Eu e o João conhecemo-nos em abril de 2006 e voltámos a encontrarmo-nos em setembro do mesmo ano numa festa, onde começámos a falar. Como nessa altura estava em casa de uns tios, no Norte do país, acabámos por estar juntos praticamente todos os dias. Depois eu vim para Lisboa, ele ficou no Porto. Continuámos a falar e o resto é história. Namoramos há 13 anos à distância.
O principal desafio é a privação da presença física da outra pessoa. A ausência de algo tão simples como um beijo ou um abraço naqueles momentos mais delicados
Desde o início que a nossa dinâmica é a mesma: vamos trocando mensagens para podermos acompanhar o dia a dia do outro e à noite costumamos falar ao telefone. Para quem está de fora pode parecer estanho, mas para nós é uma forma de encurtar e minimizar os 300 quilómetros que nos separam. Nós não nos podemos dar ao luxo de, como tantos casais que vivem na mesma cidade, sair do trabalho e ir jantar fora ou chegar a casa e falar sobre o nosso dia. Ou seja, é assim que alimentamos a nossa relação. E tentamos estar juntos pelo menos uma vez por mês.
O principal desafio é a privação da presença física da outra pessoa. A ausência de algo tão simples como um beijo ou um abraço naqueles momentos mais delicados ou o facto de não podermos ir ter com a pessoa com a mesma rapidez que quem vive na mesma cidade o faz, são coisas que tivemos de aprender a gerir ao longo dos anos. Não vou mentir: não é fácil ter uma relação à distância. Requer esforço, sacrifício, confiança e dedicação. E a verdade é que as relações à distância não são para todas as pessoas.
Antes da situação em Portugal mudar, tínhamos combinado estar juntos no fim de semana de 13 de março. Mas entretanto o número de casos começou a aumentar e achámos que seria mais seguro não fazermos deslocações. Apesar das saudades, há que ser racional e ver que há coisas que se sobrepõem a isso. E neste caso foi a nossa saúde e o bem-estar daqueles que nos rodeiam.
Quando existe algo verdadeiro e genuíno entre duas pessoas não há distância nem pandemia que os separe. Disso eu tenho a certeza
A única coisa que acaba por ser diferente, nesta altura, é o facto de não podermos fazer deslocações. Ou seja, para além da separação normal, a que já estávamos habituados, existe uma separação adicional forçada devido à pandemia do novo coronavírus e ao Estado de Emergência. Neste momento vivemos na incerteza, pois não sabemos quando é que vamos poder voltar a estar juntos.
Mas esta situação trouxe mudanças. Pela primeira vez, em 13 anos de namoro, começámos a fazer videochamadas. Apesar de não ser a mesma coisa, o facto de estarmos a ver a outra pessoa acaba por nos aproximar mais e atenuar um pouco as saudades.
Das primeiras coisas que falámos quando foi implementado o Estado de Emergência foi que, quando isto tudo terminasse, íamos fazer uma viagem os dois.
A todas as pessoas que sempre viram um fundo de verdade no provérbio popular ‘Longe da vista, longe do coração’, que achavam que as relações à distância não resultavam e aos casais que agora se veem forçados a estar longe da pessoa que amam e não sabem bem como lidar com isso, só posso dizer uma coisa: quando existe algo verdadeiro e genuíno entre duas pessoas não há distância nem pandemia que os separe. Disso eu tenho a certeza.
Comentários