“- Como é que se esquece alguém?”. A pergunta, curta na formulação, encerra um mundo de respostas. É a partir desta viagem de revelação e de esquecimento que o escritor Raul Minh´Alma tece um enredo com mais de 300 páginas e onde dá voz a Alice, Gustavo e a um misterioso Artur. “Ganhei uma vida quando te perdi”, lançado no final de 2019 é o quinto romance de Pedro Miguel Queirós, 27 anos, natural de Marco de Canaveses, nascido para o sucesso nos escaparates nacionais, em 2016, com o pseudónimo de Raul Minh´Alma. Nesse ano, o autor lançou um sucesso de vendas, “Todos os dias são para sempre” e não mais parou no seu percurso literário.
Em conversa com o SAPO Lifestyle, Raul Minh´Alma, fala-nos do amor, da diferença deste para o apego, das prisões que construímos em torno dos afetos e de como gosta de escrever no papel de mulher: “porque acho um ponto de vista mais interessante”.
Um autor que dissocia o seu “eu” daquilo que escreve, embora tenha na perceção do que o envolve a matéria-prima para o transporta para os seus livros. Para Raul, palavras como “autoajuda” e “amor-próprio” deveriam proliferar: “seríamos, com certeza, uma humanidade mais saudável e mais feliz”.
O autor de “Foi sem querer que te quis” (2018), seria incapaz de escrever uma história de amor onde o personagem aguarda 20 anos pela sua cara-metade: “não te preocupes em desperdiçar 20 anos à espera de uma pessoa que pode nunca voltar”.
Os relacionamentos e o amor, ou talvez a falta dele, são os seus temas de eleição. Sendo ainda jovem, esse conhecimento é fruto de experiência pessoal?
É impossível dissociar as minhas experiências pessoais da minha perceção da vida. Contudo a minha escrita não é baseada em mim. Não escrevo sobre mim porque também não escrevo para mim. Eu escrevo para as pessoas, logo é sobre elas que tento falar. O meu conhecimento vem, por isso, dos muitos relatos que ouço, muitas histórias que vejo, e das muitas e muitas horas que eu passo a estudar as temáticas que abordo. Que vão desde a psicologia e o comportamento humano até à física quântica e ao entendimento do universo.
Diria que o sucesso que obtém reflete, também, uma sociedade ávida de amor?
Ávida de amor, mas acima de tudo de conforto, de compreensão e de luz. Cada vez mais me apercebo da falta de conhecimento que temos sobre os sentimentos, sobre a inteligência emocional e sobre como deve ser um relacionamento saudável. Penso que o grande mal das pessoas em geral seja a falta deste conhecimento. Porque quando percebemos que amar é querer que a outra pessoa seja feliz, seja connosco ou não, percebemos que, afinal, aquilo que sentimos não é amor, é apego. Porque o apego é querer que a outra pessoa me faça feliz. O apego é uma dependência profunda que só nos traz sofrimento. Ou seja, quando muitas vezes dizemos “eu amo-te” na verdade estamos a dizer “eu amo as sensações que tu me proporcionas”. Quem ama pássaros, não prende pássaros. Porque se os amassem deixavam-nos livres a voar no seu habita natural. São estas pequenas coisas que eu tento passar à humanidade, mas vejo que é um caminho muito difícil de fazer.
Houve muita gente que me disse que os meus livros foram os primeiros que compraram na vida. Pessoas com mais de 20 e 30 anos.
Neste último livro, o narrador é uma personagem feminina – Alice - foi difícil imaginar-se na pele de uma jovem mulher, perceber as suas angústias e anseios?
Neste romance e no anterior, eu interpretei personagens femininas. Mas nos livros anteriores também o fiz por diversas vezes. Eu gosto de escrever no papel de mulher porque acho um ponto de vista mais interessante. E dá-me uma liberdade maior para explorar um maior leque de emoções e sensações. Como eu sempre estudei a mente feminina e sempre me interessei por entender as mulheres, por mim acaba por ser relativamente fácil. A parte mais difícil foi mesmo alguns pormenores relacionados com os hábitos femininos que me obrigou a fazer algumas “entrevistas” a mulheres para entender como fazem.
Porque quando percebemos que amar é querer que a outra pessoa seja feliz, seja connosco ou não, percebemos que, afinal, aquilo que sentimos não é amor, é apego.
Tem noção de quem é o seu público? Pelos comentários que li, diria que são sobretudo mulheres jovens…
O meu público são sobretudo mulheres entre os 30 e 40 e só depois mulheres entre os 20 e 30. Quanto ao público masculino é menos de 10%. Mas felizmente a minha escrita consegue ser transversal a várias faixas etárias. Contudo, quanto mais cedo se aprender aquilo que explico nos livros, melhor. Por isso os meus livros são aconselháveis a adolescentes também.
Li numa sua entrevista que, nos livros, tem sempre como objetivo transmitir uma mensagem positiva, de força e de coragem. Revê-se como autor de livros de autoajuda?
Os termos “autoajuda” e “amor-próprio” acabaram por ganhar uma conotação negativa no passado recente pela sua proliferação. Contudo, e ainda assim, é uma proliferação que só peca por escassa. Seríamos, com certeza, uma humanidade mais saudável e mais feliz se tivéssemos muitos destes conceitos apreendidos.
Eu não escrevo livros de autoajuda, eu conto histórias. Contudo, no meio delas, transmito ensinamentos e mensagens que são dentro dessa linha da autoajuda e do amor-próprio. É como se fosse um dois em um. Ao mesmo tempo que o leitor está a ler uma bonita história de amor, está também, e muitas vezes sem se aperceber, a receber mensagens subliminares que o tornarão uma pessoa melhor no final da leitura.
Muitos dos comentários dos seus leitores referem que os ajudou a pensar nas suas próprias vidas e a tomar algumas decisões. Quando escreve pensa no peso que as suas palavras podem ter na vida das pessoas? Acredita que como escritor, ainda mais sendo um autor de sucesso, tem uma responsabilidade acrescida na sociedade?
Sim, penso nisso e sei que é uma responsabilidade muito grande e gostava que fosse uma preocupação de todos os escritores, cantores e artistas em geral.
Eu poderia escrever muitas outras histórias incríveis de amor, mas estaria a passar mensagens que eu entendo que não seriam as melhores para a humanidade. Eu sentir-me-ia incapaz, por exemplo, de escrever uma história em que o personagem decide esperar 20 anos pela pessoa amada que o trocou por outro, mas que se reencontram esse tempo todo depois e reacendem a paixão. Sim, até pode ter um final feliz, mas eu estaria a dizer às pessoas algo como “não te preocupes em desperdiçar 20 anos à espera de uma pessoa que pode nunca voltar, porque quem sabe te pode acontecer o mesmo que aconteceu no livro”. Não vale tudo para criar uma boa história porque, parecendo que não, estamos a influenciar dezenas de milhares de vidas.
Num país cujos índices de leitura e venda de livros são tão baixos, como se consegue ser um autor bestseller? Há alguma receita para o sucesso?
Houve muita gente que me disse que os meus livros foram os primeiros que compraram na vida. Pessoas com mais de 20 e 30 anos. Isto é dramático, mas por outro lado leva-me a pensar que, afinal, os leitores existem, o que não existe, talvez, são autores capaz de os cativarem a ler.
Eu tenho feito a minha parte e sei que muita gente começou a ler depois dos meus livros porque são eles próprios que me dizem. Mas se há alguma receita no meio disto tudo, é talvez o facto de eu escrever para as pessoas e a pensar nelas. E sei que elas reconhecem isso quando estão a ler uma obra minha.
Que livros ou autores gosta de ler? Tem algumas referências em termos literários?
Confesso que, pelo menos literariamente, nunca fui de referências, nem de ídolos. Há apenas autores que leio mais do que outros e não propriamente porque goste mais. Mas respeito todos os autores e todos os géneros. Quando era mais novo lia mais policiais, hoje em dia procuro mais obras de desenvolvimento pessoal que acrescentem algo e que me deem ferramentas para continuar a criar obras que nos ajudem a evoluir enquanto humanidade.
Entrevista conduzida por Isabel Reis
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