Entram nas lojas já com um pé atrás porque não gostam do olhar que lhes lançam. Tanto das lojistas como das outras consumidoras. Diferentes? Nem por isso. Vestem números a partir do 44 e continuam a não superar o preconceito de ser uma mulher “plus size”.
Não se trata de pura especulação, Os números não mentem. Um estudo recente do jornal Daily Mail concluiu que 44 por cento das mulheres inquiridas – ao todo 2 mil - afirmaram terem sido desprezadas pelos vendedores de lojas mais chiques e 38% sentiram-se mal porque nada do que provaram lhes assentou.
Ir ás compras parece não ser o sonho de todas as mulheres. Aliás, para Ana Sofia, 28 anos, é um verdadeiro pesadelo: “Não gosto, porque sei que uso o 46 e nada me vai ficar bem. E as lojistas olham para mim ora com pena, ora com ares de superioridade. Não gosto nem de uma, nem de outra atitude. Quero passar despercebida, não chamar a atenção e comprar o que me apetece, sem olhares alheios.
O seu desabafo não é solitário, O mesmo estudo revela que uma em cada 10 diz ter vergonha de pedir roupas do seu número e 37% revelaram sentir-se desconfortáveis ao tirar a roupa no provador. Intimidadas pelos empregados de lojas, elas temem também o olhar de outras compradoras com corpos de top model. “Já não basta terem o corpo que têm e ainda desfilam pelas lojas olhando com desdém o resto do mundo. Cada calça delas dá para uma manga da minha camisa, mas porquê o ar arrogante?”, refere Rosa que está a fazer um programa de emagrecimento intensivo, de forma a poder comprar em outras lojas que não as especializadas em números grandes. “Bem sei que já há lojas para plus size, mas entrar nelas já é uma forma de estarmos a ser postas de lado. Como se houvesse uma divisão social, lojas de acordo com raça, peso, altura…”, remata.
Ana Dias, psicóloga, adverte que esta não é a postura ideal e que há sempre tendência para estes exageros: “A mulher que não se sente bem com o seu corpo, não se sente bem em lado nenhum. Não é só a fazer compras. É no seu dia-a-dia e na sua intimidade, mas não pode culpar o mundo por isso. Tem é de mudar o que não gosta de se ver em si”. Por outro lado, adianta que “ as lojas que têm roupas plus size vieram colmatar um nicho de mercado e ninguém tem de se sentir mal por frequentá-las. Os corpos são diferentes e as roupas têm de se ajustar ao nosso perfil, físico e psicológico.
Raquel é lojista de uma reconhecida marca do mercado vocacionada para tamanhos grandes e já se deparou com todos estes cenários: “Há mulheres muito bem resolvidas e que são um exemplo de atitude e de boa disposição. Entram, sabem o que querem, experimentam e compram. Outras ficam a olhar de lado os manequins, depois pedem a nossa ajuda, depois já não querem, enfim apercebo-me facilmente que não se sentem bem com o seu corpo, o que as impede de olhar com imparcialidade e escolher o que lhes assenta melhor”. Confrontada com o facto da postura arrogante que algumas lojistas assumem, Raquel sorri, “Também sou consumidora e nem sempre estou deste lado do balcão. A verdade é que existe arrogância em todo o lado e ela até pode existir nas lojas de griffe, mas a verdade é que quem compra nessas lojas de marca nem sempre tem corpo de modelo...O respeito tem de estar acima de tudo. Ah e o amor próprio também, seja qual for o nosso tamanho.”
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