A Antiga Coleção Cunha Alves foi adquirida pela Fundação Oriente em 2018, na Austrália, após um ano de negociações e contactos. Integrando cerca de 200 objetos de diferentes formas e motivos decorativos, esta coleção de porcelana chinesa de encomenda para o mercado ocidental constitui um acervo de referência na Europa, quer pela dimensão, como pela coerência e abrangência, complementando assim o expressivo espólio de mais de 17 mil peças do Museu do Oriente.

A coleção foi adquirida ao colecionador e diplomata Paulo Cunha Alves, que a constituiu ao longo de 25 anos através de aquisições em países tão distintos como Portugal, Bélgica, EUA, França, Países Baixos, Reino Unido e Austrália, o último país onde a coleção esteve antes de integrar o acervo do Museu do Oriente.

Agrupada segundo temáticas tão diversas como “Expansão da Fé Cristã”, “Os Deuses do Olimpo”, “Prazeres da Vida ao Ar Livre”, a música, dança e poesia, temas satíricos, anedóticos e históricos, ou o erotismo, galanteios e vaidades, este novo núcleo de 130 peças que o Museu do Oriente agora expõe resulta de encomendas inspiradas em diferentes fontes iconográficas europeias.

Foram a chegada de Vasco da Gama à India, em 1498, e a conquista de Malaca em 1511, que marcaram o início das encomendas de porcelana chinesa para o mercado ocidental, onde Portugal desempenhou um papel pioneiro como encomendador.

Desenhos, gravuras e pequenas pinturas a óleo, tendo por base modelos em prata, faiança, porcelana, estanho e madeira, eram enviados para serem copiados pelos artesãos chineses, resultando em coloridas representações a azul e branco sob o vidrado, e a esmaltes da “família rosa”, grisaille, preto e sépia, bianco sopra bianco, rosa carmim e dourado, sobre o vidrado. O resultado são imagens ao gosto europeu que os artesãos chineses copiaram deixando transparecer no traço a pouca familiaridade para com este tipo de representação, muitas vezes conotada com costumes e hábitos ocidentais.

Paralelamente a esta exposição, as peças que a integram são objeto de estudo no curso “Porcelana de Exportação”, orientado por Maria Antónia Pinto Matos, diretora do Museu Nacional do Azulejo e do Museu da Presidência da República e especialista em porcelana chinesa.

Em cinco sessões, que se realizam de 4 de maio a 1 de junho, aos sábados, este curso analisa a evolução da história da porcelana chinesa no decorrer das dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911).

A dinastia Ming representa um marco fundamental na história da porcelana, tanto na China como no mundo.  Nesta época assistiu-se a uma busca por novas formas, pela predominância da decoração pintada, pelo gosto da cor, pelo emprego da porcelana em detrimento do grés e da terracota. Foi também na dinastia Ming que os portugueses procederam à encomenda de uma série de porcelanas personalizadas, as mais antigas a ostentarem forma e/ou decoração europeias, com as armas reais portuguesas - por vezes invertidas por engano do artista chinês ao copiar o desenho enviado -, a esfera armilar, o monograma IHS, heráldica de nobres e ordens religiosas e inscrições em português e latim.

Sob a dinastia Qing, a porcelana atingiu uma perfeição incomparável no âmbito da técnica. Todos os problemas foram resolvidos, desde os da matéria aos do fogo, e o gosto pela cor domina, tendo sido inventados novos tons até então desconhecidos. A produção sob os Qing foi extremamente abundante, tendo sido massivamente exportada para a Europa pelas diferentes Companhias das Índias europeias e, posteriormente, para os Estados Unidos da América.