O mundo dos vinhos continua dominado em número pelos homens, mas as poucas mulheres que provam para depois contar em ‘sites’ e blogues na Internet garantem que não têm papéis secundários, nem procuram só o público feminino.

O título ‘Copo de Salto Alto’ não deixa dúvidas sobre o género de quem escreve.

Carla Reis trocou um blogue coletivo, com orientações pré-definidas, por um com que se pudesse “identificar completamente e expandir a identidade enquanto blogger” .

Carla é mulher, mas a escrita e as referências “não são exclusivamente voltadas para o público feminino”.

“A ideia do blogue é ser, sim, uma palavra feminina na blogosfera vínica, mas não exclusivamente para este público”, conta a blogger, que tanto quer chegar ao “consumidor de ocasião” como ao “reconhecimento por um enófilo mais experiente”.

Carla assume ter tido sorte: “A maior parte dos homens com quem tenho tido contato aceitam-me neste universo, ou pelo menos fingem-no razoavelmente bem”.

Enquanto consumidora, prefere um “vinho bem feito, que proporciona prazer em prova e tenha um valor coerente”.

Para definir uma boa provadora não profissional, aponta várias características: “Curiosidade, humildade, sensibilidade, memória olfativa, autodidatismo, mesmo que tenha alguma formação técnica, e uma grande paixão pelo vinho e ao que lhe é associado”.

Já Ema Martins apaixonou-se pelo mundo do vinho depois de fazer enoturismo com o marido e perceber que a informação na Internet era “mínima, de fraca qualidade e sem qualquer tipo de organização e interligação”.

Nas suas viagens, o casal também concluiu que havia extremos: uns viviam este mundo de forma demasiado formal e outros associavam o vinho a bêbados das antigas tabernas.

Para desmistificar, além de divulgar o produto português, os dois criaram o site ‘Magna Casta’.

“A maioria das pessoas continua a ser masculina, mas as mulheres cada vez mais vão marcando a sua posição”, garante Ema, que tem a ideia de que homens respeitam a opinião das mulheres.

“Tenho ideia que sim, mas se não respeitarem, quem se importa com isso? Eu não”, diz.

Ema “devora” tudo o que pode sobre o tema e soma formações para perceber melhor o vinho e toda a linguagem técnica associada.

Como certezas, afirma que “sem boa uva não se faz bom vinho” e que uma boa provadora precisa seguir sempre as mesmas regras e ignorar os fatores externos ao vinho. “Quanto mais vinho provar melhor provadora se irá tornar”, ensina.

Celma Carreira é outra das mulheres no mundo virtual dos vinhos através do site ‘E tudo o vinho levou’.

Três dias foram suficientes para o blogue se tornar num “site completo” e escrito numa “linguagem de quem percebe pouco de vinhos, mas que os adora beber e partilhar com todos essas experiências”. Se um enólogo ler, o mais provável é “ter um ataque de riso ou ficar furioso”.

“Mas isso pouco importa”, assegura, admitindo que o mundo vínico é “predominantemente masculino”, como mostra o número de homens nas provas, mas a mulher não tem o papel de ’atriz secundária’.

“Apenas estamos em número menor! Se olharmos para a moda, o mesmo acontece, porém com os homens”, lembra Celma, para quem um bom vinho é “difícil descrever com palavras”, mas é aquele que “ateia a paixão” e motiva “entusiasmo”, havendo ainda que ter em conta os custos.

“Uma boa provadora? Ora, essa já uma questão mais difícil”, começa Celma, para concluir que importante é “não se deixar levar por outros e não falar por falar”.

“O resto vem por acréscimo e pela ética de cada um e, neste caso, de cada uma”, remata.

Lusa