«Está a ver a extensão deste areal? É enorme, não é? Eles ocuparam-na toda. Isto, em junho [de 2016], parecia um estaleiro! Havia figurantes a fazer de soldados por todo o lado, mas muitos eram de cartão», conta ao Modern Life, visivelmente entusiasmada, Fanny, uma habitante de Dunquerque que acompanhou de perto as filmagens da longa-metragem homónima que o realizador Christopher Nolan, um dos filmes mais esperados de 2017, na praia de Malo-les-Bains.
A localidade virada para o mar, uma estância balnear muito procurada pelos franceses, é um dos cenários da película, baseada no livro «Dunkirk» de Joshua Levine, que recria a Operação Dínamo, uma ação militar que permitiu salvar mais de 338.000 soldados durante a II Guerra Mundial. Além da praia, também algumas das ruas estreitas do centro histórico, marcadas por uma arquitetura com um estilo flamengo, brilham no grande ecrã.
Depois de deambular por lá, impõe-se, de imediato, uma visita. Localizado na Rue des Chantiers de France, o Musée Dunkerque 1940 - Opération Dynamo, que para tirar partido da visibilidade gerada pelo lançamento do filme foi aumentado, passando a ocupar uma área de 1.200 metros quadrados, reúne uma importante coleção de objetos militares da época, fotografias, cartas militares e restos de peças de aviação.
Memórias permanentes de tempos inesquecíveis
Outra das atrações da cidade é o Princess Elizabeth. O paddle steamer, um barco a vapor com rodas laterais, construído em 1926, deve o nome à neta de George V, rei de Inglaterra, que mais tarde seria rainha, Isabel II. A monarca de maior longevidade e com o reinado mais longo na história do Reino Unido. Uma verdadeira peça de museu. Em junho de 1940, efetuou quatro travessias no Mar do Norte, salvando 1.673 soldados.
Ancorado no Bassin de la Marine, o porto de recreio instalado no centro da cidade, foi restaurado e acolhe agora um bar-restaurante com uma vista privilegiada. É mais uma das memórias dos episódios bélicos que por lá ocorreram, tal como o filme de Christopher Nolan, o Memorial dos Aliados e o Memorial Britânico, que recorda os soldados britânicos mortos no território continental europeu.
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Modernismo cosmopolita numa cidade orgulhosa
Apesar de muito ligada a um passado que teima em preservar e promover, Dunquerque é hoje uma cidade moderna e cosmopolita, com uma oferta cultural e turística maior e mais diversificada do que, à primeira vista, poderia pensar. A lista de pontos de passagem obrigatórios inclui o Beffroi de Saint-Éloi, construído em 1440, uma das torres defensivas que eram muito comuns no norte de França nos séculos XIV e XV.
Com 58 metros de altura, tal como o Farol de Risban, outra das atrações, domina a cidade, o porto e a praia. É o melhor lugar para conseguir uma vista única. São 360 graus de encantamento. Para lá chegar, depois de apanhar o elevador, é preciso subir cerca de 60 degraus. Mesmo ao lado, uma igreja imponente (também) atrai as atenções. É a Église Saint-Éloi, onde está sepultado Jean Bart, outro dos heróis da II Guerra Mundial.
O Museu Portuário e o Hôtel de Ville de Dunkerque não podem ficar de fora de uma escapada citadina, assim como as icónicas construções do All Suites Appart Hotel Dunkerque, uma unidade residencial composta por várias casas modernas com uma fabulosa vista de mar, no fim da Avenue de l'Université. Uma zona muito frequentada pelos habitantes locais. Ao fim do dia, são muitos os que gostam de ir para lá correr.
A (muita) oferta para os amantes de arte contemporânea
A atividade cultural em Dunquerque é grande. O antigo FRAC Nord-Pas-de-Calais, FRAC Grand Large Hauts-de-France a partir de setembro de 2017, além de também ter um miradouro que permite alcançar 40 quilómetros de praias de areias finas e observar mais de perto aquele que é o terceiro maior porto de França, disponibiliza seis andares de exposições de arte contemporânea e de espaços para workshops e palestras.
Além do FRAC, sigla de Fonds Régional d'Art Contemporain, Fundo Regional de Arte Contemporânea em português, há outra sigla que os amantes desta tendência artística, também denominada arte pós-moderna, têm de considerar, LAAC. O Lieu d'Art et Action Contemporaine, instalado no Jardin des Sculptures, na Avenue des Bordées, reúne exemplares de uma importante coleção de arte das décadas de 1950 a 1980.
Karel Appel, Eugène Leroy, Andy Warhol, Peter Klasen e Pierre Soulages são apenas alguns dos nomes que por lá são exibidos. Na Route du Quai Freycinet, num antigo armazém de açúcar, a Halle aux Sucres, também se realizam exposições, manifestações científicas e atividades culturais. Enquanto deambula entre espaços, aproveite por desfrutar da cidade, admirando-a tranquilamente enquanto se deixa seduzir.
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Tartes flambeadas e muitas formas (originais) de saborear mexilhão
No fim de um dia de visitas, depois de um apéritif num dos muitos cafés, bares, esplanadas e terraços, não deixe de dar um salto à brasserie L'Edito Dunkerque, um restaurante reputado pela sua gastronomia, com uma fabulosa vista para o porto de recreio do centro da cidade. A par de uma decoração contemporânea à base de cores quentes e de tons neutros, o que mais salta à vista são as estantes repletas livros e as máquinas de escrever antigas.
A cozinha, essa, também não desilude. Uma cozinha tradicional elaborada com produtos frescos, onde não faltam as «grandes saladas», como lhes chamam, pizas e flammekueches, as famosas tartes flambeadas que os locais tanto apreciam. Os woks e as especialidades de mexilhão, com champanhe, com caril, à marinheira ou au maroilles, um queijo típico regional, também valem muito a pena, assim como o welsh, uma especialidade à base de queijo derretido.
Como não existem voos diretos de Portugal para Dunquerque, a alternativa é viajar para Lille e depois alugar um carro. As duas cidades estão separadas por 81,8 quilómetros e o percurso por autoestrada ronda os 53 minutos. Outra alternativa é apanhar o comboio na Gare de Lille Flandres. A viagem demora, em média, uma hora e um quarto. De Paris, são 302 quilómetros. Um trajeto que se faz em pouco mais de três horas de carro.
Texto: Luis Batista Gonçalves com David Kosmala e Serge Barrière (fotografias)
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