Na sua propriedade com mais de quatro hectares, no litoral alentejano, planta numerosas fruteiras que, ao longo do tempo, foi dando a conhecer todos os meses nas páginas da revista Jardins. De origem francesa, J. P. Brigand e a mulher estabeleceram-se em Portugal há mais de 15 anos, atraídos pelo clima. Desde há uma dezena, dedicam-se à produção de frutas muitas das quais pouco conhecidas entre nós. O seu site é de consulta obrigatória.
Conheça agora a história de este apaixonado pelo cultivo de árvores de fruto, em discurso direto. «A cultura de árvores de frutos é uma atividade que me interessa desde sempre. Os meus avós tinham lindos pomares em França, onde passavam muito tempo. Adoro comida e comer frutas. As árvores frutíferas dão uma sensação de abundância. São bonitas para serem contempladas e uma atração para todos os nortistas (da Europa)», refere.
Tem cerca de 400 variedades de árvores de frutos na sua propriedade. Ao todo são, 160 de citrinos, 50 de romãs, algumas macieiras e uma coleção de frutas tropicais, além de um pomar do deserto. «Este ano, as minhas favoritas são os pistácios (Pistacia vera) que florescem pela primeira vez. Nozes de pistácios frescas são uma delícia», confessou em entrevista à publicação em 2011.
Um trabalho que nunca acaba
A sua curiosidade leva-o a fazer pesquisas permanentes sobre variedades adaptadas ao nosso clima e frutos novos. «No mundo, existem 6.000 espécies de frutas comestíveis e o ser humanos tem selecionadas 600 espécies. Geralmente, um pomar elaborado contém 30», explica. «Produzimos para consumo próprio e para os amigos e, atualmente, estamos a pensar para montar um negócio para vender frutas raras a restaurantes inovadores», acrescenta.
Esta sua paixão é tudo menos singular. «A minha mulher Ann e eu somos os criadores do nosso jardim. O nosso projeto é complicado e requer uma logística especial devido à busca de plantas e à irrigação. A grande variedade de plantas requer habilidades que não são comuns. Trabalhamos no jardim todos os dias, exceto em agosto, quando as plantas não crescem», assegura.
As críticas aos arquitetos paisagistas
Não considera, por isso, essencial que um jardim seja planeado por arquitetos paisagistas. «Acho que muito arquitetos paisagistas atuais não estão familiarizados com a botânica, não conhecem a história dos jardins no sul. Por exemplo, relva e caminhos sinuosos, com três alfazemas, não devem existir aqui. Tenho mais admiração por um velho camponês com uma horta arrumada», admite.
Porquê? A pergunta impõem-se. «Olhe para a riqueza dos jardins portugueses tradicionais. Os seus perfumes, os seus azulejos, as suas pérgolas, as suas plantas, o entendimento do uso da água... Por que reduzir um jardim a um quadrado verde improdutivo?», questiona «É inapropriado», opina, indignado, J.P. Brigand.
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Os jardins preferidos e os utensílios de jardinagem mais usados
Os jardins públicos da sua preferência em Portugal são o do Palácio Nacional de Queluz e os de duas quintas de Santiago do Cacém, o da Quinta dos Olhos Bolidos e o da Quinta de São João. «O Palácio de Queluz tem um jardim maravilhosamente concebido, as escadas são maravilhosos», considera. «O trabalho de azulejos, a sua cor e os seus temas são excecionais», elogia ainda.
A mulher acompanha-o nesta admiração. «Temos uma paixão por azulejos e muita pena por estarem a desaparecer dos jardins modernos. As quintas de Santiago do Cacém representam os restos de um milénio, o conhecimento de um verdadeiro património Português. Estes jardins foram paraísos no século XVIII. Não esqueceram o conhecimento árabe, nomeadamente nos terraços, na irrigação, nos perfumes e no jogo das sombras», sublinha.
A ajuda da internet
No estrangeiro, os mais interessantes, na sua opinião, localizam-se em Granada e em Sevilha, em Espanha. «Há uma continuidade da identidade cultural em todos. O clima da península do sul e da costa de Marrocos», assume. No que se refere a utensílios de jardinagem, as utilizações justificam as preferências. «Uso muito as tesouras de poda quando estou a jardinar», admite J.P. Brigand.
«Temos um monte de ferramentas de corte porque a vegetação é exuberante na época das chuvas. Compramos as plantas em toda a Europa e as sementes por todo o mundo. Semeamos, fazemos as nossas estacas, os nossos transplantes. Trocamos plantas com jardineiros amigos», revela. As compras diárias para o jardim são feitas em centros de jardinagem.
«Infelizmente, esses centros nos últimos anos estão cheios de plantas industriais do norte da Europa, que não são adequadas ao clima português», critica J.P. Brigand. «Frenquentamos o Espaço Sudoeste em Vila Nova de Milfontes, a Sulflor em Moncarapacho e a Graines Baumaux na internet», enuncia. A internet acaba mesmo por ser uma referência que se tem revelado preciosa em diversas situações.
«Somos membros do Californian Rares Fruits Growers, que é muito útil para o nosso clima. Aconselho também o site Davesgarden, em inglês, porque é um dos melhores sobre as nossas plantas», sugere ainda o antigo colaborador da revista Jardins, a revista de jardinagem mais lida em Portugal, que em meados de março de 2017 lançou o seu vlog.
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