O parque não estava completamente cheio. Avistei um lugar apetecivelmente central, prestes a vagar, e fui-me a ele. Tive que dar a volta porque era proibido seguir em frente. Coloquei-me na posição correta para estacionar, sem estorvar o condutor que estava a sair, e dei o pisca.
Depois deixei de ver!
E não, não foi uma quebra de tensão. Foi um espertinho palerma que veio em sentido proibido e, sem querer ver o meu pisca, me "comeu" o lugarito.
Até há alguns anos eu tinha a mania de corrigir os outros. Depois fui mãe e comecei a pensar que a minha responsabilidade de educar e civilizar existe apenas perante os dois seres que gerei, por mais ninguém.
Deixei de armar cenas, ripostar ou tentar chamar animais à razão. Não têm educação? Azar. O problema não é meu.
Continuei com o pisca ligado enquanto o tal casal saía do carro.
Abri o vidro.
- Olhe, desculpe: veio por sentido proibido, viu?
Ignoraram-me.
Se eu fosse uma incomodativa mosca a zumbir-lhes num almoço de verão talvez me tivessem enxotado. Mas naquela situação? Nada!
Fui à minha vida, irritada, depois de estacionar noutro sítio. Cabe-nos ou não a responsabilidade de civilizar as bestas com que nos cruzamos? Devemos explicar como se devem comportar em sociedade, mesmo tendo a certeza que conhecem as regras básicas e optam por ignorá-las?
A minha vontade foi a de ir atrás deles e passar-lhes uma rasteira, como fazem os putos reguilas. Mas estaria apenas a ser igual a eles. Contudo obriguei-me a rever a minha opção de inércia ao longo dos últimos anos. Teremos mesmo apenas responsabilidade em formar civicamente os nossos descendentes? Será que a opção de deixar que as manifestações de má educação proliferem não é, só por si, um desleixo conivente? E como se deve proceder para ser eficiente nesta demanda? Agir de igual forma ou repreender com irritação não me parece boa opção. Talvez o sarcasmo de um simpático: "Obrigada por me ter ficado com o lugar!" seja mais produtivo.
Não sei. Mas vou experimentar.
Ana Amorim Dias
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