Vanessa Oliveira, investigadora pós-doutorada na Unidade de Imunologia Celular do Instituto de Medicina Molecular (IMM), venceu um concurso internacional para estudar problemas imunitários no tratamento para a hemofilia.
Foi a única investigadora na Europa a vencer um financiamento nesta ronda.
Doutorada em Imunologia em 2006 pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, tem desenvolvido trabalho experimental direcionado para a utilização de anticorpos monoclonais na indução de imunotolerância. O prémio associado ao prestigiado e competitivo galardão Early Career Bayer Hemophilia Award premiou apenas 5 investigadores em todo o mundo e vai ter cerca de 170.000 € para desenvolver o seu projecto durante 2 anos.
Este galardão permite-lhe continuar a desenvolver uma estratégia de reprogramação do sistema imunitário dos doentes com hemofilia, para evitar a rejeição à terapêutica de coagulação existente e mais utilizada em todo o mundo. Caso tenha sucesso, os resultados desta investigação básica, realizada em laboratório, poderão ter um impacto positivo no futuro tratamento de doentes que sofrem de hemofilia, que em muitos casos desenvolvem uma resposta imunitária de rejeição ao fator coagulante terapêutico de que necessitam para levar uma vida normal.
O projeto vai ser desenvolvido integralmente em Portugal, na Unidade de Imunologia Celular do IMM, liderada pelo investigador Luís Graça. Por ser uma doença genética ligada ao cromossoma X, a hemofilia manifesta-se habitualmente na infância, afetando sobretudo rapazes. A terapia atual mais eficaz consiste em administrar aos doentes fatores de coagulação recombinantes, produzidos em laboratório, como forma de compensar a inexistência de produção pelos doentes.
Infelizmente, em cerca de um terço dos doentes a quem são administrados estes fatores de coagulação terapêuticos, desenvolve-se uma resposta imunitária contra o próprio medicamento, que é identificado como estranho ao próprio organismo. Como resultado, os fatores de coagulação são destruídos e o tratamento falha.
Apesar de já terem sido desenvolvidos alguns métodos para impedir esta resposta imunitária indesejada, até ao momento, nenhum se mostrou satisfatoriamente eficaz. O que Vanessa Oliveira se propõe agora fazer é investigar as razões para a limitada eficácia destes métodos e, partindo desta informação, desenvolver novas estratégias para induzir a tolerância dos doentes aos factores de coagulação terapêuticos.
Os seus resultados preliminares sugerem que é possível desenvolver um tipo de vacina que em vez de estimular a resposta imunitária, vai impedir que o sistema imunitário responda contra as proteínas presentes nesta vacina. Este é ainda um projeto de investigação básica, realizado em laboratório recorrendo a um modelo animal de hemofilia (ratinho). Caso os resultados sejam promissores, a investigação deverá prosseguir com a validação dos resultados em estudos clínicos.
Desde 2002 que o Bayer Hemophilia Awards (BHA) atribui bolsas até 100.000 dólares por ano (num período máximo de dois anos) a investigadores, médicos e todos os profissionais de saúde que trabalham com a hemofilia, com um foco na investigação básica e clínica, para a melhoria do tratamento e da educação em hemofilia. Até à data, o programa já premiou 176 candidatos e, dos projetos patrocinados pela BHA, resultaram 82
publicações e 100 abstracts.
06 de julho de 2011
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