
Quem estiver de passagem pelo hotel Vermelho, em Melides, dificilmente acreditará que o edifício branco e azul não passava de uma miragem quando Christian Louboutin se apaixonou pela aldeia alentejana. Até que o terreno abandonado, onde em tempos existia uma casa em ruínas, se transformasse numa unidade hoteleira de luxo foram precisos quatro anos. Devido à sua inexperiência no setor, apostou num conceito intimista que, pelo número reduzido de quartos, poderia ser utilizado como uma casa de férias, onde podia receber os seus amigos. O desafio de dar forma à visão de criar um boutique hotel de raiz, perfeitamente integrado na paisagem desta região histórica e que celebrasse a arte e a cultura portuguesas, foi entregue à arquiteta Madalena Caiado, que assinou o projeto em parceria com o estilista.
Com portas abertas desde março de 2023, o Vermelho é uma homenagem ao estilo manuelino onde as colunas exuberantes e molduras ornamentadas não deixam ninguém indiferente. Ao dispensar os serviços de um gabinete de interiores para este projeto, Louboutin recorreu a uma equipa de arquitetos, artistas, escultores e designers da sua confiança para construir parte da identidade visual do hotel. O ceramista italiano Giuseppe Ducrot ficou responsável pela criação das peças de cerâmica manuelinas que adornam as janelas e portas da fachada interior, assim como os pilares da entrada e os dois bancos que estão no jardim. “Todos estes trabalhos cerâmicos são o cartão de visita do hotel”, explica Vera Gonçalves, diretora do Vermelho.

Outro elemento distintivo são as diferentes tradições lusas. Exemplo disso é a pintura a cal que reveste o interior e exterior da unidade, a calçada portuguesa que dá as boas-vindas aos visitantes, as telhas terracota e as sete chaminés do telhado que, para o fundador, “são um dos tesouros menos valorizados pelos portugueses”.
De forma a integrar parte do seu estilo pessoal e personalidade neste projeto hoteleiro, o designer de moda assumiu o papel de decorador e usou muitas das relíquias que foi adquirindo em leilões e lojas de antiguidades ao longo da vida. Cada elemento do espólio da sua coleção pessoal que encontramos pelo espaço – como a azulejaria, têxteis, peças de mobiliário, iluminação e acessórios – conta uma história vinda dos quatro cantos do mundo e confere autenticidade a cada uma das divisões.
“São muito poucas as peças que foram compradas especificamente para o hotel”, salienta a diretora sobre o projeto que, desde abril de 2024, conta com o selo Relais & Châteaux. “Ele tem muito o hábito de procurar casas antigas e palacetes em remodelação e tentar perceber se existem materiais que têm interesse em aproveitar.”
13 quartos pensados ao pormenor

Com capacidade máxima para 26 pessoas, o Vermelho dispõe de 13 quartos duplos que estão divididos em cinco tipologias (Double Vista Verde, Double Vista Verde com varanda, Junior Suites, Jardim Português Junior Suite e Master Suite). Com preços a partir de 295€ noite, todos partilham o nome de povoações da região de Melides, como Cascalheira, Vigia, Santa Marinha e Matinha. Os quartos em nada se assemelham entre si na decoração, disposição e dimensão. “Quando construímos uma casa, cada membro da família tem um gosto e uma personalidade diferente. Não quer que o quarto seja igual ao da sogra, da filha ou da irmã, e é exatamente por isso que os quartos são diferentes”, afirma.

No inverno, as Junior Suites do primeiro andar oferecem o conforto ideal para esta época do ano. Com 45m², são das opções mais espaçosas do hotel, permitindo-lhe escolher entre um quarto separado da sala ou uma banheira em pedra na varanda, onde pode desfrutar de um banho relaxante com vista para o jardim e a piscina.

Já o Jardim Português Junior Suite é um dos mais procurados no verão. Apesar de as cores variarem entre si, as cinco opções desta tipologia incluem uma cama em microcimento com cabeceira em azulejos, uma casa de banho com banheira e um pequeno terraço exterior. Esta opção com 38m2 demarca-se ainda pelo seu jardim dianteiro que, durante esta época do ano, surge pintado de canas vermelhas.
“As canas vermelhas são flores com um ciclo de vida de exatamente um ano”, diz sobre o jardim que foi projetado pelo arquiteto paisagista Louis Benech. “Elas foram plantadas uma vez. Este é o terceiro verão que vão crescer e isto dá algum dinamismo [ao jardim], porque quem vem no inverno ou no outono, vê um jardim mais acastanhado. Quem vem no final do inverno, vê um jardim quase despido. Na primavera muito verde, no verão muito vermelho”.
Se Christian Louboutin tivesse um quarto no Vermelho, a escolha recairia na Master Suite. Esta é a única acomodação onde os clientes podem relaxar com o ar quente da lareira e descontrair naquela que é um dos itens de mobiliário favoritos do estilista de moda: o sofá. Os frescos pintados por Konstantin Kakanias na zona de estar, os tetos em madeira datados do século XVIII e a cama com dossel em madeira dividem atenções com a casa de banho em mármore de lioz e cujas paredes em tons suaves parecem pintadas a aguarela. “O que está nesta parede são as provas originais de cor [para os quartos]”.

Porque todos os detalhes contam, as 13 acomodações têm diferentes elementos decorativos que nos remetem para a cor escarlate da sola dos sapatos que colocou o seu nome nas bocas do mundo. Os cabides e calçadeiras em pele e os baldes do lixo vermelho fizeram tanto sucesso entre os hóspedes que podem ser adquiridas na loja do hotel.
Apesar da associação inevitável, a verdade é que o Vermelho sempre se quis demarcar da casa de moda francesa que carrega o seu nome. “Nunca foi o objetivo do Christian abrir um hotel Louboutin”, explica sobre o projeto que este ano foi distinguido com duas Chaves Michelin. “O Christian orgulha-se muito de dizer, e com toda a razão, que o Vermelho é uma marca portuguesa.”

Quando o calor aperta, basta pegar no cesto que se encontra em todos os quartos e ir. Lá dentro irá encontrar uma toalha de praia vermelha da marca francesa e um chapéu de palha para aproveitar as praias das redondezas em grande estilo. Se preferir também poderá deslocar-se até à piscina e desfrutar de banhos de sol rodeado da natureza. Quando lhe apetecer comer ou beber algo simples, basta consultar a carta onde irá encontrar saladas frescas, sanduíches e salgados que pode acompanhar com um cocktail, smoothie ou sumo natural. Para uma boa experiência gastronómica, o ideal é dirigir-se ao restaurante Xtian.
O restaurante Xtian e o bar, uma viagem pela gastronomia portuguesa

Apesar dos prémios que tem conquistado desde a sua abertura, a verdade é que o sonho de Christian Louboutin sempre foi ter um restaurante. Devido à sua agenda preenchida e aos compromissos profissionais que, por vezes, o levavam a chegar tarde a Melides, o estilista francês sentia a necessidade de ter um restaurante onde pudesse jantar sempre que precisasse. Foi exatamente isso que o levou a querer construir um restaurante junto ao hotel. Mas o desafio da Câmara Municipal de Grândola acabou por falar mais alto, optando por construir uma unidade hoteleira que, durante muitos anos, foi a única a existir no centro de Melides. De forma a manter vivo esse sonho, Louboutin decidiu fazer do Xtian o coração deste projeto.
Apesar de a atmosfera nos remeter para a indústria de Bollywood e a vibrante cultura indiana, a alma portuguesa está bem presente nas receitas tradicionais que podemos encontrar no menu deste espaço que, diariamente, abre as suas portas a todos, hóspedes ou não, tanto ao almoço como ao jantar. Aqui o gourmet e o fine dining ficam de lado, dando lugar a um conceito mais descontraído que traz para a mesa os sabores do mar, da terra e da horta da região. O peixe fresco e marisco vem da Comporta, os queijos de Alcácer do Sal e o arroz dos arrozais de Melides. “O arroz tem uma dupla importância, não só porque é produzido aqui, mas também porque o Christian cofundou uma associação em Portugal, com a Condensa Noemi Cinzano, que tem como objetivos principais a preservação da lagoa de Melides e a procura e implementação de técnicas de agricultura sustentáveis na produção do arroz.”

Esta estação, o Xtian oferece um menu repleto de produtos regionais. O gaspacho alentejano (16€), a espetada de polvo (17€) ou o pica-pau (18€) são três opções para abrir o apetite. Na secção principal pode escolher entre arroz de Melides com choco e navalhas (30€), frango piri-piri com molho piri-piri e puré de tremoço (26€) ou aquele que é um dos pratos portugueses de eleição de Louboutin: Carne de porco à Alentejana (27€). Se gosta de terminar a refeição com algo doce, não deixe de provar a queijada de queijo cabra (11€) ou o fondant de caramelo com gelado de pastel de Belém (13€). Estes podem ser acompanhados por uma das opções vínicas do Xtian, onde constam referências nacionais e uma pequena seleção de vinhos franceses.

Quando quiser beber alguma coisa durante o dia, hóspedes e clientes externos poderão fazê-lo no bar do hotel, aberto entre as 11h00 e as 23h00. O grande destaque vai para a estrutura do bar feita à mão pelos artesãos da Orfebrería Villarreal. A empresa de Sevilha especializada em joalheria e ourivesaria, criou uma obra de alumínio que resulta de uma adaptação dos altares tradicionalmente utilizados durante a Semana Santa. Por levar um banho de prata, esta requer uma manutenção anual e acaba por conferir um brilho especial a zona do bar ao anoitecer.
Os cadeirões, sofás e mesas do Norte de África vêm da coleção pessoal de Christian Louboutin, sendo que o pavimento vermelho do bar foi feito pela Fábrica de Azulejos de Azeitão. Respeitando as tradições do século XV, Luís Oliveira dedicou um ano e meio da sua vida a fazer o chão vidrado que, por se tratar de um fabrico manual, resultou em azulejos de diferentes tonalidades escarlate que lhe conferem um toque único. De forma a trazer um pouco do charme dos cafés parisienses para o Alentejo, o mobiliário de jardim foi desenhado pela Maison Gatti, conhecida pelas cadeiras e mesas em treliça francesa bi ou tricolores. A esplanada que serve o bar e o restaurante conta com 90 lugares sentados.
Relaxe no spa ou parta à descoberta da região com um guia local

Quando quiser ler um livro longe das suites e quartos, jogar uma partida de xadrez ou beber um chá frio, água aromatizada ou desfrutar de snacks à discrição basta dirigir-se ao Indian Lounge. “É a sala de estar da casa”, diz a diretora sobre este espaço exclusivo a hóspedes. O nome remete-nos para os azulejos decorativos de origem indiana e influência árabe que revestem as paredes e conferem um ambiente único.
“Ambos os azulejos que vêm aqui são originais. Conseguimos ver que existem muitas falhas em alguns deles, tanto a nível de cor como mesmo a nível de colagem. Não foram desenhados para aqui, não foram comprados para aqui. São azulejos que o Christian já tinha recuperado de algum outro edifício e optou por colocá-los aqui”. Estes contrastam com os sofás da autoria do designer francês Pierre Yovanovitch ou com as jarras, candeeiros e arranjos florais da loja portuguesa Vida Dura que adornam a sala.
“O nosso hotel funciona quase como um museu. Temos muitos curiosos que chegam, perguntam se podem visitar e, normalmente, perguntam sempre pelos papagaios”, afirma, aludindo a instalação da artista britânica Elisabeth Lincot que pode ser apreciada junto à entrada do Indian Lounge.

Se pretende relaxar a sério durante a estadia, o Vermelho oferece um spa que pretende ser um refúgio de bem-estar durante toda a estadia. É num espaço intimista e com foco na filosofia Ayurveda que os hóspedes são convidados a cuidar de si e a procurar um maior equilíbrio entre corpo, mente e espírito. No menu vai encontrar experiências de relaxamento que saem fora do tradicional. O Ritual do Shirodhara (195€) é um dos tratamentos principais que consiste na aplicação de óleo - ou leite - morno no centro da testa e que é finalizado com uma massagem na cabeça e couro cabeludo. “Nós medimos a energia da pessoa através do pulso, e consoante a sua necessidade temos óleos específicos que selecionamos para ajudar a pessoa”, diz Timóteo Carmo, terapeuta principal do spa, sobre este momento que tem a duração de 60 minutos e pretende detetar potenciais desequilíbrios corporais.
Feita com recurso a óleos, a Massagem Abhyanga (145€/60 minutos e 185€/90 minutos) destaca-se por conseguir trabalhar mais dos 100 pontos energéticos Marma que temos localizados na zona da cabeça, pescoço e ombros através de um momento de relaxamento. “Começa com a pessoa sentada. Deitamos óleo quente na cabeça, porque é um dos nossos pontos energéticos principais onde atrai a luz, e ajuda-nos também a nível de foco, determinação e inspiração.”
Apesar de só dispor de uma cabine de massagem, o spa está aberto todos os dias, entre as 09h e as 20h30, e também oferece faciais onde é possível experimentar tratamentos com produtos à base de plantas, que também incluem ervas aromáticas, como é o caso do alecrim, que vem diretamente da horta do Vermelho. “Nós estamos a introduzir um conceito onde utilizamos muito o alecrim juntamente com o sal que vai trabalhar a parte energética. Além disso, o alecrim também se torna anti-inflamatório e cicatrizante”, conclui.
Totalmente integrado na comunidade e de forma a promover os negócios locais, o Vermelho tem investido em várias experiências personalizadas. Passeios de bicicleta, workshops florais na Vida Dura ou provas de vinho a pedido são algumas das atividades que completam a experiência.
As walking tours – que no inverno acontecem no bar do hotel e com um copo de vinho a acompanhar – consistem em passeios a pé guiados pela aldeia onde são convidados a descobrir algumas das tradições, histórias e memórias da Melides de antigamente. “As pessoas ficam muito estupefactas quando digo que na rua não existia água nem luz. Aqui era a estrumeira”, conta a guia turística Marina Pereira, encarregue das walking toursm e que partilha com o público, maioritariamente americano, britânico e francês, um pouco sobre a evolução desta região ao longo dos últimos 40 anos.
“Isto é, tao pequenino em termos de clientes que não fere e, para nós, é uma vaidade que não havia com a aldeia e passou a haver.” O passeio inclui ainda uma passagem pela Vida dura, a marca de cerâmicas loja de decoração que Louboutin tem no centro de Melides, onde são comercializadas peças feitas por pequenos artesoes e olarias onde o antigo e o moderno convivem entre si. “Veio dar vida à aldeia até novembro. E com bom gosto”, conclui.
Vermelho lagoa, o novo projeto de Louboutin em Melides

Vermelho Lagoa é o mais recente aposta de Christian Louboutin em Melides. O novo empreendimento que ainda se encontra em construção, e que se situa apenas a 15 minutos de distância do hotel, pretende ser um complemento ao seu irmão mais velho.
Apesar de ter menos três quartos, este boutique hotel vai ser mais generoso nos espaços exteriores que oferece aos hóspedes que viajam até Melides para relaxar. Exemplo disso é a dimensão da piscina, do jardim e do spa. “Vamos ter um spa completo, com hammam, dois gabinetes de massagem, chuveiro multissensorial e uma zona de relaxamento mais conveniente”, esclarece Vera Gonçalves sobre este novo projeto.
Apesar do secretismo e de ainda estarem muitos detalhes por acertar, a diretora do hotel revela que por estar muito perto da praia de Melides, os hóspedes podem esperar uma decoração que nos remete para um ambiente de praia e com uma estética diferente da do Vermelho. Em termos de oferta gastronómica esta unidade hoteleira vai dispor de um bistro com rooftop onde o ponto alto é a vista que oferece. “São vistas diretas para a lagoa, com o mar de fundo.” O Vermelho Lagoa tem abertura prevista para 2026.
O SAPO Lifestyle esteve no Vermelho a convite.
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