, está muito bem representada. Mas são as raras oliveiras do Alqueva que ocupam o local mais nobre do Monte Palace. Exibem os seus dotes logo à entrada do jardim para nem sequer passarem despercebidas ao visitante mais desatento.
Não fosse o empenho do comendador, estas árvores com mais de 2.300 anos estariam actualmente submersas pela albufeira do Alqueva.
Oriundas dos quatro cantos do mundo, milhares de outras espécies encontraram nas montanhas do Funchal o local perfeito para habitar. Azáleas, orquídeas dos Himalaias, urzes da Escócia e próteas da África do Sul ganham relevo neste espaço dedicado também à arte antiga e contemporânea.
Espécies autóctones e africanas defendidas
O Jardim Tropical Monte Palace divide-se em três áreas principais distribuídas por 7 hectares. No corpo central, impõem-se dois jardins de estilo oriental, designados de Norte e Sul. Estes espaços verdes foram concebidos na tentativa de recriar o estilo e filosofia orientais, assim como os dois séculos de influência portuguesa no Oriente.
A segunda área é dedicada ao continente africano, onde as cicas são rainhas. Por último, o espaço dedicado à floresta endémica laurissilva da Madeira. Num hectare de vegetação autóctone do arquipélago, co-habitam espécies raras e em vias de extinção, cujo objectivo primordial é apoiar projectos ambientais.
"Quando, por exemplo, a floresta é devastada por um incêndio, enviamos exemplares para repovoar a região afectada", assegura um técnico do Monte Palace. Aqui, encontra-se um dos maiores loureiros da Ilha da Madeira, além de dragoeiros (Dracaena draco), em flor até Outubro. O arbusto euphorbia piscatória, o til, o vinhático, o orgulho da Madeira, a cabreira, o mocano (Pittosporum coriaceum), fetos, cedros e barbusanos destacam-se e pincelam a vegetação exótica de cores e tons vibrantes.
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História de Portugal aos quadradinhos
Cascatas, quedas e canhões de água são uma constante neste pulmão verde. Outra paixão do comendador, o principal mentor do jardim, que pretendia criar as levadas típicas da Ilha da Madeira.
Entre os caminhos pedonais, pontes ornamentais vermelhas, bem ao estilo oriental, contrastam com o verde dos carvalhos canadianos, sequóias, bambus, loureiros entre muitas outras espécies tropicais que constituem a paisagem do Jardim Oriental Norte.
Azulejos, esculturas, mármores e muitas outras peças de arte sobressaem na Alameda Principal deste jardim que faz denotar quer influências chinesas quer japonesas.
Joe Berardo encomendou ao artista argentino Alberto Cédron uma colecção de 40 painéis de azulejos em terracota sobre a história de Portugal. Cada painel retrata os factos mais importantes de cada reinado. Inicia com D. Afonso Henriques e termina com a adesão do país à Comunidade Europeia.
Ainda neste espaço, o olhar prende-se em 166 placas cerâmicas, expostas numa estrutura de ferro, que contam os principais feitos dos portugueses no Japão.
Entre as obras de arte mais antigas do jardim, destacam-se o tronco do Imperador Adriano, do Séc. II DC, e duas janelas Manuelinas em granito do séc. XVI. À saída do Jardim Oriental, a calçada típica madeirense de pedra lascada eleva-se sob a vegetação.
Tributo ao Oriente
A zona mais antiga do Monte Palace é o jardim romântico que alberga o maior lago do espaço, onde vivem peixes Koi de várias cores e tamanhos. São oriundos do Leste da Ásia, sobretudo da China. Descendem dos peixes pretos e têm a particularidade de viver mais de 100 anos. São, por isso, muito respeitados na cultura oriental.
No topo deste jardim está sedeado o imponente palácio, a única zona com acesso interdito. De estilo romântico, o palacete, outrora hotel, conheceu a luz do dia ainda no séc. XVIII e fazia as delícias dos turistas, encantados com a panorâmica proporcionada pela baía do Funchal a seus pés.
Paredes meia com o palácio fica o Jardim Oriental Sul, guardado por dois cães de Fó, em mármore, animais míticos guardiães que se encontram regra geral à entrada dos templos chineses. Reza a lenda que se o visitante conseguir dar uma volta completa à bola móvel que guardam nas bocas entreabertas é agraciado com a bênção da sorte.
As orquídeas são aqui as principais protagonistas. Dois orquidários cobertos que se desenvolvem para lados opostos guardam uma colecção imponente de orquídeas que crescem harmoniosamente ao lado de buxo, patas de elefante do México e fetos arbóreos da Nova Zelândia.
Esculturas budistas, bancos de pedra com decoração oriental, dragões, lanternas em pedra e pagodes são os elementos decorativos dos jardins de inspiração asiática.
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Do teleférico aos carros de cesto
Além de museu ao ar livre, este jardim alberga ainda o Museu Monte Palace, com três galerias abertas ao público desde 2004 com duas colecções permanentes. As mais de mil esculturas contemporâneas do Zimbabué em exposição pertencem à comunidade de artistas de Tengenenge e foram adquiridas em 1982 pelo próprio comendador.
Os cerca de 300 escultores produziam no seio da floresta e não utilizavam qualquer ferramenta mecânica. Dois pisos do museu dedicam-se a esta exposição que tenta recriar o ambiente in loco da comunidade. Entre as peças, destacam-se os pássaros/aviões que representam os raids que a comunidade sofreu por parte do Estado quando atacava os opositores que encontravam naqueles bosques o esconderijo perfeito.
A colecção de minerais tem a particularidade de estar em exposição sem barreiras físicas. São mais de 700 exemplares de minerais de Portugal, Brasil, África do sul, Zâmbia, Peru, Argentina e América do Norte.
Ouro do Canadá, cobre da África do Sul, madeiras petrificadas da Argentina, com cerca de 200 milhões de anos e a galeria das pedras preciosas, com mais de 300 gemas, merecem um olhar mais atento.
Para visitar o Jardim, a melhor opção é o teleférico. A viagem de 15 minutos oferece paisagens magníficas sob a baía e as zonas montanhosas da capital da Madeira. À saída, aproveite a boleia dos carreiros do monte. Dois homens empurram os carros de cestos, uma aventura vertiginosa de três quilómetros rica em adrenalina que faz esquecer o mais radical dos desportos.
FICHA TÉCNICA
Museu Monte Palace
Caminho das Babosas, 4A
9050-288 Funchal
Madeira
Tel.: 351 291 74 26 50
Fax: 351 291 78 36 73
E-mail:info@montepalace.com
Horário: 9.30 às 18 horas
Horário do Museu: 10 às 16.30 horas (apenas o jardim e o museu são visitáveis)
Transportes: Autocarros 20,21,22 ou 48 e teleférico do Funchal
Texto: Rita Gonçalves
Foto: Luís Melo
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