Gosta de andar de bicicleta? Se respondeu sim, então está na hora de fazer umas férias diferentes, a pedalar pelo velho continente. A bicicleta é cada vez mais uma filosofia de vida. É o meio para descobrir bosques, arribas, lagos e paisagens de sonho e cidades repletas de histórias. O escritor Ernest Hemingway dizia que "é a guiar uma bicicleta que se conhece melhor os limites de um lugar, pois suamos nas subidas e descemos livremente".
"De tal forma, que recordamos como são os sítios na verdade, enquanto de carro apenas as colinas nos impressionam e não teremos uma recordação tão apurada do território atravessado como a que se consegue de bicicleta", acreditava mesmo. Andar de bicicleta é sentirmo-nos livres e estarmos perto da natureza. É mais fácil desligarmo-nos do quotidiano, enquanto somos surpreendidos pelo que nos rodeia.
Muitas rotas para (re)descobrir
De bicicleta, é possível observar os pormenores parar repentinamente só porque vimos qualquer coisa interessante e ir a sítios onde o carro ou outro transporte não nos levaria. De acordo com o European Cycle Route Network EuroVelo, França é o destino mais procurado para o turismo de bicicleta, imediatamente seguido da Alemanha e do Reino Unido, na Europa.
Em média, num período normal, são realizadas 2,29 milhões de viagens de turismo em bicicleta por ano. E isto só na Europa, o que corresponde a uma receita de 44.000 milhões de euros para o turismo. Durante a pandemia viral de COVID-19, os números baixaram. Agarre na sua bicicleta ou alugue uma se for caso disso e venha daí connosco conhecer algumas das ciclovias europeias. A EuroVelo tem mais de uma dúzia rotas e liga 42 países ao longo de todo o continente europeu. Quem sabe se as suas próximas férias não serão ao volante de uma bicicleta? Razões para isso não faltam!
Pedalar pelo verde dos Alpes é uma alternativa. Uma antiga linha ferroviária deu origem à ciclovia Lunga Via delle Dolomiti, através da qual se atravessa uma parte dos Alpes, mais precisamente a cadeia montanhosa Dolomitas, especial por ser composta de rocha carbonatada, que lhe dá formas únicas. O itinerário começa em Calalzo di Cadore, passa por Cortina D’Ampezzo e termina em Dobbiaco. Ao todo são 57 quilómetros, feito de altos e baixos, que não é muito difícil e até pode ser efectuado em família.
Os montes Dolimiti, verdadeiras obras de arte esculpidas pela natureza, os lagos alpinos e as grutas tornam o cenário único. No entanto, para isso também contribuem as antigas estações de comboios, as pequenas vilas e até os locais mais concorridos, entre os quais Cortina D’Ampezzo, a famosa estância de esqui que, no verão, se pinta de verde e se torna propícia a longos passeios a pé ou de bicicleta.
Um dos caminhos mais apetecíveis
Um dos caminhos mais apetecíveis deste itinerário é o que liga Passau, na Alemanha, a Viena, a capital austríaca. Pedala-se, sobretudo, ao longo do rio Danúbio, contudo, a riqueza cultural das cidades, como Enns a cidade mais antiga da Áustria, são pontos de paragem obrigatórios bem como as vinhas de Wachau. No último percurso, a rota leva-nos até à costa romena, partindo do delta do Danúbio.
Um percurso que deve ser desfrutado ao máximo, terminando em Constante, uma estância balnear romena, banhada pelo Mar Negro. Em Dobbiacco, destacam-se os Parques Naturais de Fanes, Sennes e Braies. Já em Cadore, terra natal de Tiziano, o famoso pintor renascentista, há uma série de edifícios históricos que vale a pena descobrir. E, se gosta de óculos não perca a produção local, muito elogiada.
Aproveite também as paragens para descobrir a gastronomia da região. Os enchidos e os queijos, além de variados, são deliciosos. Além disso, esta é uma forma de fazer exercício físico em que quase não se dá por isso, o que a torna muito apreciada, sobretudo por quem prefere um estilo de vida mais ativo e não gosta da confusão e da agitação da maioria das cidades grandes. Já está convencido?
O Val do Loire de bicicleta
O Val de Loire, a famosa região dos castelos franceses, ganha outra dimensão quando é percorrido de bicicleta. O percurso que o atravessa começa em Paimboueuf e termina em La Guerchesur-l'Aubois, prolongando-se por 800 quilómetros ao longo do rio Loire e integrando também a região do Pays de La Loire. Dos 800 quilómetros, 280 passam pelo vale Património da Humanidade da UNESCO e que é, sem dúvida, uma das etapas mais bonitas da rota.
Conhecida como La Loire à Vélo, um misto de ciclovias e de estrada normal, mas com pouco tráfego, é perfeita para ativar todos os sentidos. As vinhas, o estuário do rio Loire e os castelos (Amboise, Azay-le-Rideau, Chenounceau, Chinon, Langeais e Villandry) são o cenário perfeito de uma viagem que fica na memória. A estes, juntam-se cidades como Nantes, que em julho e em agosto recebe um festival cultural com vários eventos gratuitos que acontecem um pouco por toda a cidade.
Cidades que vale a pena percorrer de bicicleta
Tours, onde é obrigatório passear pelo bairro pedonal Plumerau para se sentir o pulsar da cidade, é outro dos pontos de paragem obrigatórios. Orléans, detentora de uma catedral gótica fascinante, também merece uma visita atenta, tal como Santa Cruz e o melhor museu das belas artes francês a seguir ao do Louvre, em Paris. Mas quem passa pelo Loire também tem de provar os vinhos e, sob este tema, há várias rotas que pode fazer.
Deixe, por momentos, a bicicleta e dedique-se à visita das caves que integram a região turística a que o Vale de Loire pertence. E, se associar aos vinhos a gastronomia, então ficará completamente rendido. A partir de Saint-Brevin-les-Pins, com vista para o oceano, para montes e vales, para vilas pitorescas e por caminhos sempre surpreendentes, é uma experiência a incluir nos seus planos de férias.
Uma dezena de países à disposição
Já se imaginou a partir de França junto ao Oceano Atlântico e chegar ao Mar Negro, na Roménia, de bicicleta? Este é o percurso da rota EuroVelo6 e para o fazer é necessário pedalar 3.653 quilómetros e atravessar 10 países. Além dos já referidos, esta viagem leva-o a uma série de países, incluindo Suíça, Alemanha, Áustria, Eslováquia, Hungria, Sérvia, Croácia e Bulgária. Está assustado com tantos quilómetros?
Não é preciso, pois a maioria dos turistas optam por fazer apenas alguns dos troços e vão voltando todos os anos para percorrer e contemplar mais um pouco desta rota mítica, que começa na La Loire à Vélo e que se prolonga por muitos quilómetros. São mais de 800 quilómetros de caminhos bucólicos que oscilam entre pistas de ciclismo oficiais e trilhos pouco frequentados, apesar de serem 900.000 os ciclistas de todo o mundo que os percorrem anualmente.
Do Cabo Norte ao Algarve
Pode parecer estranho, mas uma das rotas europeias, a EuroVelo 1, liga o Cabo Norte na Noruega ao sul de Portugal, passando a escassos metros da Casa Modesta. A paisagem é deslumbrante. Começa com os fiordes escandinavos grandiosos e termina nas fantásticas praias portuguesas. Mas até chegar ao Algarve passa por várias cidades históricas, sem esquecer os castelos escoceses e franceses e as escarpas irlandesas.
Os motivos de interesse não se ficam, contudo, por aqui. Também abrangem a enorme Duna du Pilat, na Baía de Arcachon, perto de Bordéus, cenário do filme francês "Pequenas mentiras entre amigos", além da histórica Salamanca e das ruínas de Mérida, já mais perto do território nacional. Faça um passeio de barco na Baía de Arcachon e prove as ostras da região num dos restaurantes das pequenas praias.
Nos trilhos da Cortina de Ferro
Lembra-se da Cortina de Ferro que, após a II Guerra Mundial, dividiu a Europa Ocidental da Oriental? Hoje, já não é um local de separação mas de encontro de culturas. Ao longo dessa linha fronteiriça há um passeio de bicicleta imperdível, que liga o Mar de Barents ao Mar Negro. Ao todo são 6.800 quilómetros que obrigam os cicloturistas a passarem por 20 países. O percurso pode abranger a Noruega, a Finlândia, a Rússia e a Estónia.
A Letónia, a Lituânia, a Polónia, a Alemanha, a Republica Checa, a Morávia, a Eslováquia, a Áustria, a Hungria, a Eslovénia, a Croácia, a Roménia, a Sérvia, a Bulgária, a Macedónia do Norte e a Grécia também são abrangidas. Os turistas costumam dividi-la em três, considerando a parte norte, a Alemanha e o sul. Esta é a maior rota europeia, com 10.400 quilómetros e tem cerca de um milhão de visitantes por ano.
À (re)descoberta das serras portuguesas
Os amantes de BTT podem fazer um passeio pelas grandes serras do norte de Portugal em percursos irregulares ou circulares que podem durar vários dias, com etapas em montanha a 1.000 metros de altitude, aldeias de granito e bosques. Uma forma diferente de conhecer o país. Existem várias empresas e organizações que promovem estas atividades, como é o caso da Caminhos da Natureza, uma agência de viagens e animação turística.
Texto: Rita Caetano e Luis Batista Gonçalves (edição digital)
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