Fiquei calada. Muda. Seca de palavras. Respirei fundo três vezes e comecei a costurar a resposta.

"Não. Claro que não. Casei com um gajo rico que me sustenta por isso faço o que me apetece."

Não era justo. Porque haveria de mentir? Afinal a pergunta até é legítima.

“ Ganhar a vida a escrever?” podia eu responder com uma sonora gargalhada. E depois calava-me. A irónica risota seria, por si, a resposta.

Mas não sinto vontade. Nem de rir nem de ser irónica.

"Não. Ganho a vida a fazer outras dez coisas diferentes; a trabalhar como uma doida em certas alturas para conseguir pagar as contas e guardar algum tempo para mim, para o que amo fazer."

Aqui estaria um pouco mais próxima da verdade. Mas ainda assim muito longe. Não seria justo. Tenho que ser verdadeira.

"Sabes, rapaz? Sim, ganho a vida a escrever. Mas não te confundas. Pago as contas com o fruto dos meus trabalhos que nada têm que ver com a escrita. E no entanto a vida, ganho-a todos os dias… enquanto escrevo."

Aí tens a resposta.

Um forte abraço a todos,

  
Ana Amorim Dias