São há séculos guardiãs dos silêncios do Jardim do Paço Episcopal de Castelo Branco. Centenas de estátuas representam um compêndio material e espiritual do mundo, naquele que se tornou um dos espaços públicos mais visitados da cidade beirã. Poucas centenas de metros marcam a distância entre as artérias do centro histórico da localidade e o microcosmos arquitetado no século XVIII, por ordem do Bispo da Guarda, D. João Mendonça. A pé, não mais de dez minutos de caminho desde a Praça do Município.
Aqui, no labirinto de sebes e talhões (24, para sermos precisos), a visita merece olhar atento. O jardim de feição Barroca, nas mãos do município desde o início do século XX, faz-se da profusão de lagos ornados, varandas e escadarias. Um dédalo organizado, que respeitou as regras formais dos jardins da época. Obra que terá sido entregue a um arquiteto italiano que, aqui, engendrou jogos de água, repuxos e recantos que obrigam o visitante ao trabalho de descoberta nas quatro áreas que compõem o jardim, a entrada, o patamar do buxo, o jardim alagado e o plano superior.
Franqueada a entrada do jardim, projetada em 1936 pelo engenheiro Manuel Tavares dos Santos, impõe-se a singularidade que torna este espaço um convite a deambulações. Antes, porém, reserve o visitante alguns minutos para um olhar interessado à obra de azulejaria, com representações de Castelo Branco, como preâmbulo ao jardim.
Tudo o mais são escadarias, sebes, fontes amplamente ornadas. Pretexto a um conjunto de estatuaria que convida o visitante à (re)descoberta do ciclo do zodíaco, das quatro partes da terra, às estações do ano e virtudes teológicas (Fé, Esperança e Caridade), assim como aos quatro elementos, embora estes incompletos, por só se representarem Ar e Fogo. De feição austera, a Morte, o Juízo, o Inferno, espicaçam-nos a percorrer o jardim num exercício de jogo das escondidas. Não falta a representação do Paraíso, como também se fazem presentes os Apóstolos, identificáveis pelo símbolo do seu martírio.
Uma representação do mundo – ou o do que dele fazia o Homem do século XVIII – onde tudo é simbólico. Espaço que também é convite a revisitarmos a História de Portugal, na multidão de estátuas dos monarcas portugueses. Pedras gastas pelo tempo, mas onde são discerníveis as feições reais.
Não há duas peças iguais, como bem constatamos na subida da escadaria monumental, ladeada pelos monarcas da primeira e segunda dinastias. Um périplo que não omite a presença dos “reis intrusos”, com os Filipes de Espanha e o Cardeal D. Henrique, adepto da causa castelhana. Atente-se no pormenor: intrusos e cardeal têm menores dimensões que os homónimos portugueses.
Jardim que também é ventre de frescura no calor do verão beirão. Que não se perca de vista ao Jardim Alagado e o Lago das Coroas, assim como o imenso tanque no plano superior do jardim. Um quase lago delimitado por poderosas muralhas de pedra que, em tempos passados, foi importante estrutura de armazenamento de água para a rega do jardim. Conta-se que bispos ali se passeavam de batel.
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