A Madalena, a Antónia e a Leo representam a história de muitas portuguesas. Sozinhas, sem filhos e prestes a entrar na casa dos 40 têm registos diferentes de vida e encaram o futuro de uma forma curiosa. Uma estranha forma de ser, diria o poeta. Talvez, para quem não entende a filosofia de mulheres que podem não ter nos filhos um objetivo de vida. Ou até têm, mas querem um pai à medida dos seus sonhos e não um dador anónimo ou um amigo descartável das funções de parentalidade.

Madalena tem 35 anos. Não tem filhos, “ nunca senti o chamamento”, afirma, nem quando era menina e moça e as brincadeiras andavam à volta da agulha sobre a palma da mão para ver quantos meninos e quantas meninas o destino nos reservaria. Vive com o João há sete anos e esse dilema, tem sido um dilema, é uma pedra no sapato da sua relação: “O João sempre quis ser pai e culpa-me por esse facto. Diz que sou egoísta e que não concretiza esse sonho por minha causa. Eu vou adiando sabiamente o assunto. Até porque nunca fiz questão e agora, com a crise, ainda arrepio mais caminho”. A Madalena não se sente mal com esta tomada de resolução. Nem tão pouco a pressão social: “ Hoje em dia já há tantas mulheres a tomarem esta decisão. E a minha não tem a ver com a carreira. Isso resolve-se perfeitamente. Tem a ver com o quero para a minha vida e uma certeza tenho: não quero abdicar daquilo que já conquistei para fazer contas à vida entre fraldas e colégios.”. Ainda assim, sente que a idade a tornou mais “amiga” de crianças, uma empatia que nunca sentiu. Pondera adotar, muito mais do que conceber.

Esse já não é o perfil de Leo que sempre quis ser mãe, mais, sempre quis ter uma família. “Sonhava, sonho ainda, em ter três filhos. Mas ando à procura dos genes certos”. Nas suas anteriores relações, não sentiu que o momento fosse o mais acertado. “ A minha prioridade era a carreira e os namoros eram isso mesmo, apenas namoros. Agora que sinto a minha profissão mais consolidada, quero muito ser mãe, sinto essa urgência porque vejo a idade a passar”. Não é só a Leo que vê a idade passar, à sua volta há uma certa pressão nesse sentido também: “Olham para mim como se fosse um ET porque vivo num país africano onde as mulheres têm filhos muito cedo e a sociedade está muito virada para o conceito de família. Em Portugal, a pressão é feita de uma forma indireta, através de perguntas e sugestões. São estilos e modos de vida diferentes”. A Leo brinca com o assunto e afirma “procura-se homem que queira constituir família” e não um que se proponha apenas a fazer um filho. As outras alternativas para a maternidade estão descartadas para a Leo, pois o seu foco é precisamente ter filhos, mas também ter pais para eles.