Muito se diz sobre o consumo de água pela relva. Neste sentido,
justifica-se uma pequena resenha comparativa entre os consumos
da relva e dos seus principais companheiros de jardim, as
árvores e arbustos e as herbáceas de recobrimento de solo, uma
vez que a relva é muitas vezes injustamente acusada de ser muito
mais consumista de água do que os seus companheiros. Existe a ideia, mais
ou menos generalizada, de que a relva tem muito mais
consumo de água do que as árvores ou os arbustos.
No entanto, até à data, não existem estudos científicos
que corroborem esta ideia.
Os defensores da redução das áreas relvadas e da
sua substituição por áreas arborizadas como medida
de preservação do stock de água das cidades fazem
esta recomendação sem dados rigorosos sobre os valores de evapotranspiração na maior parte das
espécies de árvores e arbustos cultivados. Por
outro lado, no caso da relva podem contar com
medições rigorosas da evapotranspiração para a
maior parte das espécies utilizadas nos relvados.
A evapotranspiração nos
permite saber de forma rigorosa as necessidades
hídricas de uma planta.
Se compararmos os estudos disponíveis relativamente
à evapotranspiração, ressalta claramente
o fato de que as árvores e os arbustos serem muito
maiores consumidores de água do que os relvados,
para áreas de tamanho equivalente.
Este fato de resulta de que, a partir de um
nível de higrometria determinado, a evapotranspiração
aumenta em função da dimensão da
superfície da folha.
Em termos de consumo de água, a própria natureza
dá-nos as pistas. As regiões de climas secos
ou semiáridos são caraterizadas por pradarias e estepes,
onde as espécies dominantes são gramíneas
da mesma família das relvas. As zonas de floresta
situam-se em zonas de elevada pluviometria.
Relva versus herbáceas de recobrimento
Em teoria, as
coberturas de solo herbáceas necessitam de menos
100 litros de água/ano/m2 do que um relvado.
No entanto, as coberturas de solo são normalmente
regadas com recurso a gota-a-gota onde o controlo
da água gasta não é tão rigoroso como na aspersão.
Outro aspeto a ter em consideração deve-se à
comparação da relva com as coberturas de solo de
plantas com capacidade de sobreviver nas zonas
áridas.
As plantas que sobrevivem nas zonas áridas têm uma grande capacidade de resistir à seca, o
que não traduz a sua capacidade de consumo de
água. Assim, quando implantadas em meio urbano,
para que tenham a qualidade de cobertura que se
pretende em paisagismo, muitas delas tornam-se
em grandes consumidoras de água.
Veja na página seguinte: Os mecanismos fisiológicos da evapotranspiração
Este fenómeno
acontece porque os mecanismos fisiológicos que
são responsáveis pela evapotranspiração (que,
relembro, determina as necessidades hídricas de
uma planta) e a resistência à seca são de natureza
completamente diferente, não podendo ser por isso
objeto de uma correlação direta.
Assim, antes de acusarmos a relva de ser responsável
por gastos excessivos de água em comparação
com as outras espécies do jardim, é importante
refletirmos efetivamente sobre os consumos
das outras plantas no jardim já que a fama de
grande consumidor de água de que sofrem muitas
vezes os relvados tem é muitas vezes injustificada.
Essa tem geralmente mais a ver com a má gestão
de rega do que propriamente com as necessidades
do relvado.
A escolha das espécies
A escolha das espécies que compõem um
relvado é uma aspeto determinante na economia
de água. Um relvado de Bermuda (Cynodon
dactylon xt raanvalensis), relva de verão, necessita
de menos 50% de água que um relvado de uma
mistura de Lolium perenne e Poa pratensis.
A utilização de Festuca arundinacea como
espécie predominante num relvado de
inverno(mais de 70%), pode levar a uma
poupança de até 28% do consumo de água. A otimização do sistema de rega é uma peça
fundamental nas boas práticas de rega assim
como o conhecimento do relvado que vai ser
regado no que diz respeito às suas necessidades
hídricas. Também aqui se aplica a máxima de que
menos é mais.
Texto: Ana Caldeira Cabral (engenharia agrónoma)
Comentários