Recuperar a minha estufa fez parte das resoluções para o novo ano. Comprada em maio de 2003 no Chelsea Flower Show, a minúscula estufa destinava-se a albergar uma pequena coleção de orquídeas que vivia, então, no jardim. Durante cerca de seis anos, cuidei dela quase diariamente, e, tendo a minha coleção aumentado quer em dimensão, quer  em variedade, uma visita à estufa passou a ser uma excursão obrigatória dos visitantes lá de casa. Exemplares de Cymbidium , Cattleya , Paphiopedilum , Phalaenopsis , Angulocasta , Brassada e outras floriam gloriosamente e decoravam a estufa, a casa e a varanda.

Com o passar do tempo, o número de atividades a que me dedicava foi aumentando e a estufa foi ficando para trás. Apenas a extraordinária capacidade de sobrevivência desta espécie permitiu que ainda chegassem vivos cerca de 60 exemplares a 2015. Desde 2009 que as pobres tinham como únicos cuidados uma rega bastante irregular e uma limpeza sumária de folhas secas. O resultado era inevitável.

Sem renovação de substrato, sem adubo e sem rega e sem uma humidificação cuidada, a produção de flores ficou praticamente reduzida a zero, uma vergonha para quem se interessa, como eu, por plantas e jardins. Várias vezes pensei pôr mãos à obra e reenvasar todas as plantas, com substrato novo, adubo, raízes secas cortadas, pseudo-bolbos dividos. Infelizmente, dada a quantidade de vasos, a tarefa revelava-se tão ciclópica que, desanimada, voltava as costas ao projeto. Veja a galeria de imagens que mostra toda a beleza das orquídeas floridas!

A decisão que desencadeou a ação

Em janeiro de 2015, tomei uma decisão. Ou arranjava toda a estufa ou deitava as orquídeas todas fora. Resolvi telefonar ao meu colega colaborador da revista Jardins, José Santos, o guru das orquídeas, para lhe fazer parte da minha ansiedade e para lhe propor vir cá para me ajudar a salvar o que restava da coleção. E assim foi. O José e a sua equipa do centro de jardinagem Jardins Sintra apareceram uma manhã cá em casa, munidos de sacos de substrato, vasos de vários tamanhos, adubos granulados de libertação lenta, adubos em pó para dissolver na água da rega… Enfim, toda a parafernália necessária!

Apesar da chuvinha miúda que caiu quase todo o dia, ali estivemos a recompor o colapso da estufa. Com surpresa verifiquei que nestes seis anos de descuidados, muita coisa evoluiu favoravelmente para os orquidófilos. O substrato que dantes se tinha que preparar à mão (1/3 de leca, 1/3 de casca de pinheiro e 1/3 de turfa) agora compra-se já feito em embalagens de várias dimensões. Os adubos de inverno e verão, que antes eu tinha que mandar vir de Inglaterra, agora já estão disponíveis por cá, com várias marcas e diferentes aplicações, nomeadamente granulado, pó e líquido.

Outras coisas que mudaram nos últimos anos

Os vasos também já estão disponíveis em inúmeros formatos como os de boca larga e com furos para o arejamento das raízes, ideais para as Cattleya. Algumas tarefas couberam apenas a mim e ficaram reservadas para os dias seguintes. A limpeza e arrumação das várias plantas nas prateleiras ou no exterior da estufa (como é o caso dos Cymbidium e dos Paphiopedilum), e a sua etiquetagem (alguns vasos tinham a data de 2008 na última mudança de substrato).

A estufa, de um dia para o outro, embora sem flores, recuperou um ar profissional e cuidado e, não sei se é da minha vista, mas as plantas parecem mais felizes. Também sei que vai demorar alguns meses a aparecer floração nalgumas e, provavelmente, anos noutras. Mas o que interessa é que, agora, tenho vontade de lá ir todos os dias.

Texto: Vera Nobre da Costa