Vivo na Bélgica desde 2015 com o meu marido e dois filhos. A decisão de sair do país deveu-se ao facto de uma oportunidade profissional por parte do meu marido, e nem pensamos duas vezes. Viver fora de Portugal era algo que já rondava os nossos pensamentos há algum tempo.
Afinal, estávamos a duas horas de avião do nosso país, sempre que quiséssemos visitar. E o verão e o Natal, eram as duas alturas do ano em que não falhávamos o regresso. Para ver família e amigos, desfrutar da nossa gastronomia, das praias, do bom tempo… tudo isto parecia sempre estar ao nosso alcance. Sem grandes preocupações.
Até que uma pandemia aconteceu. Até que um vírus nos impediu de estar com aqueles que mais amamos. Até que a nossa vida ficou virada do avesso. Cá e lá. Fechados em casa.
Tudo passou a ser feito à distância de um clique… para uma videochamada, seja de trabalho ou familiar. Para encomendar a comida do supermercado. Para encomendar roupa ou coisas de farmácia. Para tudo e mais alguma coisa.
De repente, o meu “escritório” foi invadido por marido e filhos
Trabalho a partir de casa desde que me mudei para a Bélgica. Por isso, quando se deu o primeiro confinamento, em março do ano passado, essa parte de ter de fazer home office não era problemática… não fosse, de repente, o meu “escritório” ser invadido por marido e filhos. Agora, estávamos todos a trabalhar e a estudar de casa. Algo que nunca ninguém tinha pensado que um dia iria acontecer.
Os miúdos adotaram o quarto como espaço para escola online (graças a Deus que já são adolescentes e independentes…), eu continuava a trabalhar na sala mas o meu marido estava um pouco mais perdido. É que o trabalho dele implica networking, reuniões, viajar… Tudo isto estava proibido. Foi muito difícil para ele até conseguir arranjar uma rotina, que só veio depois do verão, a partir de setembro.
Para tentarmos colmatar este confinamento, implementamos logo as caminhadas. O que foi sempre possível por não vivermos em cidade, mas sim em zonas mais rurais e com uma possibilidade imensa de caminhos por entre campos e florestas. Uma das melhores coisas da Bélgica é que encontramos sempre um parque ou uma floresta quase ao lado de casa.
Todos os dias, ao final do dia, lá íamos nós para a nossa caminhada, a qual apelidados de “higiénica”. Mas era mesmo uma lufada de ar fresco que nos fazia muito bem à nossa saúde mental, principalmente.
Outra coisa nova que implementamos foi os miúdos cozinharem o jantar às sextas feiras. Foi muito bom vê-los a trabalhar em conjunto, a criarem receitas novas todas as semanas e, ainda hoje, esse hábito, volta e meia mantém-se.
Com o passar do tempo, começamos a perceber que provavelmente o verão seria também passado aqui, longe da família e amigos. O primeiro reality check de que esta pandemia estava para ficar. E assim foi. Decisão tomada, gozamos do nosso primeiro verão inteiramente belga. Sempre com a esperança de que o próximo evento, o Natal, já seria passado em família.
Pelo meio, mudámos de casa
De um apartamento para uma casa com jardim, deu-nos aquela sensação de algo novo que nos iria permitir ultrapassar os confinamentos e o isolamento da família com um alento diferente. Ajudou, um pouco, sim, e deu-nos alguma resistência para enfrentar o verão.
Além disso, permitia receber de vez em quando alguns amigos, com segurança, ao ar livre. O que dentro de um apartamento seria mais complicado.
O setembro chegou com uma nova esperança. Recomeço das aulas presenciais, que se mantiveram por algum tempo, mas depressa transformaram-se num sistema rotativo, semana sim, semana não. A minha filha não é grande fã de aulas online, mas a verdade é que a escola já tinha um sistema montado e que resultou sempre muito bem.
Com 13 anos, o contacto social com os amigos é tão importante para os jovens. Achamos que eles são da era digital e que esta situação de falarem por videochamada não era assim tão complicado para estes miúdos, mas a realidade é que eles precisam tanto do contacto físico como qualquer um de nós.
O trabalho para o meu marido continua online, sem grande esperança de regresso físico. O que continua a ser problemático, mas um pouco mais tolerável pois a rotina já estava instalada.
O meu filho regressa, após seis meses em nossa casa, à universidade em Amesterdão. É uma pena que no início de uma nova fase da vida dele, esta pandemia veio tirar-lhe a experiência da universidade a 100%. Ou seja, após seis meses a viver sozinho, a habituar-se a uma nova cidade, à vida de estudante universitário, vê-se na obrigação de regressar ao “ninho”. O que volta a acontecer antes do Natal e que se mantém até à data de hoje. O regresso está previsto para abril.
Natal, a luz ao fundo do túnel… ou não
O Natal era o grande evento do ano. Esperávamos receber a família na nova casa, com espaço para todos ficarem, planeamos tudo. Mas no final os planos saíram um pouco furados. Os meus pais desistiram de vir, por precaução, algum medo do vírus. Apreensão. O meu coração ficou partido em mil pedaços. Os meus sogros vieram, mas para mim, era já um Natal coxo. Não estava completo. Fizemos todos o teste para estarmos seguros, inclusive os mais novos.
Pela primeira vez, a abertura de prendas foi feita com uma videochamada para Portugal para que os meus pais pudessem acompanhar, de alguma forma, o nosso Natal e ver os netos a abrir as prendas que eles, entretanto, enviaram por correio, em novembro, como que a prever de que a presença deles não seria física.
Com esperança de que X aconteça. É assim que vivemos
Agora esperamos que possamos estar juntos no verão. E é assim que se vive neste momento, com a esperança de que possamos fazer algo que antes era um dado adquirido. O meu marido diz que já só planeia a vida de semana a semana. Estar a pensar meses à frente não vale a pena.
Mas, para mim, uma coisa é certa. Este ano vou a Portugal, na esperança de poder abraçar família e amigos.
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