Havia imensos. Cavalos, éguas, potros, mulas, burros. Fui caminhando entre eles, despreocupada e sem nada procurar. De repente vi-o. Um cavalo inteiro, lindo, grande. Aproximei-me lentamente. Olhámo-nos. Estranhei a minha atitude destemida, ao começar a tocar-lhe com tanta naturalidade. A minha relação com as marafadas éguas lá da Quinta não é das melhores, por isso aquele meu à vontade com um quadrúpede desconhecido, ainda por cima inteiro, fez-me entender que algo se estava a passar. A suavidade do pêlo, o olhar meigo e a sua atitude tão confiante perante a minha próxima presença, despertaram-me amor.
- Podemos tê-lo?
Foi-me explicado que não como se eu nada mais fosse que uma criança pequena. Entendi. Aceitei. Mas prolonguei o momento.
Acredito na ressonância entre os seres. Numa qualquer vibração, inaudível pelos demais, que soa por dentro dos envolvidos como se, em cada coração, se começasse a ouvir a melodia da essência que o outro emite.
Despedi-me do cavalo sem saber o seu nome. Duvido que o volte a ver algum dia. Mas o que é realmente estranho é não ter chegado a perceber se algum dia o esquecerei.
Ana Amorim Dias
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