“MacBad” é a terceira peça que o Teatro Praga adapta ao público infantil. A primeira foi “Hamlet”, há 15 anos, e, a segunda, “Romeu e Julieta”, há cinco.
Três tragédias, escolhidas por isso mesmo. “Porque é tudo o que normalmente não é contado a crianças – toda a gente mata e toda a gente morre -, e achámos que era divertido, no sentido de desafiante, contar estas histórias a crianças, sem lhes tirar estes passos importantes da narrativa, mas desconstruindo e explicando: isto não tem que ser assim, as coisas não têm que se fazer assim”, contou à Lusa Cláudia Jardim, uma das intérpretes e criadoras da peça.
A ideia dos criadores de “MacBad” nunca foi “fazer a peça de Shakespeare da primeira à última palavra, nem pouco mais ou menos”, referiu Diogo Bento, o outro intérprete, e também cocriador, com Cláudia Jardim e Pedro Penim.
“Aquilo que nos interessa é passar a narrativa de várias formas, e depois jogá-las das formas mais múltiplas possíveis”, disse.
“Hamlet e Eu” surgiu de um desafio da atual diretora do Lu.Ca, Susana Menezes, na altura responsável pela programação infantojuvenil do Teatro Maria Matos, para que o Teatro Praga criasse uma oficina para crianças na altura em que aquele espaço tinha em cena “Hamlet” para os ‘crescidos’.
Diogo Bento referiu que, como esta ‘trilogia’ de Shakespeare para crianças “começou por ser uma espécie de um ‘atelier-oficina’, sempre houve esta vontade de pôr o público também a fazer coisas”.
Na adaptação de “Hamlet”, recordou, as crianças, depois de ouvirem a história, “subiam a palco e faziam a peça com uma série de objetos e adereços”. Já em “Romeu e Julieta”, a história era contada “recorrendo a ingredientes de cozinha e a redes sociais” e, no final, os atores faziam uma receita “com ajuda de crianças que vinham do público”.
No caso de “MacBad”, a história começa por ser contada de duas formas diferentes, uma por Cláudia Jardim e outra por Diogo Bento, que começam o espetáculo de costas para o público agarrados a um videojogo.
A narração da história, feita em linguagem acessível e recorrendo a palavras e expressões como ‘bazar’, ‘fixe’, ‘abanar o capacete’, ‘bué’, ‘dar de frosques’ ou ‘bacano’, vai sendo acompanhada por desenhos e imagens de personagens que o público consegue identificar de jogos de vídeo e de computador.
Depois, são convocadas algumas crianças, para “jogarem o enredo, através de jogos de computador, todos eles diferentes e que servem para determinados momentos da narrativa”.
Num espetáculo que conta uma história onde as mortes acontecem várias vezes ao longo da narrativa, há uma parte “muito lúdica”.
“Os miúdos sempre brincaram às guerras e os jogos de computador estão cheios disso. Higienizar essa violência da vida das crianças também não me parece saudável. É fixe é pô-la no sítio certo: aqui tu podes extravasar e dizer ‘ai eu mato-te, morre’, e ter a noção que isto é uma ficção que estamos a usar para nos divertirmos aqui. Quando isto acaba voltamos à vida normal”, referiu Cláudia Jardim.
Embora se trate de uma tragédia de Shakespeare, o Teatro Praga tenta passar às crianças mensagens positivas.
Em “MacBad”, as personagens centrais (MacBad e Lady MacBad), “vilões que se tornam protagonistas”, são ‘bullies’. “Eles estão a fazer com que a narrativa se precipite à conta de maltratarem, matarem – o caso é levado ao extremo — os outros. Portanto, achámos que fazia sentido falar sobre isso [o ‘bullying’] à medida que fomos chegando a esta forma de espetáculo”, explicou Cláudia Jardim.
Na peça, os atores instam as crianças a não serem ‘bullies’ e a denunciarem sempre que presenciarem casos de ‘bullying’, sublinhando que “os ‘bullies’ nunca se safam”. Além disso, insistem na ideia de que “matar pessoas assim é só nos jogos, na vida não se faz”.
“MacBad” foi apresentado no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães no início deste mês, em outubro chega a Viseu, e a vontade do Teatro Praga é “circular com este espetáculo, chegar aos miúdos” com este, mas também com “Hamlet” e “Romeu e Julieta”, que “andaram e ainda andam” na estrada.
Em Lisboa, “MacBad”, recomendada para crianças a partir dos oito anos, estreia-se no dia do 3.º aniversário do Lu.Ca — Teatro Luís de Camões, e haverá apresentações até ao dia 06 de junho, umas para escolas e outras para famílias.
No dia de anos do Lu.Ca, terça-feira, será disponibilizada uma ‘playlist’ na conta do teatro na plataforma Spotify, que ficou a cargo do Teatro Praga, e irá estrear-se, ‘online’, um novo vídeo do ciclo “Poemas para estes Dias”, com a atriz Nádia Yracema e a intérprete de Língua Gestual Patrícia Carmo a darem voz a um poema de Afonso Cruz.
A programação do Lu.Ca pode ser consultada no ‘site’ do teatro em www.lucateatroluisdecamoes.pt.
Comentários