Uma vitrina iluminada com uma pequena estátua de madeira pintada sobre um pedestal preto em ferro forjado. A legenda indica que se tratar de uma peça chamada «Dignatario», um exemplar do budismo chinês da dinastia Qing, a última dinastia imperial da China, que governou 1644 e 1911, com uma breve restauração abortiva em 1917. De acordo com a descrição, este tipo de estátuas representavam personagens importantes da época, geralmente portadores de títulos e cargos que os distinguiam.
Em algumas das ordens militares de cavalaria da região, estes objetos de culto funcionavam como oráculos de proteção, chegando muitos deles a ser venerados antes das batalhas. Surpreendentemente, a pequena estátua é o único objeto de arte em toda a divisão. Até porque não estamos num museu. Muito pelo contrário! Estamos numa das 102 habitações do Hotel Urban Madrid, em pleno centro da capital espanhola, todas elas decoradas com peças de arte da coleção privada da unidade hoteleira.
Esta é uma das experiências mais próximas de dormir num museu que pode ter. Até porque, apesar de integrar mesmo um espaço museológico que exibe peças de um espólio de arte antiga e de arte egípcia, todo o hotel está decorado com requintados objetos de produção artística. Há quartos, suites e salas que escondem estátuas, figuras e painéis de madeira e o próprio átrio de entrada surpreende com a sua estatuária de madeira de dimensões imponentes, uma impressionante mesa de vida com cadeiras gigantes estilizadas e grandes jarrões dourados.
Com um estilo assumidamente art déco e com uma arquitetura vanguardista, o Hotel Urban Madrid assume-se como um boutique hotel do século XXI, um espaço urbano com um design muito próprio, desenvolvido a pensar em pessoas que não dispensam o luxo mas fogem de toda e qualquer convencionalidade. Localizada em pleno coração financeiro, comercial e cultural da capital espanhola, esta unidade hoteleira é a base perfeita para uma estadia na cidade.
Nas paredes dos quartos, 78 habitações superiores, 10 junior suites duplex, cinco junior suites, oito suites e na suite duplex loft, predomina o castanho. Nas estolas em pele colocadas sobre as camas, na madeira do chão, nas portas dos armários e no couro da cabeceira da cama, esse é o tom que prevalece. As almofadas e as cobertas em bege acabam por suavizar o ambiente, tal como os confortáveis lençois brancos das camas king size.
Além da vitrina com a estátua de madeira, existem outros pormenores que fazem a diferença. A secretária em vidro e madeira de mogno com um tampo que se transforma em toucador é um deles. O quarto é relativamente simples em comparação com o luxo que salta à vista nas áreas comuns mas os detalhes estão lá. O sistema de luzes reguláveis e as paredes parcialmente forradas a pedra conferem uma personalidade distintiva às divisões de descanso e também um ar mais masculino do que as de outros hotéis.
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Divindades de lugares exóticos e distantes
No terraço exterior, localizado no topo do edifício, estão à disposição dos hóspedes uma piscina, um ginásio, um solário e um pequeno bar, La Terraza del Urban. Estes são, talvez, os únicos equipamentos do hotel que não estão decorados com peças douradas ou com estátuas de madeira, algumas delas de divindades de lugares exóticos e distantes como a Papua-Nova Guiné, a Birmânia, o Camboja, a Índia e a China. Algumas das mais sublimes estão expostas na sala circular que faz a ponte entre a receção e o restaurante do hotel.
Na sala de estar do primeiro andar, à semelhança de outras divisões, há exemplares de arte hindu, do budismo, peças indianas em pedra talhada e até figuras chinesas de terracota, bem como imagens de apsarás, as mulheres associadas às águas dos bosques, muitas delas casadas com músicos das cortes de tempos que já lá vão. Algumas dessas peças servem de cenário ao restaurante El Cielo del Urban e ao restaurante Europa Déco, localizado no rés do chão, que tem como especialidades pratos de ostras e caviar e confeções de inspiração mediterrânica.
Moderno e exuberante, o Glass Bar, também localizado no mesmo piso, é um espaço de convívio e descontração onde se pode degustar uma bebida enquanto se provam algumas deliciosas e exclusivas tapas. O enorme candelabro de cristal importado diretamente de Marrocos é, a par das cadeiras transparentes concebidas pelo prestigiado designer Philipe Starck, um dos aspetos distintivos do um espaço que, como a direção do hotel assume no seu site, foi criado «para ver e para ser visto».
Relíquias que deslumbram
Uma observação atenta merece também o museu do hotel, instalado na cave, paredes-meias com salas para reuniões, conferências e eventos que o hotel também disponibiliza. Em exposição, além de joias antigas do período egípcio, estão também amuletos e estátuas de figuras divinas, algumas delas em materiais como o lápis-lazúli, um material com uma cor que na época dos faraós simbolizava o céu nocturno e que era muito usado para produzir os cabelos, a cabeça e os olhos dos deuses.
Um conjunto composto por uma pulseira e um colar datado de entre 2040 a 1640 da época que antecedeu a era cristã, que era tradicionalmente usado pelas grandes damas ou sacerdotisas ligadas ao culto à deusa Hathor, é outra das atrações do museu do Hotel Urban Madrid. O fio tem a particularidade de, ao ser sacudido, emitir um som semelhante ao do sistro, um instrumento de percussão que produz um som achocalhado. O espólio da unidade hoteleira inclui ainda colares pré-históricos feitos com conchas e ainda peças que já estiveram em exposição no Museu Egípcio de Barcelona, na Catalunha.
Situado no eixo a que apelidam de triângulo dourado da capital espanhola, composto pelo Museu do Prado Museum, pelo Museu Thyssen-Bornemisza e pelo Museu da Fundação Rainha Sofia,o o hotel fica muito próximo de algumas das principais atrações turísticas da cidade, como é o caso do Paseo del Prado, da Puerta del Sol, da deslumbrante Plaza Mayor e do parque urbano do Retiro, um jardim imponente onde muitos espanhois e turistas aproveitam para relaxar junto a um grande lago, enquanto assistem a espetáculos musicais expontâneos e até a exposições de pintura improvisados.
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As (outras) atrações madrilenas que não pode perder
Apesar de muito apreciados e visitados, os jardins e os museus da capital espanhola, estão, no entanto, longe de ser os únicos pontos da cidade que vale a pena visitar. A lista de pontos de passagem obrigatórios inclui ainda:
- O Palácio Real de Madrid, a residência oficial dos reis de Espanha, é um dos maiores palácios reais da Europa. Possui mais de mil divisões mas apenas uma parte pode ser visitada.
- O passeio pelas lojas, restaurantes, teatros e cinemas da Gran Via, uma das maiores da cidade, é obrigatório. É também lá que pode apreciar alguns dos mais belos exemplares arquitetónicos da cidade.
- A Puerta de Alcalá, um monumento situado na Praça da Independência, na Rua de Alcalá, é constituída por duas portas gigantescas mandado construir em 1778 para servir como porta de entrada da cidade. É o cenário perfeito para uma das muitas selfies da praxe.
- Desconhecido de muitos, o Templo de Debod é um templo egípcio autêntico, originário de Philae, na região de Assuão, que foi oferecido ao país. Foi reconstruído em território espanhol no central Parque del Oeste, onde pode ser visitado.
- Os amantes de arte contemporânea não podem perder oMatadero Madrid, um antigo matadouro do bairro de Arganzuela convertido em centro de arte contemporânea que acolhe regularmente mostras e exposições.
- Las Ventas é a maior praça de touros de Espanha e a segunda maior do mundo. Mesmo que não seja aficionado, vale a pena observar o estilo arquitetónico deste imponente monumento.
Texto: Luis Batista Gonçalves
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