Uma parte do meu jardim tem um revestimento vegetal espontâneo. Tudo o que lá cresce é obra da natureza. Nada lá foi plantado, não é adubado, nem é regado. Trata-se de uma zona em declive, com muita pedra, que desempenha mais o papel de fundo verde, que de zona de estar ou de passeio. É claro que esta entrega à natureza tem um preço. Nos meses de verão, a minha mata, como lhe chamo, perde a pujança, seca.
Se não fossem algumas árvores de grande porte, pinheiros, nespereiras, grevilleas, cedros e, aqui e ali, uns tufos de aloés, de verde não tinha nada. A única intervenção humana que a minha mata tem é uma limpeza anual dos secos no mês de agosto, para não ficar com tão mau aspeto. A partir de outubro, com as primeiras chuvas, começam a aparecer variadíssimas plantas com lugar de destaque para os acanthus.
No pino do inverno, a zona mais gloriosa do jardim é a minha floresta de acanthus. Fresca, linda, verdíssima, feliz com a chuva e com o frio. O encanto do acanthus reside principalmente nas suas folhas, que são verdes claras quando novas e, depois, vão escurecendo com o tempo, muito viçosas e recortadas. A folha do acanthus é tão ornamental que esteve na origem da inspiração do desenho das colunas coríntias.
O que distingue esta planta
Facilmente invasivo, o acanthus é ideal para fazer uma cobertura num jardim meio selvagem. As flores são menos interessantes que as folhas mas ajudam a quebrar a monotonia da mancha, já que se erguem uns bons 80 centímetros acima da folhagem, com umas pequenas flores brancas tubulares, em cachos verticais. Trata-se de uma planta vivaz, originária de solos secos e rochosos da orla mediterrânica.
Tem a vantagem de tolerar muito bem a sombra. A sua glória é atingida na primavera quando tem as flores totalmente desenvolvidas. Mais tarde, no verão, com o calor e a falta de água, desaparece num rasto seco e amarelo que tem que ser cortado. Pouco explorado para a ornamentação de jardins, pelo menos em Portugal, o acanthus é um segredo bem guardado para quem quer cobrir zonas sombrias.
Que o digam os arquitectos paisagistas dos jardins da Gulbenkian que o usaram em profusão. Como não existe nos centros de jardinagem, a melhor forma de o obter é recolher as sementes na natureza, no fim da primavera, secá-las e semeá-las na primavera seguinte. Dá um pouco mais de trabalho, mas tem a vantagem de não custar dinheiro. Curiosamente, descobri que a folha do acanthus tem propriedades medicinais.
Esta variedade botânica pode ser usada no tratamento de queimaduras, mas também em articulações deslocadas. A pasta que se elabora a partir desta planta normaliza os músculos, relaxando-os e apertando-os, permitindo que as articulações voltem ao sítio, como se costuma dizer. A acanthus mollis, uma das mais comuns e apreciadas, é uma espécie de planta com flor pertencente à família Acanthaceae.
Texto: Vera Nobre da Costa
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