Jagatguru Adi Shankaracharya (788-820 d.C.) é indiscutivamente o maior filófoso que a Índia, ou o mundo, alguma vez produziu. Ele é único na história do mundo, já que, ele combinou nele mesmo os atributos de um filósofo, um devoto, um místico, um poeta e um reformador religioso. Apesar de ele ter vivido há 1200 anos atrás, a Índia e o mundo sentem, ainda hoje, o impacto da vida e do trabalho deste génio espiritual.

Shankaracharya nasceu no século VIII. Naquela altura, o Budismo estava espalhado pelo país (Índia), mas de uma forma muito diferente dos puros e simples ensinamentos éticos do Mestre; o Jainísmo também tinha a sua influência e muitos seguidores. Ambas as religiões, por compreensão mútua, isto é, num acordo em termos profanos, eram despojadas do conceito de Deus, tendo como resultado a popularidade do ateísmo e o credo geral das pessoas.

O Hinduísmo, por si, estava dividido em inumeráveis seitas e denominações, cada uma em oposição e intolerante com a outra. A coerência religiosa no país estava perdida e, para além disso, muitas proeminências prejudiciais como os votos dos Saivas e o vamachara dos Saktas, Ganapatyas, Sauras e Bhagawatas que se arrastavam, estavam a corromper a pureza e o espírito da religião. O que naquele tempo era preciso era uma integração de todo o pensamento para parar o decréscimo dos princípios eternos do Dharma, parar a decadência religiosa, a desarmonia e a discordância crescente entre as vérias seitas dos Hindus, e trazer uma harmonia, integração e renascença moral, religiosa e espiritual ao país.

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Tal poderosa e estupenda tarefa apenas Deus poderia realizar... e Shankara veio, fê-la e completou-a. Durante a breve duração de 32 anos de vida, Shankara estabeleceu firmemente a filosofia Advaita Vedanta como a base unificadora essencial da religião Hindu. Ele trouxe harmonia religiosa, coerência espiritual e regeneração moral ao país.

Perfil de vida de Jagatguru Adi Shankaracharya

Shankaracharya nasceu no final do século VIII, em Kaladi, uma aldeia em Kerala Central. Ele era o único filho de Sivaguru e Aryamba, um casal de devotos Nambudiri Brahmin. Acredita-se que ele nasceu como resultado de suas longas preces ao Senhor Siva do famoso templo Vrishabhachaleswara em Trichur. Ele foi uma criança prodígio e completou os seus estudos Védicos aos 8 anos de idade. O seu pai faleceu quando ele ainda era novo e foi a sua mãe quem o criou com carinho amoroso, já que, ele era a sua única fonte de consolo e apoio. O rapaz exibia tendências ascéticas e a sua mãe sentia-se muito angustiada. Porém, a missão divina para a qual aquele grande génio tinha nascido teria de ser cumprida, e assim algum tipo de milagre teria de acontecer para libertar Shankara dos nós mundanos.

Então, uma vez quando o filho estava a banhar-se próximo no rio Purna, enquanto a mãe esperava na margem, um crocodilo apanhou a perna do rapaz e arrastava-o para águas mais profundas. Quando a morte estava (aparentemente) próxima, Shankara pediu permissão à sua mãe para entrar na última “ashrama de Sanyasa”, que todo o Hindu era suposto entrar antes da sua morte. Renúncia formal em tão crítica situação, Apat-Sanyasa, era uma prática comum. Relutantemente, Aryamba deu o seu consentimento e, surpresa, misteriosamente o crocodilo soltou o rapaz! Emergindo do rio, o bala-sanyasin decidiu tornar-se um monge errante e cedo deixou a sua aldeia após consolar a sua mãe e assegurar-lhe que ele estaria a seu lado nos seus últimos dias e lhe faria os rituais funerários. Deste modo, Shankara iniciou a sua missão divina aos 8 anos de idade, quando a maioria dos rapazes ainda não teria sequer deixado os seus brinquedos.

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Após deixar Kaladi, o jovem sanyasin-académico perambulou pelo Sul da Índia e finalmente chegou às margens de Narmada em busca de um Guru. Ali, ele conheceu Govinda Bhagavatpada, um discípulo proeminente do grande Gaudapada da reputação Mandukya Karika. Govindapada amigavelmente aceitou este rapaz-sanyasin como seu discípulo e iniciou-o nas complexidades de Vedanta. Após cerca 7 anos, quando Shankara completou os seus estudos Védicos e Sadhana, o seu guru disse-lhe para regressar a Kasi, a antiga cidade de ensino e espiritualidade, e espalhar a mensagem de Advaita Vedanta a parir dali escrevendo comentários aos Brahma Sutras, Upanishads e Bhagavat Gita.

Como tinha sido instruído, ele dirigiu-se a Kasi e ali, em pouco tempo, tornou-se o maior campeão da filosofia Vedanta. Ele ganhou muitos debates; e discípulos vinham até ele em grande número. Padmapada, Hastamalaka e Totaka eram os líderes entre eles. Assim, aos 16 anos de idade, Shankara tinha-se estabelecido como um grande filósofo na cidade de Varanasi, na altura, o próprio coração dos movimentos intelectuais e espirituais na Índia. Shankara tinha também composto muitos Hinos Bhakti.

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Após ter-se estabelecido em Kasi como o campeão invencível da filosofia Vedanta, Shankara iniciou uma tourné por este vasto país para uma Dig-Vijaya, conquista espiritual, sob instruções específicas do sábio Veda Vyasa que o abençoou com uma visão enquanto Shankara escrevia o Brahma Sutra Bhashya. Onde quer que ele fosse, ele ganhava a líderes eminente dos outros sistemas de filosofia existentes e firmemente estabeleceu o Advaita Vedanta. Ninguém conseguia fazer frente à sua vasta erudição, técnicas dialéticas e perceção espiritual.

Entre estes debates, aquele que teve mais importância foi o seu encontro com Mandana Mishra, o grande discípulo de Kumarila Bhatta, um convicto protagonista do ritualismo. Naquele tempo, a parte Karma Kanda dos Vedas tinha muita força na religião Hindu e isto devia-se em grande parte aos líderes-filósofos e autoridades religiosas como Kumarila Bhatta e Mandan Mishra. Para estabelecer as verdades da parte Jnana Kanda, Shankaracharya teria de derrotar e ganhar a estes dois intelectuais. Devido a circusntâncias inevitáveis, Kumarila Bhatta não pôde debater com Shankaracharya e enviou o Vedantin ao encontro do seu discípulo Mandan Mishra. O debate com Mandan Mishra ocorreu com Ubhaya Bharati, a culta esposa de Mandana Mishra, servindo como Juíza. Após muitos dias de discussão, Mandana Mishra aceitou a derrota.

A condição do debate foi quem perdesse tornar-se-ia discípulo do outro e passaria a seguir o seu modo de vida. Assim, Mandana Mishra tornou-se um Sanyasi e recebeu o nome de Sureshwara. Esta vitória deu um novo ímpeto à conquista espiritual de Shankara. Shri Shankara e os seus discípulos viajaram por todo o país refutando falsas doutrinas e purificando práticas censuráveis que estavam em voga, em nome da religião. Ele também estabelceu Mathas em quatro lugares; em Shringeri no sul, Badri no norte, Dwaraka no oeste e Jagannath Puri no leste. Ele escolheu estes belos lugares de ambientes naturais por entre montanhas cobertas de neve, florestas e rios ou costas do oceano, lugares onde o céu e a terra se encontram e transportam o pensamento do homem a alturas sublimes. Ele colocou Shri Sureshwaracharya à frente do Matha em Shringeri, Shri Padmapada em Dwaraka, Shri Totaka em Badri e Shri Hastamalaka em Puri. O estabelecimento destes Mathas indica a realização de Shri Shankara da unidade física e espiritual da Índia. Ele escreveu em Sânscrito, a língua franca da Índia culta daqueles tempos, o que por si só poderia apelar a todos os intelectuais por todo o país.

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Após uma estadia prolongada em Shringeri, ele apressou-se até ao leito da morte de sua mãe na sua casa ancestral em Kaladi e enviou a sua alma aos “imortais reinos de luz” com melodias doces em louvor a Siva e Vishnu. Sem recuar perante a oposição dos seus parentes (formalistas religiosos), ele cremou o corpo de sua mãe às margens do rio e esse lugar foi, desde então, consagrado como um local de peregrinação.

Ele visitou todos os altares sagrados do país onde reuniu as tradições culturais do povo, purificando as formas de veneração e estabelecendo Sri Charakas em muitos templos como Kamakshi em Kanchi, Nara Narayana em Badri e Guhyeshvari no Nepal, etc.

Este “melhor dos professores itenerantes” (Paramahamsa Parivrajakacharya) coroou as suas viagens triunfais vencendo os grandiosos acadêmicos de Kashmir, e elevando o sarvajnapitha como o símbolo de reconhecimento pelo mundo da sua sabedoria e indisputável mestria em todos (os conhecidos) ramos do saber.

Durante a sua última visita ao Nepal, ele teve uma visão de Shri Dattatreya e a partir daí ele dirigiu-se a Kedarnath onde, aos 32 anos de idade, diz-se ele desaparareceu da sua existência mortal. (Uma outra versão da história conta que ele fundiu-se com a Mãe Kamakshi na Sagrada Kanchi, terminando assim a sua carreira terrestre).

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Shankara edificou fortemente a religião Hindu através da sua exposição racional e científica da filosofia das Upanishads para que o Sanatana Dharma pudesse enfrentar todos os desafios durante as vicissitudes da história até aos tempos modernos. A sua contibuição para a filosofia Indiana é tão magnífica e duradoura que todos os filósofos seguintes apenas tentaram refutá-lo ou elucidar as suas ideias. Em países estrangeiros, a filosofia Indiana foi sempre identificada com o Advaita de Shankara. Shankara simboliza a grandiosa cultura-Rishi cuja grande expoente ele foi. A mensagem de Shankara é uma mensagem de esperança e otimismo. Ele diz que o homem não é uma finalização, um produto acabado; ele tem um potencial divino nele mesmo que é para ser descoberto através de evolução auto-consciente. O reino da paz, plenitude e contentamento está dentro de cada um de nós, diz Advaita. Teremos que nos aperceber disto. Como o seu próprio nome sugere Sam karoti iti Sankara - “Aquele que abençoa é Shankara”.

Shankaracharya foi um dos maiores benfeitores da humanidade porque ele expôs a filosofia Advaita Vedanta que é a essência dos Vedas e o caminho para a Plenitude e Imortalidade.

por: Shri Sevadal