A maior obra-prima de Claude Monet é o seu jardim, um quadro vivo que ele muitas vezes pintou, um espaço mágico onde nada foi deixado ao acaso e onde cada flor é uma pincelada impressionista. Este espaço único situa-se na Alta Normandia, apenas a 75 quilómetros de Paris. Michel Monet, quando morreu, em 1966, deixou a sua casa de família de Giverny à Academia de Belas-Artes Francesa, homenageando a memória do pai, permitindo que os seus admiradores pudessem visitar o local de inspiração.
Claude Monet viveu 43 anos nesta casa, cenário de produção das suas obras de arte, com a sua segunda mulher, Alice Hoschedé, os seus dois filhos e os seis filhos dela. Esta casa e estes jardins, bem como as paisagens vizinhas, eram os grandes motivos de inspiração para o pintor e contribuem para compreender a obra de Claude Monet de forma ímpar. "Além da pintura e da jardinagem, não sou bom em mais nada", dizia.
Esta era uma das suas frases mais emblemáticas. De facto, era genial nas duas artes. Pintava a natureza e pintava com a natureza, pinceladas de génio únicas e que ainda hoje podemos apreciar. O seu jardim, que no fundo são dois jardins ligados por uma passagem subterrânea, é a prova de que um jardim pode ser uma obra de arte.
Por um lado, temos o clos normand, o primeiro dos jardins de Claude Monet, um antigo pomar e horta convertidos em jardim de flores.
Os encantos do clos normand são indesmentíveis. Além do clos normand, temos também o jardim de água, onde a inspiração japonesa e as plantas aquáticas brilham. Tive a sorte de visitar este jardim em maio, época em que grande número de plantas está em floração. Infelizmente, o dia estava de chuva, mas nem assim o jardim ficou menos bonito. É um jardim que merece mais do que uma visita.
O que Claude Monet teve de fazer para conseguir o jardim que queria
Os seus planos de plantação estão pensados para que nos meses que está aberto ao público tenha sempre diferentes plantas em flor. Este jardim foi desenhado por Monet, sendo, segundo o próprio, uma interpretação do jardim de inspiração francesa, ao contrário do que estava em voga na época, o jardim de inspiração inglesa. Para que o jardim tivesse vista sobre a envolvente e sol para as flores, Monet mandou cortar um grande número de árvores.
Entre elas incluem-se algumas coníferas de grande porte de que a mulher, Alice, gostava muito. O traçado do jardim é de uma geometria muito simples, grandes alinhamentos de canteiros de plantas para bordaduras floridas, todos eles ladeados de caminhos e alguns enquadrados por pérgulas plantadas com trepadeiras floridas tais como glicínias ou rosas. A grande beleza deste jardim prende-se com a escolha das plantas e suas florações.
O que se pode ver neste jardim encantado
Nada é deixado ao acaso, as cores, as formas e o período de floração são escolhidos criteriosamente. O resultado é extraordinário. Dá vontade de por ali ficarmos tempo sem fim e voltar a cada estação para ver as diferenças. Desde plantas perenes e vivazes como peónias, camélias, azáleas, rosas, tamargueiras, rododendros, alfazemas e malmequeres até bolbosas como íris, lírios, frésias, tulipas, muscaris e crocus, passando por anuais como amores-perfeitos, floxes, miosótis, girassóis e papoilas, de tudo um pouco se pode ver neste jardim encantado.
Há combinações extraordinárias pela sua simplicidade e beleza, como é o caso do canteiro que se vê do ateliê, com uma combinação de florações de tulipas cor de rosa e miosótis azuis. Alinhamentos de amarelos, cor de laranja e encarnado, alternam com outros mais suaves em tons de roxo e cor de rosa, nem sabemos para onde olhar primeiro. Em maio, quando fui, as peónias, os íris e as glicínias estavam no seu auge.
O jardim que é considerado a obra-prima de Claude Monet
Uma fantástica obra de engenharia e de paisagismo, para a sua criação, Monet teve de pedir autorização para desviar o pequeno rio Epte, um afluente do Sena, para que conseguisse criar os famosos lagos dos nenúfares, uma inspiração de jardim japonês que ele tanto apreciava, no qual a célebre ponte enquadrada por glicínia é um dos seus ex-líbris. A passagem subterrânea permite-nos, hoje em dia, aceder ao jardim de água sem termos de atravessar a estrada.
Os grandes protagonistas deste espaço são os nenúfares (que para florir devem ter a água a 16º C), toda a bordadura do lago é plantada com salgueiros, noveleiros, tamargueiras, azáleas, rododendros, íris, guneras, glicínias, transformando este espaço num pequeno paraíso. É indescritível a beleza deste jardim, vale a pena vê-lo ao vivo e a seguir ir ver a sequência de quadros de Claude Monet (nenúfares) ao Museu da Orangerie, no Jardin des Tuileries.
O calendário de floração do jardim
Quando visitamos o jardim, é-nos dado no plano de visita um calendário de florações mensal, para sabermos o que está em flor ao longo dos meses. É, contudo, preciso ter em conta que o jardim só está aberto de abril a outubro. Deixo aqui algumas das florações de primavera que vi, algumas de verão e de outono, para quem quiser e puder ir visitar o jardim ainda durante este ano:
- Na primavera
Quem brilha são as peónias, os jacintos, os narcisos, as íris, as chagas, as tulipas, as glicínias, as azáleas, os miosótis, os rododendros, as tamargueiras, as violas, as silénes e as fritilárias, só para referir algumas.
- No verão
É tempo de papoilas, cosmos, girassóis, agapantos, brincos-de-princesa, nenúfares, hemerocales, dedaleiras, malmequeres, sardinheiras, alfazemas, rosas, rudbéquias, clematites, planta-do-tabaco e madressilvas.
- No outono
As dálias são as protagonistas, bem como as alegrias-do-lar, as bocas-de-lobo, as zínias, os crisântemos, as ásteres, a flor-da-baunilha, as cravineas, as rosas e os amarantos.
A casa que foi refúgio de Claude Monet
Além do jardim, também se pode visitar a casa, ver o quarto e o ateliê do pintor, bem como a cozinha onde lhe eram preparadas as refeições com grande requinte, uma vez que Claude Monet era um grande apreciador de gastronomia de qualidade. A mulher, Alice, levantava-se duas horas antes do artista para acender o fogão a lenha para que, quando ele acordasse, tivesse todas as iguarias de que gostava prontas e acabadas de fazer.
Como chegar
Giverny fica a 75 quilómetros de Paris. De carro, é uma hora e tem estacionamento no local. De comboio, a partir da Gare Saint-Lazare, na capital francesa, são 45 minutos de viagem até à estação de Vernon. Da estação até ao jardim são 7 quilómetros e há transporte a partir da Fondation Monet. Aproveite também para visitar, em Giverny, o Museu dos Impressionistas e, em Paris, o Museu Marmottan e o Museu da Orangerie, onde poderá ver muitas das obras de Claude Monet. Mais informações em www.claude-monet-giverny.fr.
Texto: Teresa Chambel
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