Tinham-me dito que os arranjos exteriores e os jardins do novíssimo hotel Aquapura, no Douro, em frente à Régua, eram muito bonitos. Com a minha habitual desconfiança face ao produto nacional no que refere a arranjos paisagísticos, lá me desloquei, de máquina fotográfica em punho, para uma visita.

Devo dizer que foi amor à primeira vista. Os jardins são pura e simplesmente sensacionais: bonitos, criativos, inovadores, e, curiosamente, demonstrando um grande sentido prático com soluções que visam simultaneamente a estética, a harmonia e a facilidade de manutenção.

Vamos por partes. O primeiro impacto que se tem, é logo à saída das salas do hotel, com as floreiras de revestimento das paredes do terraço principal. Ordenadas em linhas horizontais, as floreiras pretas suspensas, revestidas de Abelia variegata, dão um sentido de conforto e de frescura que nos Verões quentes do Douro são praticamente impossíveis de conseguir.

Outra solução de grande impacto foi a forma como foram disfarçados os terraços de cobertura cimentada, medonhos, que davam uma visão desoladora a quem os via de cima. Grandes floreiras rectangulares, colocadas geometricamente ao lado umas das outras e cobertas de Euonymus, transformaram um topo de construção inestético, num inesperado e bem conseguido roof garden.

Concebidas pela Jardins do Paço, Arquitectura Paisagística, as ideias encontradas para a Aquapura são notáveis porque conseguem ser muito criativas sem destoar em absoluto daquilo que é o espírito do Douro.

Por exemplo, vejamos como se solucionou a utilização de oliveiras, árvore típica do Douro, aliando a sua qualidade centenária a uma implantação com grande modernidade: enfiadas em caixas sem fundo, de aço cortene, trocou-se as voltas à inclinação do terreno e lá estamos nós outra vez de boca aberta.

Noutra situação de terreno plano, as mesmas caixas funcionam como um simples lancil de forma quadrada, que separa a caldeira das árvores de um relvado circundante.

A piscina, lindíssima, requeria recantos com privacidade e alguma sombra. Lá temos outra vez uma ideia completamente fora do vulgar através da utilização de falsas sebes constituídas por andares de floreiras cheias de Leucothoe Scarletta, que com a seu colorido cor de fogo, entram no tom de ferrugem do aço cortene e quebram a dominância do verde.

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Mas talvez o meu cantinho preferido seja o de duas estruturas em forma de cubo, de ferro preto, que funcionam como pavilhões frescos, a sombra dada por uma profusão de vasinhos de jasmim pendurados em arames. Para mim, um jardim como eu gosto é mesmo isto. Soluções pouco convencionais, que nos surpreendam a cada passo do passeio, mas que ao mesmo tempo não estraguem o enquadramento geral, nem esqueçam as características do local em que estão implantadas.

É por isso que os jardins de seco japoneses nunca funcionam muito bem no Ocidente e que a utilização de topiária no Alentejo é completamente despropositada e absurda. Infelizmente, a busca da diferença vem muitas vezes através da opção por soluções de choque, sem qualquer harmonia com a paisagem e o local em que se inserem.

Não é o caso dos jardins e arranjos exteriores da Aquapura. Francisco Sousa Machado e a sua equipa da Jardins do Paço estão de parabéns porque conseguiram um magnífico exemplo de criatividade bem portuguesa, adaptando soluções clássicas como os jardins verticais e os pavilhões frescos à realidade moderna do hotel e da sua decoração interior.

A Aquapura é um local de relaxamento e descanso e os jardins contribuem largamente para isso. Além de que são esteticamente maravilhosos.

Fiz duas vistas à Aquapura. Uma em meados de Setembro, outra em fins de Outubro. Deu para ver que os jardins estão feitos com cabeça, isto é, não se optou por soluções para compor o portfolio dos autores sem pensar nos problemas de manutenção que às vezes as soluções muito originais trazem aos proprietários dos jardins.

Embora ainda jovens, os jardins têm apenas cerca de seis meses (vê-se que há uma boa adequação das espécies seleccionadas às condições ambientais) e que a manutenção (excelente, de resto), não é demasiado complicada.

Nas duas vezes que visitei o jardim não vi uma azáfama de jardineiros a utilizarem os execráveis aspiradores, mas também não havia folhas secas no chão, nem ervas daninhas à vista, nem plantas com ar doente.

Enfim, um excelente exemplo para o orgulho nacional e a certeza de que há arquitectos paisagísticos em Portugal que não desmerecem em nada algumas vedetas superstars que apresentam as sua criações de montra no Chelsea Flower Show. Parabéns aos autores do projecto e parabéns aos proprietários da Aquapura por terem tido a coragem de o aprovar.