Inês Neto dos Santos, uma artista multidisciplinar nascida em Lisboa em 1992, atualmente a viver em Londres, em Inglaterra, onde completou um mestrado em comunicação visual no prestigiado Royal College of Art, incorpora regularmente comida nos trabalhos artísticos que desenvolve, uma forma de aproximar a sua arte dos que a admiram. "O ato de comer e cozinhar é como uma linguagem universal", justifica a criativa portuguesa.
"É uma linguagem que todos falamos e entendemos. Sendo algo que, no fundo, todos temos em comum, consegue ser também uma base para abordar assuntos sobre os quais talvez não falemos no dia a dia ou sobre os quais não tenhamos o mesmo conhecimento", considera Inês Neto dos Santos. Em entrevista à segunda edição da Nativa, a revista da Esporão, empresa produtora de vinhos e azeites, a artista explica essa opção.
"Durante muito tempo, quis aliar o meu interesse pela alimentação à minha prática artista mas não sabia como", confidencia. "Foi durante o meu mestrado no Royal College of Art que [o] decidi", recorda.
"Comecei por organizar jantares mensais na universidade com temas sobre os quais desenhava, cozinhava um menu e criava um ambiente correspondente", refere ainda. Num ápice, passou a ser (re)conhecida. "Os jantares geraram algum interesse e começaram a ser um projeto de colaboração com outros colegas artistas", afirma Inês Neto dos Santos.
De um momento para o outro, além dos jantares, também já organizava(m) exposições temáticas e workshops comestíveis. À medida que o tempo foi passando, começou também a recorrer mais à fermentação. "Trabalhar com elementos perecíveis ou comestíveis num contexto artístico significa que o meu trabalho se move constantemente numa dança de aparece e desaparece, por ser ingerido e por perecer", refere a artista multidisciplinar.
"A fermentação ofereceu-me uma hipótese de maior longevidade e de menos desperdício", assegura. "Vi na fermentação lindíssimas métaforas para uma verdadeira conexão com o que nos rodeia", admite ainda Inês Neto dos Santos. "A fermentação mostra-nos a necessidade de respeitar o tempo. Mostra-nos a importância da desacelaração no atingir de um equilíbrio entre nós próprios e o que nos rodeia", sublinha a criativa portuguesa.
"Quando fermentamos, não existe um botão de fast-forward [avanço rápido]", sublinha Inês Neto dos Santos, autora de alguns dos trabalhos que pode ver na galeria de imagens que se segue. "Há qualquer coisa de mágico e transcendente na fermentação. Juntas farinha e água à temperatura ambiente e, dias depois, tens uma massa borbulhante, cheia de vida", refere ainda a artista plástica em entrevista à publicação da Esporão.
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